” Troco o fogão pelo alambrado”, afirma peoa que está há 20 anos na lida campeira

Cada vez mais o sexo feminino se destaca em áreas que há pouco tempo, era território exclusivamente masculino e, muitas eram consideradas como sexo frágil para acompanhar os homens, principalmente na lida campeira. Entretanto, como o PAT já destacou em outros posts, a mulherada está desbravando esse “mundo”.

O relato de hoje, é sobre a alegretense Márcia Silva de 32 anos. Ela é casada há 20 anos( casou muito cedo, era outro tempo, diz ela) e tem uma filha de 13 anos. Márcia trabalha na Agropecuária Orvalho, em Uruguaiana. Ao lado do esposo, Gildo Rosa, ela falou sobre os desafios de trabalhar no campo. A alegretense que fala sorrindo, que já correu boi brabo e também já levou “corridão”, acostumou com o trabalho e agora tira de letra qualquer animal bravo. Onde reside, com a família, todos a conhecem como a mulher da faca na bota, pois ao invés de usar na cintura, ela sempre coloca na bota por achar mais prático no momento que precisa usar.

 

Márcia ressalta que há 20 anos ela trabalha com o esposo nas estâncias, alambrando, na lida de campo e também “nas panelas”. Mas confessa que prefere encarar o alambrado do que o fogão – sorri.  “Às vezes é meio cansativo, mas é uma lida que nunca vou ficar longe, pois sou apaixonada pelo que faço. Teve um período, curto, mas que eles saíram de Alegrete e foram para Serra, em Veranópolis. Ela trabalhou em um hospital, mas não estava feliz e não conseguiram se adaptar. Desta forma, retornaram para Alegrete e iniciaram o trabalho na Agropecuária Orvalho, em Uruguaiana O proprietário, Adão Bacim, assinou a sua carteira de trabalho como peoa campeira com todos os direitos, iguais ao do esposo, ressalta. ” Me sinto realizada fazendo o que mais amo, lidar com animais e, às vezes, dou uma de alambradora e de parteira. Já fiz dois partos com auxílio do meu patrão, foi um momento marcante. Seu Adão disse que sou uma parteira à moda antiga junto aos animais. Nosso dia começa às 5h, quando também é o momento de um chimarrão. Na sequência, faço uma trança bem longa, coloco minhas pilchas e vamos para a lide. Nossa filha, Diuli Rosa, também nos acompanha”- descreve.

Durante os anos de atuação no campo, Márcia cita que já levou dois “pealos” a cavalo, mas considerou que foi pouca coisa, uma perna inchada. Nada que outro “pealo” não resolvesse – comenta sorrindo. Ela e a família estão desde março de 2020 no mesmo estabelecimento rural, mas já atuaram em outros três, no período de 20 anos.

“Não tenho medo de “pegar” terneiro campo a fora. Faço a cura ou qualquer outra lida que seja necessário. Mas também não descuido da beleza, sempre que vamos à cidade passo pelo salão, principalmente para dar um tratamento na cabeleira, as lides na mangueira judia muito os cabelos” – completou a peoa.