Funcho: de catador a professor, ele ainda superou a falta de visão

O que para muitos seria o fim do túnel para o professor, Luiz Demolvão Irala Abreu – Funcho foi o caminho para uma nova vida.

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Até os 22 anos ele via tudo muito bem obrigado. Um problema de visão que fez até médicos da Inglaterra e Alemanha o atenderem no Clínicas, em Porto Alegre, praticamente o cegou para as imagens materiais, para ver o mundo.

– De início foi uma barra,conta.Veio a revolta, a não aceitação por ficar sem ver, diz Funcho. Mas com apoio da esposa, Diva Maria, que é doméstica teve que reagir para ajudar a sustentar seus três filhos. Foi camelô e depois catador por 15 anos.

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E foi juntando lixo aqui e ali, por todo o Alegrete, que a vida do homem “negro, pobre” (como ele mesmo se denomina) e, agora com apenas 15% de visão em um olho mudou radicalmente.

Luiz Irala diz que sempre gostou de ler, ouvir noticias, aprender. E nas suas andanças catando lixo se impressionou com a quantidade de livros que achou jogado fora. Algumas raridades, confessa.

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– Vendia todos os materiais recicláveis,os livros levava para casa. E dai montei uma biblioteca na minha casinha no bairro Santo Antônio. Hoje, o CESAN conta com 13 voluntários. A biblioteca pública encanta crianças, jovens e pessoas de vários lugares que visitam e frequentam o local, buscando conhecimento e cultura. O CESAN  tem o titulo de utilidade pública conferido pela vereadora Judete Ferrari.

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Muitas mães deixam os filhos, na biblioteca, para contação de histórias quando precisam ir ao centro.

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Todo bairro ajuda diz Funcho, apelido que veio logo ao nascer, de uma prima que acredita não sabia dizer Luiz. Segundo ele, ao se dispor a fazer qualquer evento é impressionante, relata. “As pessoas, do bairro, vêm e se oferecem dizendo: no quê posso ajudar”?

Mas a virada não parou por aí. Por incentivo da sobrinha, Elisiane Abreu voltou a estudar. Terminou o médio. Depois,quase aos 50 fez Letras e, logo que se formou passou no primeiro concurso para professor de Português e Espanhol em Alegrete.

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E Funcho tem muita disposição e está acabando um pós e iniciando outro.  -Meu filho Diásper ,de 14 anos, é quem digita todos os meus trabalhos. Eu escrevo tudo a mão e ele digita, conta feliz o professor que já foi homenageado, aqui, na Feira do Livro de 2013 com o prêmio Mario Quintana.

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Também é reconhecido internacionalmente pelo Instituto Latino americano de Responsabilidade Ambiental do México, após matéria em TV que contou a sua história.

A grande vitória de 2015 é a construção de sua nova casa. “Desde que iniciei a ser professor dei uma virada em minha vida, comemora. As escolas onde atuo sempre me receberam bem.  Adaptaram escadas e outros itens para eu trabalhar melhor,já que não vejo quase nada e uso lupa para fazer leituras”. A inclusão não é só de alunos, lembra Luiz Irala Abreu, tem que ser para os professores também.

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Por: Vera Soares Pedroso