Vereador de Porto Alegre André Carús renuncia ao mandato: ‘para não deixar partido sombreado pelas investigações’

Carús (MDB) é suspeito de exigir que assessores fizessem empréstimos consignados e repassassem o dinheiro a ele. Parlamentar ficou na cadeia por 10 dias após ter prisão temporária contra ele decretada.

Suspeito de exigir repasse de dinheiro de assessores, André Carús (MDB) renunciou ao mandato de vereador de Porto Alegre nesta quarta-feira (23). A decisão, segundo ele, foi tomada “para não deixar o partido ficar sombreado pelas investigações”.

Na carta de renúncia enviada à Câmara Municipal, o vereador afirma que uma “denúncia inconsistente, falsa, caluniosa levada às autoridades por pessoa com quem tive sério desentendimento, infelizmente, serviu de base para o deferimento das medidas extremamente drásticas de busca e apreensão e de prisão contra um vereador eleito da Cidade de Porto Alegre”.

Com a saída de Carús, a primeira suplente dele, vereadora Lourdes Sprenger (MDB), será empossada como titular.

“É um ato unilateral dele, então, simplesmente vamos ler a carta de renúncia na sessão, e está consumada a renúncia”, esclarece o diretor legislativo da Câmara Municipal, Luiz Afonso de Melo Peres.

O parlamentar também deixa a presidência do MDB da Capital.

“Em até 15 dias, tenho que chamar uma reunião do diretório e definir o novo presidente. Em caso de renúncia, o vice não assume automaticamente”, explica o secretário-geral do MDB de Porto Alegre, Alexandre Borck. Caso o deputado estadual Tiago Simon assuma a presidência, o partido precisará escolher um vice-presidente.

Alegações

O anúncio foi feito durante uma coletiva de imprensa nesta manhã, quando Carús se manifestou sobre o caso, depois de ficar preso temporariamente por 10 dias. Ele foi solto no dia 10 de outubro.

O parlamentar classificou como uma “atitude conjunta e coletiva” os repasses de dinheiro recebidos por ele. Disse que estava superendividado e que, após uma reunião com o gabinete, ficou decidido que todos ajudariam na solução.

Segundo Carús, os assessores e servidores teriam feito os repasses por “livre e espontânea vontade” para ajudá-lo.

Na entrevista coletiva, Carús destacou que desde o início do mandato tinha uma condição financeira pessoal complicada. Disse que fez um empréstimo que comprometia 40% da sua renda. O salário líquido do vereador era de aproximadamente R$ 10 mil.

O parlamentar teria recorrido à ajuda de agiotas, com quem tinha uma dívida de R$ 100 mil. Alegou ter sido ameaçado e intimado por esses agiotas e não ter levado à polícia por medo e por ser uma pessoa pública.

Sobre as acusações de uma ex-funcionária, que denunciou o esquema, ele prometeu não descansar enquanto tudo o que foi dito por ela “de forma mentirosa” não for esclarecido. Disse ainda não ter relação nenhuma com a empresa que fez os empréstimos.

Investigação

Buscas também aconteceram na casa do vereador André Carús (MDB) — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Buscas também aconteceram na casa do vereador André Carús (MDB) — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Na operação, realizada no dia 1º de outubro, foram cumpridas três ordens de prisão e 10 de busca e apreensão, inclusive no gabinete do parlamentar, na Câmara de Vereadores da Capital, e na casa dele e de assessores.

As buscas também atingiram uma financeira e os departamentos de Água e Esgotos (Dmae) e de Habitação (Demhab) da prefeitura de Porto Alegre, onde hé cargos comissionados ocupados por pessoas indicadas por Carús.

A polícia investiga se outras pessoas também eram beneficiadas.

“Estamos investigando, em princípio, o crime de concussão, que é exigir vantagem indevida a partir do seu cargo público, valendo-se do cargo público, e também associação criminosa”, disse o delegado responsável pela investigação, Max Ritter.

Esquema foi revelado por ex-assessora

O esquema foi revelado por uma ex-assessora que, além de procurar a polícia, contou os detalhes da fraude à reportagem da RBS TV, durante uma investigação independente.

Uma mulher, que trabalhava com o vereador desde 2017, fez três empréstimos que somam R$ 100 mil. À reportagem, ela disse que entregou todo o dinheiro a Carús, e que a maior parte do salário de R$ 14 mil era usado para pagar as parcelas do empréstimo. Ela decidiu fazer a denúncia depois de ter sido demitida.

“No início, ele dizia que eram dívidas que ficaram da campanha que ele tinha que pagar e ele não tinha como. Que isso, na verdade, ficaria no primeiro ano de mandato e depois isso findaria, mas só que nunca teve fim. Cada vez foi só aumentando a dívida”, relata.

Em uma gravação com câmera escondida, um funcionário da financeira que fez os empréstimos mostra que a empresa sabia do esquema. Ele cita o nome do vereador e diz que a ex-assessora não ficará com o “nome sujo”.

“Acho que tu falou com o vereador André Carús também, né? Falei com o vereador também, por telefone, e mais, a diretoria está sabendo de tudo. Então, ficou garantido que vamos liquidar, na medida do possível, todo o teu CPF, sem nunca te trazer nenhum problema para o teu CPF”, disse, sem saber que estava sendo gravado.

Fonte: G1