
Se antes esses recursos se concentravam no transporte urbano e de cargas de alto valor agregado, hoje despontam como fatores essenciais de eficiência, segurança e sustentabilidade também no campo. A experiência brasileira consolida o país tanto como potência produtiva quanto em inovação logística — exportando soluções para outras nações e redefinindo padrões globais do setor.
Para entender essa revolução, ouvimos Henrique Brino, engenheiro mecânico formado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com graduação sanduíche na Concordia University of Edmonton, no Canadá. Com oito anos de experiência no setor de tecnologia — tendo atuado em indústria metalúrgica, montadora de caminhões e na implementação de softwares ERPs e tecnologias de monitoramento logístico voltadas ao agronegócio e operações fora de estrada (OTR), em multinacionais como DAF – Paccar, Sascar – Michelin e TOTVS —, Brino é referência na integração de inovação, gestão de risco, redução de acidentes e produtividade em operações do agro.
Riscos e Oportunidades no Transporte de Grãos: Realidade e Exemplos Práticos
No passado, o custo das tecnologias de monitoramento parecia não justificar um sistema de gerenciamento de riscos quanto a roubo de carga, sobretudo quando comparado ao transporte de cargas de alto valor agregado em áreas urbanas. No entanto, a expansão do agro e o aumento dos riscos operacionais, associados a perdas por furtos e fraudes, mudaram o cenário.
“Quando pensamos em cargas de insumos agrícolas, não nos deparamos com casos de roubos violentos, como em ações de quadrilhas armadas. No entanto, há desvios de produto através de furto e fraudes, o que requer uma abordagem diferente do gerenciamento de risco convencional”, explica Brino.
Brino destaca exemplos concretos dessas ameaças:
Desvio de ração enviada por cooperativas a produtores: é comum que, durante o trajeto, veículos parem em locais não autorizados, efetuando a descarga parcial da mercadoria e gerando prejuízos para produtores e cooperativas. Atualmente, a instalação de sensores no caracol de descarga permite detectar e registrar essas ações em tempo real, tornando possível a reação imediata e a responsabilização dos envolvidos.
Fraudes no transporte de grãos de maior valor agregado, como o malte: entre maltarias e cervejarias, já foram identificados casos em que parte da carga de malte é desviada e substituída por cevada de baixa qualidade, palha ou até areia, de forma a manter o peso e dificultar a identificação do golpe por métodos convencionais. “Nesses casos, sistemas integrados de monitoramento, com torres de controle e análise constante dos veículos, vêm sendo desenvolvidos, tendo por objetivo identificar e mitigar esse problema”, explica Brino.
Evolução das Tecnologias: Do Satélite à Inteligência Integrada
O monitoramento de frotas não é novidade no Brasil. Desde a década de 1990, o país viu a chegada do rastreamento via satélite, um marco inicial que, com o avanço das telecomunicações e a maior capilaridade das torres de celular, tornou a tecnologia gradualmente mais acessível para empresas de todos os portes. O ambiente desafiador do transporte agrícola nacional — aliado a elevados custos logísticos e de riscos — fez do Brasil um terreno fértil para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dessas soluções a ponto de, hoje, exportar conhecimento e sistemas de ponta para o mundo.
Segundo Brino, “o nível de sofisticação das ferramentas atuais é capaz de integrar telemetria, sensoriamento, câmeras inteligentes e inteligência artificial, proporcionando não só rastreamento em tempo real, mas também controle de custos, redução de acidentes e gestão de riscos”.
Tendências e Visão de Futuro: O Agro Como Protagonista Global
O aumento do volume de commodities, a necessidade de rastreabilidade exigida por importadores e órgãos reguladores e a busca por práticas sustentáveis colocam o agro brasileiro numa posição estratégica. “A logística do campo passa por uma transformação digital irreversível. Empresas que investem em sistemas inteligentes de monitoramento conquistam economia, reduzem fraudes e ficam mais preparadas para atender aos padrões internacionais de qualidade e segurança”, afirma Henrique Brino.
O Brasil já se destaca ao exportar tecnologias de monitoramento para outros grandes mercados agrícolas, consolida-se como referência em inovação e vê o segmento logístico do agro transformar-se em responsável direto pela competitividade do país no cenário internacional.
“Para acompanhar o boom das commodities e manter uma fatia relevante do PIB brasileiro, é imprescindível que o escoamento da produção evolua junto. O setor deve se antecipar às tendências, adaptar rapidamente suas operações e investir em soluções sofisticadas. Assim garantimos maior eficiência, sustentabilidade e lucratividade para todo o agronegócio brasileiro”, conclui Brino.
Considerações Finais
Com exemplos concretos, tecnologia de ponta e visão de futuro, a implementação de monitoramento logístico inteligente não só protege a cadeia produtiva contra ameaças conhecidas, mas impulsiona o agronegócio brasileiro à vanguarda da inovação global. O caminho para um agro cada vez mais tecnológico está só começando — e o Brasil está pronto para liderar esse movimento.