Incêndio em creche de Uruguaiana completa 20 anos; advogado diz que indenizações não foram pagas

Em 20 de junho de 2000, sala em que 12 crianças dormiam pegou fogo na cidade da Fronteira. Duas funcionárias foram condenadas e cumpriram sentença de serviços comunitários.

incêndio da creche Casinha da Emília, em Uruguaiana, na Fronteira do RS, completou 20 anos no último dia 20. Doze crianças que dormiam em uma das salas morreram, parte devido à queimaduras e outra parte, asfixiadasDuas funcionárias foram condenadas pelo incêndio, e cumpriram sentença de serviços comunitários.

As duas estagiárias, que cuidavam dos pequenos, entre 2 e 3 anos, aproveitaram o horário de sono para buscar doações para uma festa junina, por ordem da diretora. Elas pediram que uma auxiliar de cozinha tomasse conta deles, o que não aconteceu.

Fazia frio em Uruguaiana, e uma peça de roupa caiu em um aquecedor, o que deu início ao incêndio. A Polícia Civil chegou a indiciar as quatro funcionárias por homicídio culposo.

“Houve negligência ao deixar crianças entre 2 e 3 anos, sozinhas em uma sala com aquecedor ligado”, observa Raquel Peixoto, a delegada responsável pelo caso.

A diretora não estava na escola.

“Tinham muitas irregularidades. Não tinha alvará, não tinha extintor de incêndio, não tinha aparelho telefônico que pudesse ligar e pedir ajuda de imediato”, afirma a delegada.

Uma das estagiárias não foi denunciada pelo Ministério Público porque era menor de idade. A outra foi absolvida pela Justiça. A diretora da creche e uma auxiliar foram condenadas por homicídio culposo.

No caso da auxiliar, a condenação foi por omissão, já que ela teria negado ficar cuidando das crianças porque o pedido não tinha sido feito pela diretora, mas ela sabia que eles estavam sozinhos. As duas cumpriram pena de serviços comunitários.

Os familiares entraram com ação, pedindo indenização. Segundo Pacífico Saldanha, advogado da família, atualmente cada pai e mãe recebem uma pensão de R$ 600 mensais. Mas a indenização de 123 salários mínimo ainda não foi paga para a maioria das famílias. Conforme o advogado, somente duas já conseguiram.

A escola continuou funcionando, e está fechada em função da pandemia. A sala maternal 2, onde ocorreu o incêndio, hoje é uma sala multiuso.

Mãe de menino morto em incêndio em creche de Uruguaiana fala sobre os 20 anos da tragédia

Mãe de menino morto em incêndio em creche de Uruguaiana fala sobre os 20 anos da tragédia

Aquecedores não são mais utilizados, segundo a prefeitura. Todas as 16 escolas infantis têm PPCI aprovado, segundo a prefeitura, e cinco delas têm o alvará.

O objetivo é que até o fim do ano que vem toda a rede municipal tenha o PPCI. Conforme os bombeiros da cidade, das 106 escolas da cidade, 43 têm o alvará e outras 63 não, mas todas estão com o PPCI em andamento.

A dona de casa Marion Cristina Bittencourt Rodrigues convive com a dor há 20 anos pela perda de Giovani, filho de 2 anos, que morreu na tragédia. Sara, a irmã mais velha, também frequentava a Casinha da Emilia, mas não estava no dia do incêndio.

“Na época eu fiquei doente, tive louca, dormia no cemitério, não tomava mais banho, não comia, fui internada numa clinica pra fazer tratamento”, conta.

“Isso é uma coisa horrível que eu carrego comigo até o dia de hoje. Tem noites que é difícil, quando vem o dia 20 eu passo o dia inteiro ruim”, lamenta.

Fonte: G1