Polícia Civil lança campanha de prevenção ao suicídio no RS

Rio Grande do Sul está entre os estados do Brasil com as maiores taxas. Psiquiatra fala sobre a importância de se dialogar sobre o assunto.

A Polícia Civil lançou uma campanha de prevenção ao suicídio em Porto Alegre na manhã desta sexta-feira (13). Durante o mês de setembro serão realizadas palestras, e materiais sobe o assunto serão distribuídos.

Durante o lançamento, que ocorreu no Palácio da Polícia, foram exibidos depoimentos de parentes de pessoas que tiraram a vida.

A chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor, esteve presente no evento. Ela falou sobre a importância do envolvimento da instituição na temática da prevenção. Destacou ainda a integração dos departamentos com a Divisão de Saúde, dirigida pela delegada Daniela Duarte.

Polícia Civil lançou uma campanha de prevenção ao suicídio em Porto Alegre na manhã desta sexta-feira (13) — Foto: Reprodução/RBS TV

Polícia Civil lançou uma campanha de prevenção ao suicídio em Porto Alegre na manhã desta sexta-feira (13) — Foto: Reprodução/RBS TV

O Rio Grande do Sul está entre os estados do Brasil com as maiores taxas de suicídio. O levantamento mais atualizado da Secretaria Estadual da Saúde (SES) mostra que, em 2017, foram 1.342 mortes. Isso representa 12,7 casos por 100 mil habitantes, o dobro da taxa brasileira.

Entre os anos de 2011 e 2017, 79,4% dos casos de suicídio que ocorreram no estado foram de homens.

Proporcionalmente à população (taxa por 100 mil habitantes), as maiores taxas estão entre os idosos no Rio Grande do Sul. A taxa é de 19,3 casos na faixa entre 60 e 69 anos; 23,03 entre 70 e 79; e 23,4 acima dos 80 anos.

Municípios com as maiores taxas de suicídio

MunicípiosTaxa por 100 mil habitantesNúmero de mortes
Venâncio Aires36,723
Santa Rosa22,115
Vacaria19,912
Santa Cruz do Sul19,323
Guaíba18,217
Ijuí17,914
Lajeado17,713
Cruz Alta16,810

Fonte: Levantamento levou em conta municípios com mais de 50 mil habitantes. Dados são de 2017, da SES

‘Não tem que ter medo de perguntar sobre suicídio’

O psiquiatra Christian Kieling, que trabalha como professor da Faculdade de Medicina da UFRGS e coordenador do Programa de Depressão na Infância e na Adolescência (ProDIA) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, fala sobre a dificuldade que as pessoas têm em falar sobre o assunto. Ele diz que as pessoas “não têm que ter medo de perguntar sobre suicídio para outra pessoa, que pode estar precisando”.

Com os alunos de medicina, Kieling trabalha a ideia da necessidade de questionar os pacientes sobre o assunto.

“Porque eles estão se formando médicos, muitos nem vão fazer psiquiatria, nem nada, mas é importante que eles possam falar com os pacientes que eles vão atender sobre o suicídio. Eu vejo entre eles um receio grande em falar sobre suicídio dentro de uma ideia, que não é fundamentada, que falar sobre suicídio pode aumentar a probabilidade da pessoa se matar. As pessoas, muitas vezes, não falam, e até profissionais de saúde têm receio de falar, como se aquilo fosse plantar uma ideia na cabeça da outra pessoa. A gente sabe que isso não é verdade”, afirma.

“Tem estudos realizados nesta linha, para mostrar que a pessoa que estava pensando em suicídio, e ela é perguntada sobre isso, não acontece de aumentar a probabilidade de ela tentar se matar. O que acontece é uma redução nos níveis de estresse, depressão e ansiedade nessa pessoa. A pessoa se sente compreendida no momento difícil que ela está passando.”

O professor fala sobre o número de casos que acontecem com adolescentes. “Na faixa etária que eu trabalho, faixa etária de adolescentes, suicídio vai ser a segunda ou terceira causa de morte dependendo do lugar do mundo que a gente está falando. No Brasil, em via de regra, acaba ficando como terceira porque a gente tem muita violência interpessoal. É um fenômeno importante”, diz.

Segundo o professor, é fundamental serem criadas iniciativas que falem sobre o suicídio e transtornos mentais.

“Um segundo limitador é: e se a outra pessoa disser que sim, que está pensando mesmo em se matar. O que eu vou fazer? As pessoas não sabem, muitas vezes, para que lado ir. É importante dizer para a população que existem coisas que podem ser feitas, existe o CVV, Centro Valorização da Vida, o número é 188, a ligação é gratuita. É um modo de ter naquele momento algum encaminhamento, algumas orientações”, afirma o médico.

Como identificar os sinais

O professor fala que muitas vezes é difícil reconhecer os sinais de alguém que pode cometer suicídio.

“É muito difícil que uma mãe, um pai, ou mesmo os professores na escola, identifiquem uma situação dessas. Mas tem uns transtornos mentais que podem ser um pouco mais fáceis de identificar e ver que aquelas pessoas estão precisando de ajuda. A depressão, por exemplo, é um transtorno muito associado ao suicídio. Boa parte das pessoas que se mataram tinham depressão, mas a maioria das pessoas que têm depressão nunca vão tentar suicídio. A relação não é igual para os dois lados”.

Uma pessoa que está triste há pelo menos duas semanas, que fica irritada e começa a agir diferente do seu estado normal, que perde a vontade de fazer as coisas, podem ser sinais de que está passando por um momento difícil, e de uma possível depressão, acrescenta o médico.

Sinais de alerta do comportamento suicida:

  • Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança;
  • Expressão de ideias ou intenções suicidas;
  • Diminuição ou ausência de autocuidado;
  • Mudanças na alimentação e/ou hábitos de sono;
  • Uso abusivo de drogas/álcool;
  • Alterações nos níveis de atividade ou de humor;
  • Crescente isolamento de amigos e família;
  • Diminuição do rendimento escolar;
  • Autoagressão;
  • Mudanças no vestuário para cobrir partes do corpo (por exemplo, vestindo blusas de manga comprida);
  • Relutância em participar de atividades físicas que antes eram apreciadas, particularmente aquelas que envolvem o uso de shorts ou roupas de banho, por exemplo.

Fatores de risco:

  • Histórico de tentativas de suicídio ou autoagressão;
  • Histórico de transtorno mental;
  • Bullying (e/ou cyberbullying);
  • Violência intra ou extrafamiliar;
  • História de abuso sexual;
  • Suicídio(s) na família;
  • Baixa autoestima;
  • Uso de álcool e outras drogas;
  • Populações vulneráveis a pressões sociais e discriminação (LGBTI+, indígenas, negros/as, situação de rua, entre outros).

O que evitar ao lidar com o tema após um fato ocorrido:

  • Evite romantizar ou glorificar o suicídio;
  • Não dê detalhes excessivos sobre como o evento ocorreu;
  • Não descreva o ato como corajoso ou racional;
  • Não criar espaços de homenagens ou dedicatórias a pessoa que morreu;
  • Reconheça a perda e as dificuldades, mas evite mudar a rotina o máximo possível;
  • Evite grandes reuniões em massa focando no caso

Neste mês, é celebrado o Setembro Amarelo, uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio.

A SES também realizou atividades durante em agosto e setembro. No dia 1º de outubro, vai ocorrer o Seminário Internacional de Prevenção do Suicídio na Segurança Pública.

Fonte: G1