Pesquisa da Unipampa mostra projeções da Covid-19 em Alegrete

A projeção representa a estimativa da disseminação do SARS-CoV-2 no Alegrete. Ela parte do pressuposto da existência de transmissão comunitária extrapolando o controle do poder público.
Nossas variáveis contemplam: crescimento diário da disseminação do SARS-CoV-2; porte do município (população e densidade demográfica); média de dias de hospitalização; proporção de pacientes que necessitarão de UTI; probabilidade de dias na UTI; quantidade de pacientes com a necessidade de utilizar ventiladores; a utilização de ventiladores por cada paciente (em dias) e a quantidade de óbitos após a internação.
Alegrete possui população estimada em 73.589 habitantes com densidade demográfica de 10 hab/km²1. Essa baixa densidade é fator que colabora para reduzir a propagação do SARS-CoV-2.
Assumimos que a densidade demográfica abaixo de 1.000 hab/km² nos dará uma attack rate próxima a 15%2. Isto é, até o surto atingir um limite tolerável teríamos essa parcela da população infectada por SARS-CoV-2.
As pessoas mais vulneráveis, ou seja, aquelas que tendem a apresentar complicações são as que apresentam comorbidades 3 e idosos. Com relação a faixa etária da população, vale salientar que mais de 15% dos moradores de Alegrete têm 60 anos ou mais. Esse conjunto se enquadra no grupo de risco para Covid-19.
Alegrete se encontra na 10ª Coordenadoria de Saúde que é composta pelos seguintes municípios: Alegrete; Barra do Quaraí; Itaqui; Maçambará; Manoel Viana; Quaraí; Rosário do Sul; Santa Margarida do Sul; Santana do Livramento; São Gabriel e Uruguaiana. A 10ª Coordenadoria de Saúde abrange quase meio milhão de habitantes do Rio Grande do Sul.
A partir da incidência de transmissão comunitária (sem o controle do poder público), estima-se três meses de onda epidêmica com mais de 200 pessoas requisitando internação hospitalar nesse período. Poderá haver déficit de 70% no número de ventiladores e a necessidade de triplicar o número de UTIs. Na ausência de medidas efetivas, a ampliação dos casos poderá levar ao estrangulamento do serviço público de saúde do município.
Número de novas internações por semana (com a ausência de intervenções)

 

• Os números acima partem de uma eventual transmissão comunitária no Alegrete.
• Os dados representam a quantidade de pacientes que demandarão hospitalização em cada semana. O sistema de saúde precisará se preparar para a probabilidade de 9 pacientes requisitando internação a partir da quinta semana.
• A projeção indica que será necessário manter estrutura suficiente para transferir pacientes
para outros municípios.

• Com relação ao número de óbitos, caso haja falta de atenção às medidas de controle, é provável que se tenha próximo de 50 óbitos em três meses de surto.
• É preciso ainda salientar que alguns fatores podem contribuir para piorar esse quadro como, por exemplo, a possibilidade de que leitos venham a ser ocupados com outras enfermidades, limitação de capital humano e UTIs disponíveis.
• Cabe ainda pontuar a provável dificuldade para obter suprimentos essenciais para a hospitalização dos pacientes.

A metodologia do estudo adotou como base o modelo proposto pelo Imperial College London e pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) do governo dos EUA. Como já dito, nesse estudo, consideramos a média de pessoas que irão requisitar a utilização de UTIs e ventiladores e a quantidade desses equipamentos no Alegrete4
como, também, a proporção de pessoas que morrem após a internação com Covid-19. É sabido que nem todos os casos precisam de internamento. Por fim, é necessário salientar que os dados acima refletem possível demanda do
serviço público de saúde apenas na ocorrência de eventual transmissão comunitária no Alegrete sem a presença de medidas efetivas de combate à epidemia.

Para ter acesso ao número provável de internações em cada período e o número de óbitos em cada cenário, basta acessar os relatórios da pesquisa abaixo:

Projeção da Covid-19 em Alegrete

Projeção da Covid-19 em Bagé

Projeção da Covid-19 em Caçapava do Sul

Projeção da Covid-19 em Dom Pedrito

Projeção da Covid-19 em Itaqui

Projeção da Covid-19 em Jaguarão

Projeção da Covid-19 em Santana do Livramento

Projeção da Covid-19 em São Borja

Projeção da Covid-19 em São Gabriel

Projeção da Covid-19 em Uruguaiana

Na galeria de imagens, ao término desta notícia, é possível visualizar as projeções de cada município por meio de gráficos.

A necessidade do distanciamento social

De acordo com a pesquisa de Sampaio, o sistema público de saúde não terá como suportar a demanda, caso as medidas de prevenção não sejam tomadas. “As medidas adotadas visam reduzir o número de casos para que não haja o colapso. Na ausência dessas medidas, podemos assistir, no Brasil, às cenas que acontecem, por exemplo, no Equador”, ressalta o pesquisador.

Sampaio também afirma que a preocupação com a proximidade do inverno é maior no Rio Grande do Sul. Existe a possibilidade de enfrentamento da pandemia com temperaturas desfavoráveis e a ausência de suprimentos básicos, atualmente, demandados por grandes centros. “É importante a compreensão da população e o planejamento dos gestores”, enfatiza o pesquisador. Além disso, Sampaio reafirma a necessidade de seguir as determinações dos órgãos competentes, principalmente, quanto à higiene, utilização de máscaras e o distanciamento social.

 

Prof. Dr. Thiago Sampaio
Universidade Federal do Pampa
Professor do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas
Cientista Político
Mestre em Ciência Política (UnB)
Doutor em Ciência Política (UFMG)
Pós-doutor em Ciência Política (UFRGS)