Covid-19: dos Estados Unidos, alegretense fala do lockdown e do crescente número de casos

O alegretense Dinler Amaral Antunes, reside em Houston nos Estados Unidos, Bacharel em Biomedicina pela UFRGS, Mestrado e Doutorado pelo PPGBM/UFRGS e pós-doutorado pela Rice University (Texas/EUA), ainda cumpre um rigoroso isolamento social na região metropolitana de Houston (Texas) que tem mais de 7 milhões de habitantes, a quarta mais populosa dos EUA.

Até agora, já foram contabilizados 96,943 casos de COVID-19, e foram confirmadas 686 mortes. Uma das explicações para a mortalidade relativamente baixa, quando comparada ao observado em outras regiões dos EUA, é que Houston abriga o maior centro médico do planeta.

O Texas Medical Center (TMC) é composto por 59 instituições e emprega mais de 100 mil profissionais da saúde. Em um período normal, o TMC tem em torno de 9.000 leitos, incluindo 1.300 UTIs. Com o aumento no número de casos de COVID-19, uma série de medidas foram tomadas para aumentar o número de leitos e de UTIs.

Dinrlei conta que durante todo o mês de Abril a cidade de Houston ficou em quarentena, com o fechamento de todos os serviços não essenciais. Em algumas semanas do mês também houve toque de recolher, de modo que pessoas só poderiam estar na rua durante o dia, e apenas para se exercitar ou para ir para um dos serviços essenciais.

Neste período a capacidade instalada do TMC estava superando muito o número de casos, então houve uma sensação de tranquilidade e de que a situação estava sob controle. Em Maio, Houston foi uma das cidades que tomou a liderança na flexibilização da quarentena. Vários serviços não essenciais reabriram, incluindo academias e parques.

Além do desejo da população de retomar a normalidade, também ocorreram uma série de fatores que induziram maiores aglomerações nos meses que se seguiram. Houve aglomeração no feriado do “Memorial Day”, no dia 31 de Maio, e depois vários protestos e passeatas em suporte ao movimento Black Lives Matter.

Finalmente, apesar dos apelos das autoridades, também houve algumas aglomerações durante a celebração do dia da Independência dos EUA, em 4 de Julho. Como era de se esperar, a flexibilização prematura e as aglomerações tiveram impacto direto no número de casos de COVID-19, acarretando nos números que temos hoje.

O TMC ainda está sendo capaz de processar os pacientes, com mais de 2 mil leitos de UTI em atividade agora. Mas, conforme o alegretense, a situação preocupa as autoridades, que estão discutindo a implantação de um lockdown de 2 semanas para diminuir a sobrecarga do sistema e garantir que todos terão o atendimento necessário. Enquanto isso, Dinrlei continua trabalhando em “home office”. “Felizmente o meu trabalho pode ser feito de forma remota, e como as Universidades fecharam um pouco antes dos demais serviços, eu comecei a trabalhar de casa já no dia 16 de Março de 2020”, explica.

Quatro meses depois ele continua cumprindo as normas, e saindo apenas para ir ao mercado ou ocasionalmente para dar uma corrida. A universidade em que ele trabalha está se preparando para retomar às atividades em regime parcial em Setembro, mas como a situação da pandemia em Houston está pior agora do que estava em Abril, a expectativa é de que ele fique trabalhando em casa pelo menos até Outubro.

“Estou trabalhando de casa, mas não estamos mais em lockdown. E agora as coisas estão piorando bastante aqui no Texas, em termos de números de casos”, descreve.

Dinler considera que o lockdown em Alegrete só no final de semana, não terá um efeito mais significativo, muito embora julgue extremamente necessário. “Imagino que seja mais para evitar aglomerações no final de semana em Alegrete, aqui em Houston nós não tivemos lockdown de verdade. Apenas um mês com serviços essenciais funcionando e durante um período houve toque de recolher. Só podia estar na rua durante o dia, e só para atividades físicas ou para ir para mercado e farmácia”, explica.

O alegretense conta que só depois disso lojas e comércio começaram a reabrir. “Os casos estão mais altos que nunca e o prefeito está pedindo para fazer um lockdown de 2 semanas. Mas o Governador não quer deixar”, finaliza.

Júlio Cesar Santos                                             Foto: reprodução