Passageiros de ônibus que pegou fogo ainda esperam por indenização

Vítimas reclamam de exigências para acordos

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Passados quase dois meses do incêndio com o ônibus da Expresso São Pedro, que fazia a linha Santa Maria-Balneário Camboriú (SC), e que pegou fogo na RSC-287, próximo ao trevo da localidade de Palma, em 2 de agosto, passageiros reclamam que ainda não receberam a indenização prometida. A empresa, no entanto, alega que 70% dos passageiros já foram ressarcidos.

O jornalista Marlon Aseff, 48 anos e a mulher dele, a historiadora Liane Chipollino Aseff, 51, ainda esperavam um contato da empresa. Segundo Marlon, no dia do incêndio, os dois voltavam de uma viagem a Montevidéu, onde realizavam uma pesquisa. Com o fogo, os documentos, gravações, máquina fotográfica e o computador foram queimados.

– Eu tinha cinco malas, e tudo virou pó. Meu advogado entrou em contato com a empresa que prometeu que daria retorno, mas nunca fez isso. Mandamos a documentação com o que perdemos, mas, até agora, nenhuma proposta. É um descaso – lamenta o jornalista.
Já o vigilante João Luiz Pilar das Dores, 43 anos, chegou a receber uma proposta na primeira semana depois do acidente, mas o dinheiro não veio. A mulher dele, a consultora de relacionamento Paula Chris Abreu Machado, 26 anos, recebeu R$ 6 mil.

– Entreguei em 4 de agosto o formulário com todas os valores, num total de R$ 9.405. Nos primeiros dias, quando representantes da empresa propuseram acordos, eu também aceitei. Mas não recebi nada. Fui encaminhado para a seguradora, mas também não fui ressarcido. Minha mulher entrou em contato com eles novamente e nos foi informado que a seguradora negou a indenização, pois os tíquetes da bagagem queimaram. Eles disseram que não poderiam fazer nada e que eu procurasse a Justiça – comenta Dores.

Notas fiscais dos pertences

Além disso, os passageiros reclamam que a seguradora exigiu notas fiscais dos pertences que estavam dentro das bagagens. De acordo com a estudante de mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Natalia Madalena Boelter, 24 anos, que também estava no ônibus, o seguro fez o primeiro contato com ela apenas em 26 de agosto. Entre as exigências para o ressarcimento estavam as notas, os tíquetes de bagagem, lista com marcas e valores dos pertences, dados bancários e de identificação e comprovante de residência. Ela afirmou que encaminhou as notas dos eletrônicos, que era o que ela tinha.

– Demoraram mais de uma semana para analisar a documentação e me enviaram uma proposta, propondo um acordo no valor de um terço do que pedi. Fiquei indignada. Afinal, queriam notas fiscais das minhas calcinhas, meias e batons? – indaga a estudante.

Empresa garante que todos os pedidos foram analisados

O advogado da Expresso São Pedro, Ilo da Luz, garante que a empresa não está se furtando de acertar as contas com os passageiros. Ele afirma que as pessoas foram procuradas logo após o incêndio e orientadas a responder formulários que especificavam o que tinham nas bagagens. Segundo ele, os pedidos foram analisados e, com relação aos valores que a empresa julgou adequados, foram feitos acordos e combinados os ressarcimentos, o que correspondeu, segundo ele, a cerca de 70% dos passageiros.

– Algumas pessoas pediram valores muito altos, e a empresa avaliou que não cabia. Por isso, com alguns, não foi feito acordo. A partir de então, eles foram orientados a tratar com a seguradora, que está pedindo que as pessoas comprovem que, realmente, tinham aqueles bens em mãos. Se comprovarem, terão o valor pago e, se não aceitarem, deverão buscar o ressarcimento via judicial. É preciso haver comprovação, pois sabemos que, em muitos casos, as pessoas querem tirar proveito – afirma Luz.

A assessoria de imprensa da Essor Seguros afirmou que a maioria dos valores indenizados ou propostos são superiores ao limite previsto em lei. A seguradora garante, ainda, que o processo de ressarcimento continua em curso, porque há alegações de extravio que ainda estão sendo analisadas, assim como pedidos indenizatórios acima da média e de pertences que são pouco usuais no transporte de bagagens despachadas, como dinheiro em espécie.

Fonte: DIÁRIO DE SANTA MARIA