Operação Leite Compensado 7 tem 16 presos e posto interditado no RS

MP deflagrou ação contra nova fraude no leite com adição de água e sal.
Foram apreendidas agendas e planilhas comprovando a irregularidade.

leite
A sétima etapa da Operação Leite Compensado, deflagrada nesta quarta-feira (3) no Norte do Rio Grande do Sul, teve 16 pessoas presas e o posto de resfriamento Rempel & Coghetto, em Jacutinga, interditado. Também investigada, a cooperativa Cotrel, de Erechim, continuará funcionando, mas em regime especial de fiscalização. De acordo com o Ministério Público, foi constatada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a adição de água e sal no produto.
A ação contou com o apoio do Ministério Público de Santa Catarina. Foram emitidos 17 mandados de prisão preventiva e outros 17 de busca e apreensão. Um motorista está foragido. Também ocorreram buscas em Gaurama, Maximiliano de Almeida, Machadinho e Viadutos. Os presos foram encaminhados ao Presídio Estadual de Erechim e, na próxima semana, deverão prestar depoimento ao MP na cidade gaúcha.

Segundo o MP, anotações comprovam a prática da fraude no leite no RS (Foto: Divulgação/MP)
Segundo o MP, anotações comprovam a prática da
fraude (Foto: Marjuliê Martini, divulgação/MP)

Ainda foram apreendidos oito caminhões, usados para o transporte do leite adulterado com água e adição de sal para mascarar testes que apontam a presença de água. Durante o cumprimento dos mandados de busca, foram encontradas agendas e planilhas com dados que, segundo o MP, comprovam a fraude.
O promotor Mauro Rockenbach destacou que, apesar de não causar prejuízos à saúde do consumidor, a adição de água e sal ao leite consiste em fraude econômica. Segundo ele, um diretor de um posto de resfriamento ordenou aos funcionários, após a ampliação da fiscalização nas últimas semanas, que “só recebessem leite”. “O que eles recebiam antes, então? Nós continuaremos atentos e não desprezaremos nenhuma informação que indique fraude em qualquer lugar do estado”, afirmou.
Para o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, as indústrias que recebiam o leite dos postos de resfriamento terão de prestar esclarecimentos sobre o destino do produto. “Elas vão ter que dizer se esse leite foi rejeitado ou encaminhado ao mercado”, enfatizou.
Adulteração de até 40%
De acordo com o MP, a fraude consiste na adição de água no leite por parte de alguns produtores de leite nas cidades de Viadutos, Machadinho e Maximiliano de Almeida. Conforme as investigações, os presos, tanto os produtores quanto os motoristas, adicionavam sal ao leite com água para ampliar o ponto de congelamento do alimento e mascarar a fraude econômica. Há 62 laudos do Mapa apontando adição de água no leite coletado.
Segundo as investigações, a regra era a adição de água na proporção de 10% do volume. No entanto, alguns produtores chegaram a adicionar 200 litros de água em 500 litros de leite (produção média diária das propriedades), uma adulteração de até 40%. O valor resultante da fraude era dividido mensalmente entre produtores, motoristas e empresários.
O leite era coletado pela empresa Transportes Rafinha, dos sócios Walter Roberto Krukowski e Paulo César Bernstein. Eles trabalhavam, também, como motoristas de caminhões refrigeradores, assim como os funcionários da empresa Divonir Longo Rambo, Sidmar Ribeiro Rodrigues, Indionei Eliezer de Souza, Genoir Roque Hojnowski, Paulo César Ruhmke e Matheus Alberto Burggraf.
Depois de adulterado, o leite era entregue nos dois postos de resfriamento investigados. Faziam parte do esquema o proprietário do posto em Jacutinga, Amauri Rempel e as laboratoristas Andresa Segatt e Elizete Marli Bessegato, bem como os sócios da Cotrel, Arino Adalberto Adami e Angelo Antonio Paraboni Filho.
Os responsáveis pelas empresas tiveram as prisões preventivas decretadas por receberem o produto adulterado e não informarem ao Mapa da fraude. As laboratoristas eram as encarregadas de fazer alterações ou omitir dados nas planilhas de análises de leite para o controle posterior do Mapa.
A reportagem entrou em contato com o posto de resfriamento Rempel, de Jacutinga, mas ninguém quis se manifestar. Já o presidente da Cotrel, à qual pertence o outro posto de resfriamento, se disse surpreso. Luiz Paraboni Filho afirmou que ainda não teve acesso à cópia do processo e que só depois disso é que a Cotrel vai se manifestar oficialmente. Nenhum representante da empresa de transportes Rafinha foi localizado para comentar a investigação.
 
Fonte: G1