Alegretense Elvira Paim: das ultra nos desertos, trilhas e paixão pelos gatos

A alegretense Elvira Paim, está aposentada como Comissária de Policia. Aos 55 anos leva uma vida corrida ao pé da letra.

Ultramaratonista por paixão, cuida dos seus gatos. Todos resgatados de situação de abandono. Não bastasse, costuma alimentar gatos e cachorros que encontra pela rua.

Elvira é cria do bairro Macedo. Saiu de Alegrete para estudar pós 2º Grau, hoje é formada em Direito e História pela UFRGS. Com carreira na polícia civil, foi escrivã, investigadora e comissária. Atuou em Porto Alegre, Rio Grande e outras cidades da região metropolitana do RS.

Quando saiu para estudar – esse era um dos objetivos, a corrida continuou, embora, ironicamente, a alegretense fosse apaixonada por bicicleta. “Sempre curti pedalar. Até participei de umas minguadas competições de MTB , lá no inicio dos anos 90, bem como uma meia dúzia de triatlos, short triatlo”, destaca Elvira.

Gosta de tomar um vinho, ler muito, e principalmente , em algum momento do dia se conectar com o universo da corrida, seja para um trote ou para um longão. Se for em trilhas, tudo fica perfeito.

A alegretense conta que mal conseguia completar uma volta correndo na Praça Nova nos anos 80, hoje ostenta a linda e cobiçada medalha da Ultramaratona de Conrade na África do Sul, uma das mais desafiantes ultra do mundo.

Para quem já correu no deserto do Marrocos, dezenas de meias-maratonas e maratonas ficaram no baú. São tantas provas de corrida de rua que ela perde a conta de quantas completou e faturou medalhas e troféus.

A Primeira – Foi. Quando a maratona saia do Parque Moinhos de Vento, com tiros de canhão, camisetas de algodão e tênis Olimpikus, relembra com uma memória de adolescente. “Talvez tenha sido a adrenalina, talvez o susto, talvez o desafio, não sei, achei tudo surreal, uma viagem, literalmente. Talvez por tudo isso tenha feito tantas maratonas”, explica a super-atleta.

Atualmente se dedica a longas distâncias e provas de circuitos em Trilhas. Depois de encarar em solo catarinense o “Desafrio” como batizou o Desafio Urubici 50 km, mais provas de 52 km durante 10 anos seguidos, que culminava em 1.900 metros de altitude no Morro da Igreja, na Cidade de Urubici-SC.

No sul já participou seis vezes na longeva  SUPERMARATONA CIDADE DO RIO GRANDE, 50km, recentemente pegou mais um pódio na prova de 2020. No escaldante verão gaúcho, correu a Travessia Torres Tramandaí, que em 2010 incluiu a modalidade solo, 3 mulheres aceitaram o desafio, e ela era uma delas. Nessa prova que desafia o juízo nos doloridos 82km, de areia, calor. A alegretense já fez três participações solo, e uma no revezamento, que é a estrela do evento. Mas é na modalidade de ultramaratona que Elvira se especializa cada vez mais.

Na modalidade de 24 horas, ela relembra uma na historia recente de Porto Alegre , Desafio Farroupilha, no Parque Marinha do Brasil. “Se teve outra,  não me convidaram” brinca.

Elvira participou ainda das 24 horas dos Fuzileiros Navais no Rio de Janeiro, prova que infelizmente não existe mais. Também pela Ultra Runers, empresa especialista em provas sinistras, participou das 48 horas em Guarujá, 24 Horas em Campinas. Provas de 12 horas e 6 horas de resistência. Por razões profissional, Elvira morou por sete anos em Brasília.

 

“Cidade com muitas provas, competições acirradas, mas tirando a Volta ao Lago de 100 km e uma maratona de asfalto, que participou em 2012, só existem em distâncias menores.

Na capital federal ela participou de maratonas em trilhas de Cerrado – ecossistema diferente, bruto, lindo, frágil, com sol ardido e terreno traiçoeiro , que em dado momento se transforma em cânions com cachoeiras, conta a ultra Elvira Paim.

Além das provas que a alegretense chama de ¨nutelas¨ como a Maratona da Disney, onde foi duas vezes, participou também de outras importantes maratonas internacionais. “A maravilhosa, imperdível, cinematográfica, Maratona de Nova York City. E mais uma meia dúzia de provas de asfalto, mundo a fora”, se diverte a alegretense com sua coleção de camisetas e medalhas conquistadas.

Nas trilhas, Elvira conta que é o tipo de hostilidade climática que mais gosta. Altimetria é cobiçada pela alegretense que fala com uma propriedade digna de palestrante:

Em provas como Ultrafiord, na Província de Ultima Esperanza – Chile; o terreno é molhado, tem geleiras no caminho, bosques frios, lagos com águas geladas , vento austral. No mesmo caminho segue La Mision, com terreno com areia vulcânica, semelhante à lixa, pedras de todos tamanhos, pontiagudas, afiadas; vento gelado, arroios com águas claras e puras, bosques de lenhas, ar puro , muita subida, muita descida. “Todas provas duras, mas com percursos belíssimos”, conta a ultra.

Se tratando em corridas na areia, Elvira fala também dos desertos mais secos do mundo , ICA, NAZCA, PARACAS, nos emblemáticos 253 kms da Marathon de Sables, –  ( A prova-mãe  acontece no Marrocos), onde atravessar o deserto à noite com uma lua cuja luz fez com que eu desligasse a lanterna, para apreciar aquele cenário de silêncio, areia, vento e beleza.

Na memória, a prova sensação, sonho dos trilheiros, EL CRUCE COLUMBIA – que tem no seu percurso, vulcões, senderos nevado ( caminhos com neve),  altimetria de respeito, paisagens que permanecem para sempre na memória; além dos acampamentos que são oportunidades de reunir corredores e amantes de trilhas do mundo inteiro para troca de experiências ou simplesmente conversar , ao lado de cenários que podem ser um vulcão, um lago límpido, ou um rio de montanha.

Morando em Porto Alegre, a alegretense já confirmou presença nas provas de três circuitos que levam a belíssimos lugares do Estado. CGCTM – Campeonato Gaúcho de Corridas em Trilhas, ( com varias etapas, entre as quais participei da primeira em Maquiné); AUDAX ( também com suas etapas, e que estarei em Riozinho , na abertura dos trabalhos trilheiros), e a CORRRIDA DE SEXTA, cujo evento é sempre uma festa, com muita trilha de single track, cachoeiras. Neste ano, já participei da TTT, e fiz uma etapa de trilha, correu a maratona do vinho e ainda no cardápio, uma corrida com raquetes que será na neve, lá em agosto, na Argentina e a temível Raid Columbia.

Elvira é ativa, não consegue ficar parada por muito tempo. “A vida passa correndo. Tente acompanhar”, diz ela ao final da entrevista.

Júlio Cesar Santos                                 Fotos: acervo pessoal