Ernesto Fagundes: um alegretense de marca e sinal

Especial conta um pouco da trajetória do ilustre alegretense.

Ernesto como o companheiro inseparável
Ernesto como o companheiro inseparável

Uma terça-feira nublada, passava das 15h, e o alegretense Ernesto Fagundes acabara de aproveitar uma sesta. A entrevista agendada se proporcionou por uma visita do músico à sua terra natal.

A noite reservava uma linda homenagem aos 40 anos do Canto Alegretense. A conversa foi numa mesa do Bistrô Alegrete, regada a um cafezinho servido no capricho pelo gentil atendente. A bebida quente aqueceu a conversa com o instrumentista que falou de sua vida pessoal e do encanto pela cidade que aprendeu a amar desde guri.

Ernesto Vilaverde Fagundes, nasceu no dia 18 de janeiro de 1968, hoje aos 53 anos é produtor, cantor, instrumentista e pai. Casado e radicado em Porto Alegre, Ernesto tem três filhos.

O alegretense conta que começou sua carreira profissional aos 8 anos de idade, apresentando-se no CTG Vaqueanos da Fronteira, onde executava a tradicional dança da chula.

No Alegrete recebendo o troféu de Chula da Campereada nas mãos do tio Nico Fagundes
No Alegrete recebendo o troféu de Chula da Campereada nas mãos do tio Nico Fagundes

Pouco tempo depois, passou a acompanhar o pai em festivais nativistas, tocando bombo legüero. Em 1985, foi para a capital do Estado junto com a família. O pai Bagre Fagundes foi para Epatur no governo Alceu Collares e com os estudos completos no Oswaldo Aranha, maior de idade, Ernesto não titubeou, foi morar em Porto Alegre.

Lá terminou seus estudos secundários e daí em diante a música lapidou o artista que mergulhou de cabeça no mundo nativista. Junto com o pai, tio Nico e os irmãos Neto e Paulinho fizeram a gravação do LP Fagundaço.

Foi em 1995, que gravou seu primeiro disco individual, intitulado Ernesto Fagundes. Dois anos mais tarde, lançou o álbum Guevara Vivo, em homenagem aos trinta anos da morte do revolucionário Che Guevara.

Álbum este que levou Ernesto a cantar para mais de 50.000 pessoas no Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Em 1995 lançou seu primeiro CD solo, e a partir daí mais dez trabalhos individuais, entre CDs e DVDs, além dos álbuns em que atua ao lado do pai e dos irmãos no grupo Os Fagundes.

Instrumental com o irmão Paulinho Fagundes
Instrumental com o irmão Paulinho Fagundes

Ernesto Fagundes foi um dos artistas brasileiros convidados da Festa Nacional do Chamamé em Corrientes na Argentina. Também participou do show de abertura do 5º Festival Internacional Sesc de Música em Pelotas ao lado do violonista Yamandu Costa e da Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro, regida pelo Maestro Antonio Borges Cunha. Ainda em 2015, participou, em São Paulo, do Concerto Fronteira com Yamandu Costa e a Orquestra Mato Grosso, e, junto com Os Fagundes realizou 10 shows na Itália no projeto Caravana Chamamecera.

Cidadão porto-alegrense, ele relembra de um momento inédito que foi tocar seu Bombo Leguero na Bienal da música contemporânea no Rio de Janeiro, composição Tempo e Memória do maestro Antonio Borges Cunha.

Representou o Brasil em Buenos Aires no Projeto Triple Frontera, na capital Argentina. Descreve a apresentação ao lado de Yamandu Costa e a Orquestra Filarmônica de Calgary no Canadá regido pelo maestro Roberto Minczuk como inesquecível.

Em Monte Carlo com Yamandu Costa e a Maestrina Alondra de La Parra
Em Monte Carlo com Yamandu Costa e a Maestrina Alondra de La Parra

Ernesto apresentou o Concerto Fronteira com Yamandu Costa no Principado de Mônaco acompanhado da Orquestra Filarmônica de Monte Carlo com regência da maestrina mexicana Alondra De La Parra. Em 2018 a série de TV Tá no Sangue foi lançada em DVD. Em janeiro e fevereiro de 2019 participou do Verão Gaúcho com Os Fagundes no litoral norte. Em maio tocou o seu Bombo Leguero no Encontro de Gerações na Música Instrumental Brasileira no teatro Sérgio Cardoso em São Paulo. Em outubro de 2019 canta acompanhado da Orquestra Filarmônica de  Santa Maria em homenagem ao poeta  Antonio Augusto Ferreira.

Indagado porque o Canto Alegretense faz tanto sucesso ao redor do mundo, ele destaca que a canção traz um forte valor sentimental em cada verso. “Amor à terra”, sintetiza. Ernesto conta que aprendeu a amar a cidade desde guri. – O pai sempre quando cruzavamos a Ponte do Itapevi mandava nós fazer o sinal cruz, dizendo: Façam o sinal do cruz que estamos entrando no solo sagrado. E assim foi essa devoção por Alegrete”, relembra.

Ernesto compara Alegrete como a Meca para os muçulmanos, cada vinda à cidade natal é uma reenergização, abastece a alma e alegra o coração, resume o músico. Ele conta que os Fagundes devem muito a música à família Vilaverde. Essa união da família é resumida a cada encontro regado a muita conversa e cantoria.

Ernesto conversando com o pai e o Tio Nico
Ernesto conversando com o pai e o saudoso Tio Nico

Percursionista nato, Ernesto começa a repicar na mesa e cantarolar em alto e bom tom:

Se vai passar no Alegrete
No começo ou no fim
Quando cruzares a ponte
Atira um beijo por mim
Manda esse beijo, parceiro
Nas pétalas de alguma flor
Levando a minha saudade
Nas asas do meu amor

Lá no Alegrete, parceiro
Verás um povo feliz
Nas barrancas do meu rio
De pedras e sarandis
Bombo no peito e cantando
Quem sabe um verso que eu fiz

Meus amigos que se foram
Um dia eu hei de encontrar
Cada vez que eu lembro deles
Voltam no vento a cantar
E aquela menina linda
Que foi meu primeiro amor
Viverá em dó maior
Na garganta de um cantor

Lá no Alegrete, parceiro
Verás um povo feliz
Nas barrancas do meu rio
De pedras e sarandis
Bombo no peito e cantando
Quem sabe um verso que eu fiz
.

A canção de composição própria ao lado da família, foi feita nos momentos de saudade do Alegrete. Ernesto é um autêntico músico, compositor e cantor da música regional gaúcha e instrumentista de bombo leguero. Se especializou no instrumento e introduziu na música regional.

O guri do Alegrete, colorado nato guarda na memória os tempos de Oswaldo Aranha e da Igreja Metodista seu primeiro palco. A ida a muitos países não tem o mesmo sentido de quando vem à Fronteira, revela o músico. Ernesto enche o peito de gratidão e os olhos não escondem as lágrimas. – Gosto de retornar a Alegrete. Aqui é meu chão.

Ernesto Fagundes tocando Lá no Alegrete
Ernesto Fagundes tocando Lá no Alegrete

Fotos: acervo pessoal

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