Safra recorde impulsiona investimentos em silos no RS

Na Metade Sul, onde a área cultivada com soja aumentou quase 200% nos últimos cinco anos, a crescente demanda fez com que engenhos de arroz fossem adaptados para recebimento da oleaginosa

 

Enquanto uma nova supercolheita de soja é concluída no Rio Grande do Sul, diferentes empresas estão inaugurando instalações para armazenar a produção recorde. Com silos recém-construídos, normalmente próximos a rodovias, cerealistas e cooperativas se desdobraram para concluir as unidades. O corre-corre é justificado: a safra é maior do que a capacidade que o Estado consegue abrigar.

 

Para uma estimativa de 30 milhões de toneladas de grãos, divulgada na semana passada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), falta espaço para ao menos 2,1 milhões de toneladas. Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a capacidade estática deve ser 20% superior à produção.

Após ter adotado a estratégia no ano passado, o Engenho Coradini, com sede em Dom Pedrito, decidiu investir em uma unidade exclusiva para soja — focada em recebimento, secagem e venda. Com capacidade para 25 mil toneladas, a estrutura erguida às margens da BR-293 passa a dividir espaço com a principal atividade da empresa há mais de 60 anos: a indústria de arroz.

 

— É um complemento que vem agregar valor e rentabilidade aos negócios — disse Waldomir Coradini, diretor do Engenho Coradini.

 

Na Metade Sul, onde a área cultivada com soja aumentou quase 200% nos últimos cinco anos , a crescente demanda fez com que engenhos de arroz fossem adaptados para recebimento da oleaginosa.

Os 740 mil hectares cultivados com soja na Metade Sul abriram espaço também para a Cerealista Steckel, de Santa Margarida do Sul, migrar para o município vizinho de São Gabriel. Com investimento de R$ 400 mil e contratação de 15 funcionários, a empresa familiar reformulou as instalações de um armazém graneleiro desativado e estreou nesta safra a unidade com capacidade para 24 mil toneladas de soja.

 

— Não tínhamos mais como absorver toda a produção em Santa Margarida, especialmente de soja — conta o sócio da empresa, Róger Steckel.


 
Steckel investiu R$ 400 mil para reativas unidade que estava parada 

Há 18 anos no mercado de recebimento de grãos, a cerealista sempre atuou no ramo do arroz, e há quatro anos passou a receber soja. Os investimentos em armazenagem em todo o Rio Grande do Sul, inclusive dos próprios produtores, fizeram com que a capacidade estática aumentasse 20% nos últimos cinco anos, conforme a Conab. Mas o Rio Grande do Sul segue com déficit. Com isso, o Estado passou a contar com espaço para 27,3 milhões de toneladas.

 

— Estamos fazendo um recadastramento das unidades armazenadoras. Com a atualização desses números, certamente chegaremos muito próximos de ter uma proporção de um por um — destaca Glauto Lisboa Melo Junior, superintendente da Conab no Estado.

 

Apesar do crescimento dos investimentos na Metade Sul, a maior capacidade de armazenagem ainda está concentrada no Noroeste — onde é produzida quase 50% da safra gaúcha de grãos. Foi dessa região que empresas como Camera e a Cooperativa Mista Agrícola General Osório (Cotribá) migraram para se expandir na nova fronteira agrícola. Com sede em Ibirubá, a Cotribá trilhou o mesmo caminho dos produtores do Norte, que buscaram os campos do Sul para ampliar a produção agrícola.

— Fomos por solicitação dos associados, que migraram e precisavam de assistência e unidades mais próximas para entregar os grãos — explica João Henrich, gerente de insumos da cooperativa, que foi criada em 1911.

Os primeiros investimentos, em meados dos anos 2000, foram feitos em cidades como Encruzilhada, Cachoeira do Sul e Santa Margarida do Sul.

Mais recentemente, há dois anos, a expansão ocorreu no extremo sul, para atender à crescente produção em Arroio Grande e Jaguarão. Com capacidade para 100 mil sacas de soja, a unidade de Arroio Grande será duplicada para a próxima safra.

Fundada há mais de 40 anos em Santa Rosa, a Camera também seguiu a rota de migração dos produtores. Na unidade instalada em São Gabriel, há três anos, a cerealista estima receber 350 mil toneladas de soja até o final da safra. Com 50 unidades de recebimento e beneficiamento do grão no Estado, a Camera concentrou os investimentos especialmente em municípios onde os produtores se capitalizaram na cultura da soja nos últimos anos.

— Mesmo assim, as unidades não conseguem atender a demanda das nossas unidades de esmagamento de soja — ressaltou Evandro Pertile, gerente comercial da Camera em São Gabriel.

Mais crédito para armazéns

 

Os silos que ganham forma no Rio Grande do Sul, em unidades de empresas ou dentro de propriedades rurais, tiveram impulso no último ano com ajuda do Plano Nacional de Armazenagem. E a promessa do ministro da Agricultura, Neri Geller, é reforçar a verba destinada ao segmentono Plano Safra a ser lançado ainda neste semestre.

 

— Aos poucos, os projetos estão deslanchando. Mas a velocidade poderia ser maior não fosse a demora para o licenciamento ambiental, muitas vezes superior a seis meses — aponta Dilermando Rostirolla, presidente da Associação das Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs).

 

O crescimento de estruturas de armazenagem é visível às margens da BR-293, por exemplo, onde em poucos quilômetros três cerealistas inauguraram unidades neste ano: Marasca e Puro Grão, em Bagé, e Reimann, em Candiota.

 

— A movimentação do setor gerou corredores de unidades armazenadoras no Sul — ressalta o superintendente da Conab no Rio Grande do Sul, Glauto Melo Lisboa Junior.

 

Mesmo quem não tinha tanta vocação para soja acabou sendo beneficiado pelo avanço do grão.

 

— Neste ano, pela primeira vez depois de 50 anos de atividade, iremos receber em nossos armazéns mais soja do que arroz — antecipa Edemar Antônio Dutra Luiz, diretor técnico da Cooperativa Agrícola Mista Aceguá, com sede em Bagé, onde a área com soja saltou de 6 mil hectares para 35 mil hectares em aproximadamente cinco anos.