Técnicos que estão no local irão retirar os 2 últimos contêineres de entulhos.
Incêndio na casa noturna em janeiro de 2013 causou 242 mortes.
A limpeza do prédio da boate Kiss deve terminar nesta terça-feira (9) em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. Ainda pela manhã, os técnicos que estão no local irão retirar os dois últimos contêineres de entulhos. O material vai ser encaminhado a um aterro especial em Capela de Santana, no Vale do Caí. A tragédia na madrugada de 27 de janeiro de 2013 matou 242 pessoas.
Na segunda-feira (8), os técnicos da empresa responsável pelo trabalho e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) fizeram a chamada limpeza fina: passaram panos com detergente nas paredes, no chão e no teto. O local ainda deve passar por uma vistoria da Justiça.
De acordo com a Justiça, os objetos das vítimas, como sapatos, bolsas, peças de roupas e aparelhos de celular, serão novamento triados nesta terça (9). O mesmo ocorrerá com documentos, chaves e demais itens, que seguem recolhidos e armazenados dentro do prédio desde o incêndio de janeiro de 2013.
Quando a limpeza for finalizada, os objetos das vítimas vão permanecer no interior da boate. Os pertences só serão devolvidos aos familiares após a devida descontaminação. São mais de 360 calçados, roupas e celulares.
De acordo com os responsáveis pela limpeza, a previsão é de que o quinto contêiner seja suficiente para a remoção de todo o material na estrutura interna da Kiss. Com a finalização do trabalho de limpeza, uma estrutura de lona instalada em frente a boate deve ser desmontada e o prédio devolvido à Justiça. Antes, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e um representante da Justiça devem realizar uma vistoria. A conclusão também irá permitir novamente que pedestres utilizem a calçada na Rua dos Andradas.
“Terminado o serviço interno, nós começamos a mexer na estrutura externa. Então, deve chegar amanhã o pessoal para começar a desmontagem”, disse Adauto Mello, atual administrador do prédio. O processo de limpeza entrou no sexto dia nesta segunda.
A Justiça ainda não confirmou se haverá uma reconstituição da noite da tragédia após a limpeza. Sobre o futuro do prédio, o juiz Ulisses Louzada informou que a decisão só deverá ser tomada quando o processo criminal for finalizado.
O trabalho começou quase dois anos depois do incêndio. Um equipamento foi instalado para puxar o ar de dentro do prédio porque faz muito calor no interior do local. Ainda há fios de energia pendurados e restos de espuma pelo local. A queima da espuma do teto da boate, que liberou uma substância tóxica, foi apontada como uma das principais causas para o elevado número de mortes. A fachada da casa noturna foi pintada de branco para evitar que haja contaminação através da parede. A calçada também foi reformada.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de “dolo eventual”, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio do ano passado.
Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
No dia 5 de dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à prefeitura.
Fonte: G1