Fiscais agropecuários fazem alerta sobre abate de vacas em estado avançado de gestação no RS

Apesar da prática ser legalizada, profissionais apontam maus-tratos aos animais durante carneamento. Registros mostram fetos mortos amontoados em frigoríficos.

Fiscais agropecuários que atuam no Rio Grande do Sul alertam para o abate de vacas em estágio avançado da gestação. Apesar do procedimento ser legalizado pelo Ministério da Agricultura e a carcaça do animal poder ser utilizada para consumo in natura, os profissionais apontam maus-tratos durante o processo.

“É uma rotina nos estabelecimentos. A quantidade é exagerada, é muita. Choca pra quem estudou para cuidar dos animais”, pontua a fiscal estadual Raquel Carnavô.

 

Registros em fotos e vídeos mostram os fetos mortos, amontoados nos frigoríficos.

“O que mais me deixa triste é ver um vaca prenhe indo pro abate. Eu sei o quanto é difícil emprenhar uma vaca. Pra mim, é o momento mais difícil no dia a dia da fiscalização”, conta o fiscal Paulo Anezi Júnior.

RBS TV tentou contato com o Ministério da Agricultura, mas não teve nenhum retorno.

A prática também é observada em casos de abigeato e, nessas circunstâncias, os suspeitos podem ser indiciados por maus-tratos. Frigoríficos também poderiam ser enquadrados no crime, que tem punição de até um ano de prisão.

“Avaliado as imagens, e as imagens são bem fortes, a gente verifica que o bem-estar animal não está respeitado. Aí pode ser enquadrado no crime de maus-tratos”, afirma o delegado André Mendes.

Por questões econômicas, a legislação passou a autorizar o consumo in natura de vacas abatidas em estado avançado de gestação.

“Na legislação anterior, essas carcaças de fêmeas abatidas não podiam servir para consumo in natura, então, na maioria das vezes, elas eram descartadas. Isso acabava sendo um prejuízo econômico para o estabelecimento e para o produtor. O que não acontece mais hoje. Essas carcaças podem ser aproveitadas e não existe nenhuma penalidade”, esclarece a vice-presidente associação fiscais agropecuários, Beatriz Scalzilli.

Procurada pela RBS TV, a Secretaria da Agricultura do estado afirmou que vai discutir o assunto internamente e que uma das saídas seria desestimular o abate de vacas prenhes.

A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Sindicato de Carnes e Derivados se posicionam a favor da medida.

“Minha posição é ser contra o abate de vacas prenhes no terço final da gestação”, defende o presidente da Farsul, Gedeão Ferreira.

“Nós defendemos que a vaca prenhe fique a campo, que termine o seu ciclo”, acrescenta o presidente sindicato, Ronei Lauxen.

Denúncia anônima

 

Em depoimento à reportagem, o ex-funcionário de um frigorífico conta que já tentou evitar o abate de um animal que estava no terço final de gestão, mas sem sucesso.

“Sendo mandado pelo patrão, a gente tem que fazer. Eu, como vou dizer, só não chorei por capricho”, lembra.

Conforme ele, até a carne dos fetos era aproveitada para ser vendida como vitela, que no mercado tem origem em terneiros jovens, de até um ano.

Fonte: G1