Produtores de leite aguardam pagamento de R$ 20 milhões de indústrias

Dívidas deixadas por cinco empresas envolvem mais de 7 mil pecuaristas no Rio Grande do Sul

 17068038Há 27 anos, o produtor Sérgio Käfer e a mulher Luciane acordam antes das 6 horas para começar a ordenha de dezenas de vacas criadas em Estrela, no Vale do Taquari. Com o dinheiro da venda do leite, recebido todo o fim do mês, após 30 dias de trabalho de domingo a domingo, o casal criou três filhos e estruturou a propriedade com equipamentos e galpões. Neste ano, pela primeira vez, pensaram em abandonar a atividade que sempre foi a principal renda da família.
O desânimo veio depois de entregarem leite durante 51 dias para a Promilk Laticínios, de Estrela, e não receberem nenhum real. Em agosto, a empresa chegou a pagar 33% do volume com a promessa de quitar o restante no mês seguinte. Em outubro, a Promilk parou de coletar leite e deixou quase cinco mil produtores gaúchos esperando pelo pagamento. Käfer, 52 anos, tem R$ 39,6 mil a receber.
Sem conseguir dormir, preocupado com contas a vencer e com financiamento feito neste ano para compra de um pulverizador, precisou tirar dinheiro da poupança e pedir ajuda a amigos. A última saída encontrada foi vender três das 37 vacas que tinha.
— Não sabia mais o que fazer. Não somos acostumados a ficar devendo para ninguém — lamenta o produtor.
Käfer passou a vender leite para a Promilk há dois anos, depois de ter problemas de atraso de pagamento da Pavlat, de Paverama. Na época, negociou o recebimento de R$ 7,2 mil em 12 vezes. Com uma produção de 630 litros de leite por dia, a atividade é a principal renda da propriedade, onde também trabalham a sogra Sueli Wolf, 72 anos, e a filha Tainá, 20 anos. Em área própria e arrendada, cultivam 35 hectares de milho usado na silagem.
O drama da família Käfer é semelhante ao vivido por pelo menos outros 7 mil dos 130 mil produtores gaúchos de leite, conforme a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag). São pecuaristas que entregaram a produção às empresas Promilk, Mondaí, LBR, Hollmann e Pavlat e não receberam. As dívidas passam de R$ 20 milhões.
— Infelizmente, não há lei que proteja o produtor. Ele produz, vende e não tem segurança — critica Rogério Heemann, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Estrela.
Fonte: Zero Hora