Mãe, o supremo exercício de amor, doação e superação

A historia da criação do Dia das Mães começa nos Estados Unidos, em maio de 1905, em uma pequena cidade do Estado da Virginia Ocidental. Foi lá que a filha de pastores Anna Jarvis e algumas amigas começaram um movimento para instituir um dia em que todas as crianças se lembrassem e homenageassem suas mães.

É uma das datas mais celebradas no calendário. Quis a história que no ano de 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus, o segundo domingo de maio será diferente de todos os outros. Num momento de incertezas e isolamento social, muitos filhos estão longe de suas mães e até impedidos de dar um abraço em suas genitoras por conta do vírus mundial que se alastra em todo mundo.

O Portal de Alegrete Tudo, dentre as pautas selecionadas pela redação para este domingo, 10 de maio, traz mais uma história, ou melhor um “milagre”, como a protagonista desta história.

A alegretense Ana Carolina Houyaek Grierson, hoje com 38 anos, é daquelas mulheres que carrega um sentimento inexplicável de maternidade.

Em 2014, morando em Brasília, ela teve sua primeira filha e passou por uma provação. Hoje mora em sua cidade natal com a pequena Alice, onde desempenha sua atividade profissional. A história a seguir é contada pela personagem central embargada de emoção, muita lágrima e também muito sorrisos.

O início de tudo

O milagre de Deus que ela conta aconteceu na vida dela e da filha. Grávida com 32 anos, residindo em Brasília, a alegretense teve uma gestação maravilhosa, com todos os cuidados necessários. Com 38 semanas e meia, a bolsa rompeu e o tão esperado nascimento da Alice, passou por um grande susto.

No hospital (HRAN) em Brasília, Ana Carolina foi atendida pelo primeiro médico, passado pelos exames necessários e a realização de uma ecografia.

Na sala da Eco, apareceu um segundo médico atendente. O resultado do exame constatou uma ruptura superior traseira do útero. “Ele apenas constatou que tinha líquido para continuar a gestação, assim levando a crer que eu estava no hospital para conseguir uma cesariana gratuita”, relembra a alegretense, que vai às lágrimas cada vez que relembra a história.

A alegretense foi liberada e retornou para casa. “Eu não sentia dor nenhuma. Mas sabia que algo estava errado porque a quantidade de líquido foi grande”, descreve.

Era uma segunda-feira, 22 de setembro do ano de 2014. Ela passou a semana inteira em casa, de repouso, aguardando o parto normal que era sua escolha.

Na sexta-feira, dia 26 de setembro de 2014, acordou por volta das 5h, sentindo as primeiras dores de contrações. O que evoluiu por todo dia. Em casa, ela fez exercícios de alongamento, banhos para relaxar, tudo esperando que as contrações fossem mais continuas para ir ao hospital.

“A internação só aconteceria quando tivesse 3 cm de dilatação. Então eu fiquei em casa o máximo que pude para não ficar esperando no hospital sem conforto”, explica.

Pelas 18h, o pai da Alice chegou do trabalho e disse que estaria na hora de irmos para o hospital. “Minha cunhada foi com a gente e ligamos para toda família, avisando que Alice iria nascer. As dores eram grandes, mas a felicidade tomava conta de todo meu ser”, fala com um sorriso no rosto.

Começa o calvário de Alice

Chegando no hospital, atendida e já internada estava com 4 cm de dilatação. Na sala de pré-parto, Bruno (Pai de Alice), ficou esperando do lado de fora. Ana sentiu contrações constantes e doloridas, mas a dilatação estava acontecendo e o que ela sonhava era ter a filha logo em seus braços.

Já era madrugada do dia 27 de setembro, e as dores continuavam fortes. “Eu já não aguentava mais de tanta dor, e pedia para minha cunhada (Jack), ir chamar os médicos. Até então só tinha sido atendida por enfermeiras e médicos residentes. Ninguém avaliou o meu caso naquelas horas”, conta.

“Deus nunca desampara os seus filhos, era 1h45min, e ele mandou um anjo chamado Dr. Marcelo Cronenberger. Quando ele entra na sala, respira fundo algumas vezes e pergunta a enfermeira – Que horas essa bolsa rompeu? Esse cheiro está fétido. A enfermeira disse o horário mas ele descorda e diz que a bolsa já está rompida a mais tempo. O médico acalmou a alegretense e comentou que tudo ia ficar bem.

Com 10 cm de dilatação, Ana Carolina conta que o doutor Marcelo não sentia a cabeça inteira da Alice. Os batimentos dela, eram extremamente lento e fraco. Alice estava em sofrimento fetal agudo. A cesariana às pressas mobilizou uma equipe médica que em cinco minutos estava com o centro cirúrgico apto para cirurgia.

O anestesista não teve êxito na primeira aplicação, transformando a peridural em anestesia geral. A partir daquele momento toda história e toda a luta de Ana e Alice foi contada para a alegretense.

“Não tive o prazer de conhecer Alice quando ela nasceu. Foi um parto extremamente difícil, Alice nasceu às 2h15min do dia 27 de setembro de 2014. Teve de ser reanimada e encaminhada para a neonatal”, descreve aos prantos.

A cunhada Jack, que aguardava no corredor, viu o momento que Alice passou junto com os enfermeiros e o pediatra. Ela diz que eles não falaram nada sobre o que estava acontecendo. “Ela (cunhada), passou a noite inteira aguardando no corredor sem notícias nenhuma. Só falavam a ela que eu estava em cirurgia ainda”.

Pelas 5h30min, o Dr. Marcelo conversou com a família. “A partir desse momento toda a nossa família, a família do pai da Alice, amigos, desconhecidos e muitas outras pessoas começaram uma corrente de fé e orações. E estou falando de vários amigos de várias religião, amigas da Umbanda, católicos, evangélicos, metodistas e espíritas”, conta a alegretense.

Foram dias de vitórias, Alice em quatro dias já estava bem de saúde, fora de perigo, mas Ana Carolina devido uma grande hemorragia ficou debilitada. Cada dia que passava a mãe da Alice piorava seu estado de saúde. Teve de ser entubada, com pneumonia, os rins pararam, já não respondia a nenhum dos medicamentos. Acabou perdendo o útero para ter chance de sobreviver. “Missas, cultos, oferendas e muito joelho no chão”, todo mundo rezou muito por mim, diz Ana.

A mãe de Ana Carolina e a madrinha, em uma das últimas cirurgias para tentar conter a hemorragia, as duas se ajoelharam na terra, no fundo da casa da madrinha, ambas de diferentes religiões, ali somente elas e Deus e o contato com a natureza, com tudo aquilo que Deus criou, elas pediram muito pela minha vida e fizeram uma promessa. Que se nós duas saíssemos vivas de tudo que estávamos passando, iríamos fazer uma festa de um ano da Alice para crianças carentes, pois Alice nasceu no dia de São Cosme e São Damião.

Feita cirurgia, depois de 13 dias na UTI em estado gravíssimo, o Dr. Marcelo alertou a família que se até pela manhã os rins não voltassem a funcionar, infelizmente não teria mais o que fazer.

.….E o milagre aconteceu

E assim aconteceu o milagre. Ainda de madrugada, os rins voltaram a funcionar e deste momento em diante ela começou uma recuperação lenta e gradativa, melhorando a cada dia, curando a pneumonia e consequentemente desentubada.

Tive que reaprender a respirar e a me movimentar novamente. Talvez as pessoas não saibam, não tenham conhecimento, mas quando eu acordei do coma, não sabia que já havia se passado 16 dias. Não conseguia me mexer, não conseguia levantar a mão, e muito menos caminhar”, conta.

Acordada na UTI, a alegretense conta que o Dr. Rodrigo, juntamente com o fisioterapeuta incentivavam ela lutar a cada momento para ter forças nos braços e segurar sua filha pela primeira vez. No 18º dia de vida de Alice, aconteceu o reencontro de mãe e filha.

“Foi um momento mágico onde meu fisioterapeuta, levou a minha maca da UTI até a saída onde lá no fundo, a pediatra segurava Alice nos braços. Eu não conseguia ainda pegar ela, mas lembro os cabelos fininhos, o pessoal ajudou e com meu nariz pude sentir o cheiro dela. Quando falei o nome dela logo abriu os olhos em sinal de reconhecimento da minha voz. E assim pude retornar à UTI mais forte e com mais vontade de vencer tudo aquilo.

A pequena Alice ficou aguardando a mãe se recuperar. Cuidada por pediatras e enfermeiras, recebia visita da tia Maria Fernanda, do pai Bruno, da cunhada que virou tia e da vovó Lúcia.

Após vinte dias, Ana Carolina foi liberado da UTI, e foi para o quarto de isolamento, onde seguiu sua recuperação.

“Lembro-me, de detalhes, mas um em principal com força e gratidão no meu coração. Foi quando o Dr. Marcelo Cronemberger entrou no meu quarto, começou a me fazer perguntas simples: qual seu nome? Qual hospital você esta? Você sabe o que veio fazer aqui? E quando minhas respostas eram acertadas, o sorriso no rosto deste homem e de sua equipe que tanto orou, rezou e trabalhou para eu estar ali viva”.

Depois da vitória da vida, cada aniversário é uma festa

Com a descoberta da promessa da mãe, Ana Carolina resolveu que os aniversários da Alice, seriam sempre para aqueles que menos têm. A festa seria das crianças que precisam ter sonhos mesmo vivendo em comunidades carentes. “Elas precisam acreditar em Deus, porque ele faz milagres”, pondera.

Hoje Alice está com 5 anos, e todas as festas dela são para convidados muito especiais, crianças carentes e suas mães. Principalmente do Bairro Renascer, que recebem a festa desde o primeiro ano da Alice.

No primeiro ano, o aniversário foi na Vila Piola, local cedido pela Creche Nossa Senhora. Os convidados foram as crianças da própria creche e algumas do Bairro Piola e Renascer.

No 2º ano, foi realizado o Circo da Alice, com direito a palhaços e mágico de verdade, os convidados foram as crianças da Moradia Transitória é do Bairro Renascer.

Na festa de 3 anos, Alice recebeu da mãe a Festa das Princesas, com direito a transformação de meninos em príncipes e meninas em princesas, com a presença das Princesas Elsa, Cinderela e Branca de Neve.

Nos 4 anos, em 2018, foi a Rua do Unicórnio da Felicidade, direto no Bairro Renascer, a festa foi na rua, onde pedimos o fechamento.

No ano passado, a Rua da Alegria, na frente da Casa da Mãe da Ana, Alice comemorou seus 5 anos, com a Decoração escolhida por ela, do Luccas Netto.

As festas reúnem sempre no mínimo 100 crianças e mais umas 50 mães. No terceiro ano houve recorde de 170 crianças e mais de 1.200 pães de cachorro quente com uma festança.

“Eu não faço isso sozinha, não teria como, conto com a minha família, que cada um se doa muito em tempo e dinheiro, e aqueles grandes amigos que estão sempre de braços dados comigo”, explica Ana Carolina.

As festas com brinquedos infláveis, com direito a linda decoração, bolos, negrinhos, e o tradicional cachorro quente feito pelas mãos da minha mãe, Maria Lucia Houayek.

A mãe da Alice diz que as festas têm a missão de levar o melhor e mais bonito para crianças que menos têm. Amigos e os colegas de escolinha também são convidados. “Lutamos tanto pela fim do preconceito, pelo fim da diferença social. Assim acredito que fazendo a Alice, entrar nas filas dos brinquedos e esperar ser a vez dela a brincar (mesmo as crianças deixando ela passar na frente por ser a aniversariante), eu consigo ensinar a minha filha que todos somos iguais. E também ensinar aquelas crianças a sonharem com um futuro menos desigual.

A lição disso tudo

‘Existe um sentimento dentro do meu ser, que exala em cada poro da minha pele…que me faz entender o quanto é perfeita a criação de Deus.
Ser mãe vem da alma. Difícil é colocar palavras em um sentimento que não tem forma nem peso.
Esse sentimento ele existe, é único e eterno.
Sentir o carinho no rosto, sentir o choro sendo consolado apenas no seu colo, ou a alegria dividida de uma descoberta … nos fazem sentirmos únicas: E nós somos”

Júlio César Santos                                  Fotos: acervo pessoal