Pai de Sininho fala que País vive "estado de exceção"

Ativista foi presa, nessa manhã, em Porto Alegre, por policiais civis cariocas

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Pai da ativista Elisa Quadros Pinto Sanzi, conhecida como Sininho, Antonio Sanzi defendeu a filha, presa nessa manhã em Porto Alegre, e acusou o estado brasileiro de estar perseguindo politicamente centenas de manifestantes. Em entrevista à Rádio Guaíba, ele ainda teceu críticas à presidente Dilma Rousseff e ao governador Tarso Genro por estarem realizando o oposto do que lutaram durante a Ditadura. O pai de Sininho frisou, ainda, que a filha nunca se mascarou e que toda a mobilização política ocorreu em reuniões abertas, de forma pública.
Após ficar nacionalmente conhecida por conta da atuação nos grandes protestos iniciados em junho do ano passado, Sininho, que nasceu na Capital gaúcha, foi presa por policiais civis cariocas, cumprindo mandado de prisão temporária. Outras 18 pessoas foram presas, em outros estados do País, durante a ação. 
Como o senhor ficou sabendo da prisão?
Amigos meus me ligaram às 6h dizendo que ela havia sido presa e encaminhada para o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e nós estivemos lá. O mandado de prisão é temporário e por conta de um inquérito em uma delegacia de crimes de informática. Os detalhes nós não sabemos porque ele corre no Rio de Janeiro onde será ouvida na delegacia especializada e depois ficará à disposição da Justiça por cinco dias. Hoje provavelmente o advogado dela entrará com habeas corpus porque a prisão é absolutamente ilegal, ilegítima e desnecessária. Porque a justificativa da prisão é, em tese, para facilitar as investigações. Ora, ela nunca se recusou a prestar depoimento, portanto as prisões são somente para intimidar os que estão sendo presos.
O senhor portanto entende que está colocado um estado de exceção?
Nós estamos vivendo no País um estado de exceção que não é nem policial, mas um estado judicial de exceção. As medidas que estão sendo adotadas em função da Copa são absolutamente criminosas. O governo federal e os governos estaduais estão subordinados indecentemente à Fifa que, pelas últimas informações envolvendo venda de ingressos, não é exatamente a organização mais séria do mundo. A Fifa neste momento dirige o Brasil. Vivemos em um estado de exceção. Se estivéssemos ainda no regime militar daria para entender a lógica dos milicos, mas nós estamos, em tese, vivendo em um estado democrático de direito e por um governo dirigido por uma ex-presa política que lutou exatamente contra esse tipo de barbaridade que agora se aplica no País.
Além do ativismo, o que o senhor sabe sobre os atos de sua filha?
Ela jamais se escondeu, jamais se omitiu, ela é uma militante pública como eu e como a mãe dela. Como qualquer outro militante do movimento. Jamais sequer se mascarou, digamos assim, simbolicamente, porque muita gente usa máscara mais no sentido simbólico, beirando uma certa estética. Ela é uma militante pública! As reuniões que ela participou foram todas públicas! O que estão querendo fazer é criar um factóide no sentido de desmoralizar o movimento do ano passado. Porque não é só ela. Ela é a laranja de amostra. Mas nesse momento centenas de jovens militantes pelo país afora estão sendo criminosamente criminalizados. Isso acontece no Rio Grande do Sul, em Minas, em todo o País. É uma orquestração nacional de tentativa de desmoralização da militância legítima que os jovens resolveram retomar. Eu não sei o que eu vou fazer na segunda-feira. Vou para o escritório, vou ligar para as pessoas que são minhas amigas e que são desse governo e perguntar: ‘É para isto que nós fomos presos, nos matamos e fomos processados?’. E não é porque seja minha filha. 
O senhor entende que a mídia teve participação nisto?
Mas é óbvio… Os 19 presos aparecem, colocam armas, máscaras, fazem uma espécie de museu dos horrores e concomitantemente informam a prisão de supostos membros de traficantes de quadrilhas de São Paulo para dar a impressão de que tudo é a mesma coisa. Interessa à mídia desse país, e não só à Globo, a criminalização de qualquer possibilidade de negação do estado de desigualdade e exceção que nós vivemos.
A sua filha tinha intenção de participar dos protestos marcados para este final de semana no Rio de Janeiro?
Não, ela estava em Porto Alegre e ficaria aqui até o fim da Copa. E depois tínhamos programado de ela visitar os parentes, primos que ela não via há muitos anos. É um absurdo! Essa gente perdeu completamente o juízo! Porque pagarão politicamente por isso. Essas coisas a gente pode eventualmente esquecer nesse momento mas, daqui meio ano, um ano ou dois, voltam. 
Fonte: Correio do Povo