Jornais do dia 20 de setembro de 1972 foram apreendidos pelo Exército Brasileiro
De avanços e recuos têm sido feita a trajetória da humanidade. Milhares de edições, carregadas de textos e fotos já impressas pelo jornal Correio do Povo, documentam a rica alternância de ciclos pautados por fases de prosperidade, crise, guerra, paz, doenças, curas e abertura de novas fronteiras do conhecimento. Nas 12 décadas hoje comemoradas há um fato inusitado no currículo do jornal: uma edição foi proibida aos leitores. Por ter publicado nota do diretor do jornal O Estado de São Paulo, Ruy Mesquita, dirigida ao ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, na qual manifestava sua insatisfação com decisões do governo militar, o Correio do Povo teve a sua edição do dia 20 de setembro de 1972 apreendida pelo Exército Brasileiro, antes de circular.
Foi uma ação surpreendente coordenada pela “polícia política”, como era conhecida, à época, a Polícia Federal. Soldados recolheram toda a edição. Os jornais foram levados para caminhões estacionados na rua Sete de Setembro — saída das oficinas —, na esquina com a rua Caldas Júnior, sede do Correio do Povo. O jornal Folha da Manhã, também da Caldas Júnior, publicou a nota e teve o mesmo destino do Correio do Povo.
Na manchete da capa daquela edição, dia de comemoração da Revolução Farroupilha, o título menor do Correio do Povo afirmava “Delfim condecorado em Paris” (ministro da Fazenda Delfim Netto) e o maior ressaltava “Brasil e França empenhados na abertura de mercados para o crescimento econômico”. Na notícia logo abaixo, o fato era “Jovem suicida-se diante do túmulo de J. Kennedy”. Na Folha da Manhã destacava-se “Um tufão de granizo passou por Sarandi” e na outra linha “200 casas destelhadas, mil desabrigados, lavouras destruídas”. Responsável pelo Arquivo, Francisca Espinosa, conhecida como dona Chica, conseguiu, desafiadoramente, “salvar” alguns exemplares, no dia sinistro do “confisco”.
Fonte: Correio do Povo