Réu do caso Daniela é condenado a 36 anos e 10 meses de prisão

Depois de mais de 12 horas de julgamento, Rogério de Oliveira recebeu a sentença pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e estupro de Daniela Ferreira

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Durante mais de 12 horas, no Fórum de Agudo, o réu Rogério de Oliveira, 45 anos, foi julgado nesta segunda-feira sob a acusação de ter estuprado, matado e ocultado o corpo de Daniela Ferreira, então com 19 anos, no dia 29 de julho de 2012, na pequena cidade da Quarta Colônia. O júri popular, que começou às 9h, teve a sentença, pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e estupro, pronunciada pela juíza Magali Wickert de Oliveira às 21h16min: o réu pegou 36 anos e 10 meses de prisão em regime fechado.

“Só queria levar uma flor”, diz mãe de Daniela, que desapareceu em 2012

A primeira parte do julgamento de Oliveira foi marcada por uma longa fala do réu ao ser interrogado. O júri popular, que ocorreu no Fórum de Agudo, começou às 9h e seguiu de forma direta até as 14h, sendo retomado após o intervalo de uma hora. Após o sorteio dos sete jurados, todos homens, o primeiro a falar foi o delegado titular de Agudo, Eduardo Machado. Em sua fala, o responsável pelo inquérito do caso disse que “nunca viu tamanha crueldade” em uma pessoa como em Rogério.

Como Oliveira já foi condenado em outras duas oportunidades, seu histórico criminal foi explorado pelo delegado. Segundo Machado, em outro caso em que o réu já havia sido condenado por estupro, ele teria torturado a vítima. Em um caso de sequestro, teria dado bebida com entorpecente para as vítimas. Esse seria o modo de agir de Oliveira. Nesse espaço, o advogado de defesa de Oliveira, Sérgio dos Santos Lima, questionou o delegado sobre possíveis falsos depoimentos dado por testemunhas.

Durante o interrogatório do réu, Oliveira baseou sua fala nas cartas que foram temas de reportagem do “Diário” na edição de 20 e 21 de junho. Ele declarou que foi vítima de uma farsa para incriminá-lo em virtude de seus antecedentes criminais. O réu apresentou também outra nova tese, de que ele e Daniela teriam sido sequestrados por dois homens.

Oliveira falou tanto que um dos jurados deu um cochilada durante o interrogatório. O homem teve a atenção chamada discretamente. Após o interrogatório, a juíza, Magali Wickert de Oliveira fez um intervalo de uma hora.

Réu apresentou nova tese: sequestro

Em seu depoimento, pela manhã, o réu, Rogério de Oliveira, mostrou desprendimento. Falou por aproximadamente três horas e apresentou a tese de que teria sido vítima de uma farsa. Mas uma nova versão, de que ele e Daniela teriam sido sequestrados por dois homens, também foi apresentada pelo réu.

Na sua nova tese, segundo o réu, ele e Daniela foram abordados por dois homens, armados com revólver, enquanto conversavam na rua. Eles teriam sido obrigados pela dupla a entrar no carro. Após andarem por cerca de 10 quilômetros, Oliveira teria conseguido pular do carro. Segundo o réu, foi nesse momento que o material genético de Daniela teria ficado na roupa dele, conforme apontou a perícia.

Durante praticamente todo o julgamento, o réu fez anotações e conversou ao pé do ouvido com o seu advogado, Sérgio dos Santos Lima. Quando a acusação falava, Oliveira ouvia atento e, em diversos momentos, conversava com Lima, que, muitas vezes, pedia para que ele deixasse-o prestar a atenção no que o promotor falava. O olhar do réu e os seus risos, mesmo que discretos, foram alvo de indignação das pessoas que acompanharam o julgamento.

Além dos três crimes relacionados à jovem Daniela Ferreira, Oliveira também foi julgado por importunação ofensiva ao pudor contra uma segunda vítima, Cimara Pereira, que também estava no mesmo baile em que Daniela e o réu estavam na noite que antecedeu o crime. Nesse caso, ele terá de pagar uma multa.

A mãe de Daniela, Celi Fuchs, não quis falar muito sobre a sentença, mas fez um desabafo:

_ Eu tinha esperança que ele falasse onde largou o corpo da minha filha.

O advogado do réu, Sérgio dos Santos Lima, já recorreu da sentença. Já a acusação, ainda não definiu se recorrerá da sentença.

Sem protestos, mas com comoção da família

Não houve protesto de familiares e amigos de Daniela em frente ao Fórum de Agudo. Mas, alguns cartazes e faixas com dizeres de apoio à família e com a foto da jovem foram fixadas em frente ao local do julgamento.

Durante a maior parte do júri, a mãe da jovem e seus outros dois filhos se mantiveram calados. O momento mais emocionante para a mãe de Daniela, Celi Fuchs, foi quando o promotor Sandro Marones mostrou imagens da hora em que Daniela e Oliveira se cruzam, e o réu faz a volta em direção à jovem. Nesse instante, a mãe de Daniela não segurou as lágrimas ao ver aquela que seria a última imagem da sua filha.

Algumas trocas de ironias entre a defesa e a acusação motivaram alguns risos em quem estava presente no salão do júri, mas a situação também causou mal-estar nos familiares de Daniela.

Apelo à emoção e questionamentos

O advogado da família de Daniela, Daniel Tonetto, explorou muito o lado emocional do caso. Ressaltou a dor dos familiares da vítima por não poderem levar uma flor ao túmulo da jovem. O histórico criminal de Oliveira também foi alvo do advogado:

– Estamos diante do maior psicopata que passou pela região.

Já a defesa do réu, comandada pelo advogado Sérgio Lima, questionou o depoimento das testemunhas que eram companheiros de cela do réu. A falta de provas, principalmente o fato de o corpo não ter sido encontrado, também foi um dos pontos mais explorados pela defesa.

E foi questionado porque um jovem, com o qual Daniela teria um relacionamento pela internet, não foi investigado. Ele teria recebido uma mensagem no celular, enviada por Daniela, para que ele a ligasse. A mensagem teria sido enviada às 6h34min, momentos depois de as imagens das câmeras registrarem o momento em que Oliveira passa por Daniela.

 

Fonte: Diário de Santa Maria