Artistas de rua de três países estão nas avenidas de Alegrete

Três países e dez pessoas. Uruguaios, argentinos, colombianos estão acampados na Estação Ferroviária de Alegrete e conversaram com a reportagem do PAT. No início estavam receosos, a maioria não entende muito bem português, mas assim que a entrevista iniciou, formou-se a roda e a conversa foi muito descontraída. Simpáticos, demonstraram a alegria pelo reconhecimento da arte e da oportunidade de descreverem o quanto estão apreciando a permanência na cidade.

Viajantes estrangeiros estão de passagem pelo Município e ganham o sustento através do trabalho realizado com malabarismo nos semáforos da área central. Eles disseram que é a primeira vez que estão na cidade, mas que não será por muito tempo, estão retornando para casa.

Kewin de 28 anos, Magali de 23, Fagundo 20 e Urien de 18 são da Argentina e estão viajando juntos há oito meses. Tem outros sete, entre 18 e 25 anos que são da Colômbia e Uruguai. O encontro foi no retorno e agora resolveram ficar juntos pois, segundo eles, conforme o número de pessoas o grupo sente-se mais seguro.

O argentino Kewin, viaja há dez anos, ele é o mais velho do grupo e um dos mais experientes na arte circense .”Sem planos, saí para viajar e aprender. A maior aventura é conhecer pessoas, costumes, interagir, dar e receber o que tem de melhor nas pessoas”, disse.

O casal argentino Kewin e Magali comentaram que ficaram muitos meses em Maringá. Devido ao número expressivo de circos e escolas o aprendizado e oportunidade de trabalho é bem maior. O sufoco que passaram foi em Maravilha(SC) que seus pertences foram furtados, com isso, todos os instrumentos que realizam o malabares foram perdidos e isso foi um momento muito difícil . “É através do malabarismo que tiramos o nosso sustento, ganhamos pra tudo, comer, viajar, vestir. Se não conseguimos trabalhar, não tem renda” – comentou.

O grupo ressaltou que foi uma opção deles ficar na Estação Ferroviária. Por mais que pudessem ter a opção da Casa de Passagem, a escolha do local se dá em razão da liberdade. Eles não tem horário e também como o grupo é considerável se sentem mais seguros.

A alimentação é através de marmitas que adquirem com os valores arrecadados e quase que na totalidade das vezes é compartilhada. Todos se ajudam. Kewin e Magali já viajaram por outros países como Paraguai, Chile e Bolívia. O casal, não tem filhos, mas são muito unidos. Magali teve um problema com um dente, uma infecção e está fazendo tratamento com antibiótico. “O Chile é difícil porque se não tiver dinheiro a pessoa morre sem atendimento médico. Já o Brasil, é outra realidade, aqui o tratamento pelo SUS acontece e sempre somos atendidos” – falou.

Questionados sobre a interação com os motoristas, Magali comentou que ela e o namorado apenas realizam sua arte, quem tiver vontade de contribuir, é gratificante porque demonstra o reconhecimento e eles ficam muito agradecidos. “Fico triste com as pessoas que estão nos xingando, que não conseguem enxergar nosso trabalho. Muitas vezes somos ofendidos, mas jamais deixamos de manter o sorriso, pois assim como, em um carro tem uma pessoa falando palavrões, desfazendo da nossa arte, do outro, tem uma criança com os olhos brilhando e um sorriso largo. Isso não há dinheiro que pague” falou a argentina.

A relação com a família é positiva. Com a tecnologia, tudo fica mais fácil e eles se comunicam sempre que possível. Em alguns casos, o inicio é mais complicado, os pais ficam preocupados, o receio pelo fato de ser outro país, outra realidade e cultura, mas com o tempo tudo fica mais tranquilo, explicaram.

O grupo se divide entre os semáforos na região central. As mochilas, mesmo pesadas estão sempre com eles. O receio é de furto e também porque ali carregam todos os materiais necessários para o espetáculo realizado nas ruas de Alegrete.

Infelizmente, ainda há muito preconceito com a gente. Tem muitos motoristas que pensam que o dinheiro é para comprar droga, bebida. A humilhação é grande. Mas prefiro pensar nos 90% que nos aplaudem.- concluiu.

Flaviane Antolini Favero