Jornalista de Santa Maria morreu enquanto esperava autorização judicial para adquirir medicamentos

Luiz Roese tinha 45 anos e sofria de esclerose múltipla

Repórter de Zero Hora entre 1999 e 2003, o jornalista de Santa Maria Luiz Roese recorreu à Justiça para obter o ocrelizumabe, medicamento para tratamento da esclerose múltipla. Para Roese, essa enfermidade, diagnosticada em 2015, teve uma progressão rápida, com comprometimento dos movimentos, perda do tato e alterações na fala. Roese tornou-se cadeirante.

A medicação recém-introduzida no Brasil tornou-se a esperança para ele. Sua advogada, Elisandra Vestena, ingressou com uma ação na Justiça Federal em maio deste ano, pedindo acesso ao remédio. Por causa da urgência, ela solicitou a chamada tutela antecipada, em que se pede o atendimento imediato do pleito, enquanto o mérito não é julgado.

O juiz responsável pelo caso, no entanto, solicitou uma perícia médica. O laudo só foi feito dois meses depois, em julho, segundo Elisandra.

O perito indicado pela Justiça observou que os remédios que Roese tinha usado até então não faziam efeito, citou estudos que demonstraram a eficiência do ocrelizumabe em vários casos e concluiu que, “devido à progressão da doença, estando o paciente em cadeira de rodas, existe probabilidade que possa ter redução da sintomatologia com o uso de ocrelizumabe”.

No dia 14 de setembro, enquanto aguardava a decisão judicial, Roese teve uma parada cardiorrespiratório e morreu, aos 45 anos. A viúva, Erenice Gonçalves de Oliveira, lamenta o que considera morosidade da Justiça.

– A gente não sabe se o remédio ia fazer efeito. Tínhamos uma série de interrogações. Mas por que demora tanto? Precisamos falar sobre isso. É um assunto polêmico, difícil, mas temos de trazê-lo à tona, porque as pessoas estão morrendo. É lei pétrea da Constituição, o direito à saúde. Mas o Luiz não teve acesso ao medicamento. Pode ser que não desse certo, mas ele não teve o direito de tentar – desabafa Erenice.

Elisandra diz que se passou um mês e meio entre o laudo da perícia e o óbito, um período em que o jornalista poderia ter tentado a sorte com a medicação. Ela afirma que tem enfrentado muitas dificuldades com a Justiça quando os pedidos envolvem remédios que não estão na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, Rename (entenda o processo de entrada no Rename e disponibilização dos medicamentos via SUS).

– A medicação era cara. Mas era a única esperança. Mesmo com os laudos positivos, tem havido muita demora – queixa-se.

Fonte: Gaúcha/ZH