Uso de hormônio em dieta para emagrecer causa risco à saúde no RS

HCG, usado em tratamentos para fertilização, é vendido livremente.
Efeitos do medicamento podem levar a AVC, embolia pulmonar e infarto.

Uma dieta vem provocando riscos à saúde no Rio Grande do Sul, como mostra o Teledomingo, da RBS TV. O hormônio HCG, aprovado no país para tratamentos de fertilidade, está sendo vendido livremente na internet e indicado para pessoas que querem perder peso em pouco tempo. Mas os médicos alertam: o uso para emagrecer é um risco à saúde.
O HCG, sigla em inglês para Gonadotrofina Ciriônica Humana, é conhecido como hormônio da gravidez e produzido pela placenta durante a gestação. “O que emagrece nessa dieta não é o HCG em si, mas a dieta restritiva. Estudos comprovam isso”, explica a endocrinologista Andresa Colombo Balestro. A médica alerta ainda para os perigos do tratamento. “Os efeitos mais severos são a nível cardiovascular. Existem vários relatos de trombose venosa profunda, embolia pulmonar, AVC e infarto”, completa.

Médica Andresa Colombo Balestro matéria do TeleDomingo sobre hormônio HCG  (Foto: Reprodução/RBS TV)
(Foto: Reprodução/RBS TV)

Mesmo diante do perigo, diversos usuários são atraídos pela promessa de uma rápida perda de peso sem riscos para a saúde. O hormônio é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas em tratamentos de fertilização. A prescrição da substância sem receita e a importação do produto sem licença são consideradas infrações sanitárias.
Em uma rede social na internet, uma mulher oferece a dieta e mostra os supostos resultados. A reportagem da RBS TV marcou um encontro com a jovem que vende a dieta pela internet em um shopping de Porto Alegre. Sem saber que estava sendo gravada, ela explica à nossa produtora como é o tratamento à base de injeções e uma dieta de 500 calorias por dia. O equivalente a dois copos de refrigerante.
Repórter: Tu aplica 40 dias de injeções?
Jovem: 40 dias, uma dose por dia.
Repórter: E depois o que acontece?
Jovem: Depois tu paras de aplicar e segues um outro cardápio de 21 dias.
Repórter: De onde tu consegues?
Jovem: Na verdade é importado. Agora dever ter talvez no Brasil, como se espalhou, mas não é fácil de conseguir.
Em outro trecho da conversa, a jovem diz que uma clínica de Porto Alegre realiza o mesmo tratamento, mas por valores superiores aos que ela vende, cerca de R$ 7 mil. “Para ter uma ideia de como o tratamento é bom”, argumenta.
A reportagem foi até a clínica, que confirmou realizar o procedimento. A nutricionista do local pediu uma série de exames e garantiu que o tratamento funciona e que não há riscos.
No dia seguinte, o proprietário da clínica, Miguel Sorretino, foi procurado pela reportagem e confirmou que realiza o tratamento. “Não é o foco da clínica. É uma clinica de cirurgia plástica, onde o foco da clínica são as cirurgias plásticas, preferencialmente estéticas”, explicou.
O médico ainda considera que o paciente tem o direito de escolher qual terapia utilizar. “Ao medico e ao paciente é dado o direto da terapia que ele acha que pode promover uma melhor qualidade de vida para ele”.
O médico Mauro Czepielewski, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador da Câmara Técnica de Endocrinologia do Conselho Regional de Medicina (Cremers) diz que a entidade não reconhece o tratamento. “É uma dieta arriscada, carregada de riscos por si só e pela administração de uma substância que não deveria ser utilizada nesse momento”.
De acordo com o Cremers, o profissional que descumprir as determinações do conselho pode ser punido. “Dependendo da infração ela vai ser desde uma advertência em aviso reservado, uma advertência pública, poderá haver uma suspensão do exercício profissional por um período de tempo e até mesmo a cassação do exercício profissional.”
Fonte: G1