Professora Jacqueline e Ballerina uma arte que vai além da dança

A Dança, o movimento e a música sempre estão presentes  na vida da professora alegretense Jacqueline Zacarias Silveira. De forma natural e espontânea, a infância foi marcada pela necessidade de expressão, a qual se manifestava pela sua própria linguagem corporal, pois a Dança, o Ballet Clássico propriamente dito, ela conheceu por volta dos 11 anos.

Aos 54 anos, e prestes a completar 35 anos, à frente da consagrada Escola de Dança Ballerina, a professora concedeu uma entrevista ao Portal Alegrete Tudo:

Portal: Como foi teu início na dança ? 
Jacqueline: Com o meu ingresso no curso de Ballet Clássico, além da realização de um sonho, logo fui percebendo que ali estava o meu futuro. A possibilidade de transmitir conhecimentos e aprendizagens e, por ser oriunda de família de professoras, minha vocação encontrava na arte da Dança o meu caminho profissional.

Portal:  A história da Escola Ballerina e da professora Jacqueline se confundem. Como tu avalias tudo isto ?

Jacqueline: Durante minha trajetória, desde os primeiros anos de estudo, fui buscando vivenciar ao máximo o que esta fantástica arte me oferecia e, logo o nome Ballerina, já permeava meus pensamentos, o que não restou dúvida ou gerou hesitação ao nomear esta Escola, em 1984, quando a mesma foi fundada.

Portal: O sucesso está estampado nos resultados individuais e coletivo. Como é o processo de lapidação de um bailarino ? Jacqueline: A Dança como formação é um processo, que dia a dia vai envolvendo o corpo em aprendizados, raciocínio, criatividade e pensamento crítico, além de outras inúmeras contribuições que a prática sistematizada e devidamente alicerçada em bases sólidas traz ao praticante. Como arte gera talentos, como educação atua diretamente na formação global do ser humano. Portanto, é completa na sua essência.

Portal: Tu és responsável pela formação de bailarinos, que hoje brilham no Mundo da dança. Tens um trabalho comunitário importante com pessoas de baixa renda. De que forma tua realizas esse processo ?

Jacqueline: Nestes 34 anos, mais do que a formação de bailarinos, a Ballerina buscou contemplar o ser humano na sua totalidade, tornando legítima esta arte tanto na execução quanto na consciência que ela traz ao corpo.

Portal: Além de cursos na área de dança, tu és educadora física. Como é tua rotina de trabalho ?

Jacqueline: Além da responsabilidade com a Ballerina, meu tempo é dividido com a URCAMP/Alegrete, onde atuo há mais de vinte anos como professora de Expressão Corporal no Colégio Raymundo Carvalho e como titular de importantes disciplinas no curso de graduação em Educação Física.

Portal: Há uma certo preconceito de homens no ballet até porque estamos na cidade mais gaúcha do RS. De que maneira tu vês essa questão ?

Jacqueline: Existem questões ou estigmas que são culturais e passados de geração para geração. A Dança, por toda sua contextualização, não escaparia de pré – conceitos, embora nos seus primórdios era delegado ao gênero masculino o direito de dançar, abrindo espaço muito mais adiante para o que os papéis femininos fossem interpretados por mulheres. Alegrete, a comunidade como um todo abraça a arte da Dança respeitando e valorizando os gêneros e, a Ballerina desde sua fundação trilhou este caminho e fazendo perpetuar neste cenário a presença dos homens.

Portal: Qual a tua maior dificuldade hoje na formação de novos bailarinos ?

Jacqueline:  Vivemos em um período de transição de valores, a informação acelerada e muitos atrativos para nossas crianças e jovens. Se esta pergunta me fosse feita há alguns anos, diria que a dança por sua elitização era uma barreira para a formação de bons bailarinos. Na atualidade esbarramos em outras dificuldades como interesse, disciplina e perseverança nos objetivos e metas que a Dança exige do praticante.

Portal: Praticar ballet tem um custo financeiro alto. Qual a saída para crianças de baixa renda que queiram aprender a arte? Jacqueline: Ser atleta, bailarino, um artista em nosso país demanda investimentos e não são poucos. Quando criei a Ballerina, esta preocupação permeava minhas inquietações e, por isso, paralelo à Escola busquei somar forças e crenças na possibilidade de uma arte democratizada. Assim surgiu o Projeto Primeiros Passos, que há 22 anos oportuniza a prática da dança a toda nossa comunidade. Anualmente, atendemos cerca de 250 a 300 crianças e jovens nos mais diversos pontos do município.

Portal: Alegrete já teve um dos maiores eventos de danças do sul do País. Temos escolas de danças atuantes aqui. Tu já pensou em organizar um evento em Alegrete em nível estadual, quem sabe nacional ?

Jacqueline: Alegrete é um celeiro de talentos. Acredito que tudo o que já tivemos tenha deixado grandes legados e incentivo. Por isso, minha maior missão é seguir estimulando, despertando o gosto pela Dança e oportunizando espaço para todos. Sinto-me realizada com os projetos da Escola, hoje temos o NATAL COM ARTE que leva a arte para a rua. Nosso Estado, hoje, contempla grandes festivais. Penso que devemos fortalecer o que já existe e garantir que estes espaços continuem abertos para a Dança.

Portal:Até bem pouco tempo as escolas municipais tinha oficinas de danças. Atualmente não existem mais no currículo. Como professora tu sugeriria um projeto para atender às crianças que optem pela dança já nos primeiros anos de vida ?

Jacqueline: Desconheço o currículo das Escolas, mas afirmo que todos os gestores tem adotado o PROJETO PRIMEIROS PASSOS como um caminho para qualificar a formação e educação do seus escolares. Defendo também a oferta da Educação Física desde a mais tenra idade, pois é no período inicial do desenvolvimento que se alicerçam as bases motoras e psicomotoras. Tanto a Dança como a Música estão contidas na LDB. Vale conferir sua aplicabilidade e oferta. 

Portal: Se tu pudesse definir a professora Jaqueline em uma frase. Qual seria ?

Jacqueline: Como me defino: alguém muito inquieta, que busca renovar- se dia a dia, que acredita que todo ser humano é dotado de potencial e merece ser despertado. Sou apaixonada por meu trabalho e vejo na DANÇA uma forma de viver em harmonia comigo e com o universo.

Portal: Em todos esses anos de dedicação. Qual foi o momento mais marcante na tua vida ?

Jacqueline: São muitos anos de vivência. Difícil definir o mais marcante, pois são conquistas diferentes em momentos distintos. Na vida pessoal a maternidade me tornou a pessoa mais realizada. Agora sou a vovó mais coruja do Samuel e do Michel. No campo profissional cada vitória dos alunos, cada etapa do trabalho se torna marcante naquele momento, pois os objetivos se renovam. Neste ano, pude viver e ver em meus alunos e pais a emoção ao conquistarmos o troféu de MELHOR ESCOLA no Santo Ângelo em Dança. Acredito que ainda teremos muitos momentos marcantes e inesquecíveis com esta mágica arte que é a Dança. 

Júlio Cesar dos Santos