Campanha que diz “Não faça sexo com pessoas de Santa Cruz do Sul” gera polêmica

Após viralizar nas redes sociais e prefeitura ameaçar recorrer à polícia, grande empresa da cidade assumiu autoria e disse que se trata de campanha interna contra a aids

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Não faça sexo com pessoas de Santa Cruz do Sul. A mensagem, impressa em um cartaz, acabou compartilhada nas redes sociais e viralizada em aplicativos de conversa — sem que ninguém soubesse a autoria da campanha e com algumas pessoas cogitando, até mesmo, que fosse falsa.

Depois de a prefeitura da cidade do Vale do Rio Pardo divulgar que denunciaria o caso à polícia, a Mercur, empresa santa-cruzense de grande porte conhecida, principalmente, pelos produtos de material escolar e escritório, assumiu a autoria do cartaz.

Segundo a coordenadora de Comunicação da Mercur, Fabiane Lamaison, trata-se de uma campanha interna veiculada no último 1º de dezembro, data conhecida como Dia Mundial de Luta Contra a Aids, atendendo a uma norma do Ministério do Trabalho e Emprego para conscientização para evitar a transmissão do vírus HIV. Junto com o cartaz, preservativos foram distribuídos aos quase 700 funcionários.

— Objetivo era fazer com que os colaboradores parassem, lessem e refletissem sobre a prevenção da aids. Mas era uma campanha interna, quando ela sai, perde o seu contexto — explica Fabiane.

Como a mensagem veiculada no final do ano passado acabou, agora, sendo disseminada nas redes sociais, ela não soube explicar. O secretário municipal de Saúde, Henrique Hermany, disse que foi comunicado da autoria pela própria empresa e que desistiu de recorrer à polícia.

— Nós já tínhamos feito registro policial e no Ministério Público no ano passado, pois desconhecíamos de quem era e queríamos deixar claro que não era do município — argumenta Hermany, acrescentando que, na época, não foi descoberta a autoria.

Para ele, há dois principais “equívocos” na campanha. O primeiro diz respeito aos dados que sucedem a frase polêmica. “Atualmente, existem 950* pessoas confirmadas com AIDS em nosso município. Estima-se, porém, que a quantidade total seja superior a 2.500* pessoas. Se por acaso você não conhece todas elas, retire aqui a única forma segura de se prevenir. *Fonte: CEMAS (Centro Municipal de Atendimento à Sorologia)”, consta no cartaz.

— O grande equívoco é que o Cemas é um serviço regionalizado. Os números se referem a 20 municípios, portanto, não são municipais. O segundo erro é que é (uma campanha) discriminatória. As pessoas portadoras podem ter relações sexuais, obviamente que protegidas. Não podemos discriminar essas pessoas — afirma o secretário.

Segundo ele, a prefeitura de Santa Cruz do Sul, inclusive, tem uma campanha em vigor que diz justamente o contrário do cartaz da Mercur: “Aids, evite o vírus, mas não as pessoas”.

De acordo com o ranking do Ministério da Saúde, com base em dados de 2009 a 2013, Santa Cruz do Sul está na 96ª colocação em número de detecção de aids no país proporcionalmente ao número de habitantes. O levantamento leva em conta municípios que têm mais de 100 mil habitantes. O Rio Grande do Sul é o Estado líder nesse ranking, e há outras seis cidades no top 10, incluindo a líder, que é Porto Alegre.

Campanha divide opiniões nas redes sociais

Em um dos posts que contêm a foto do cartaz no Facebook, os comentários divergem quanto ao teor da campanha. Entre os que aprovam a mensagem, com base no efeito dela, está o publicitário Cristiano Rocha.

— Essa sai do comum. Já existem milhões de campanhas sem efeito, dizendo “Use Camisinha”. Gosto do impacto — justifica Rocha.

Já o músico Daniel Jungblut fez coro aos internautas que consideram o cartaz preconceituoso.

— A consciência deve ser em fazer sexo seguro e não em não fazer sexo. A campanha é preconceituosa por discriminar Santa Cruz — comentou ele.

Fonte: Zero Hora