A lição de fé e altruísmo do menino que cultua a tradição

A essência é muito linda, transcende e irradia uma beleza que reflete a alma. Este é o alegretense Estêvão Lamberte Costa Dos Santos, de 13 anos.

A reportagem falou com ele ao saber de uma atitude nobre, uma ação de altruísmo, solidariedade e fé, mesmo sendo apenas um pré-adolescente, um menino. No último dia 24 de dezembro, Estêvão disse para a mãe Maria Terezinha Santos que precisava ir até a Santinha( Nossa Senhora Mãe de Deus), localizada a 50Km de Alegrete em direção a Rosário do Sul. No primeiro momento, ela questionou, pois imaginou que a promessa que ele havia feito, alguns meses atrás, seria relacionada ao título do Desafio Farroupilha. Estêvão dança há quatro anos na invernada do CTG Farroupilha e estava participando desta competição, em que eles ficaram em terceiro lugar.

“Eu o questionei, disse Terezinha: meu filho, vocês não foram campeões, qual o motivo de levar a placa que você fez? A resposta é para comover qualquer pessoa. No mesmo momento, sem pestanejar, o filho disse que o pedido e a promessa de levar a placa, feita por ele, assim que concluísse a competição havia sido alcançada, pois ele pediu proteção. E o mais incrível e lindo é a descrição que ele faz: no dia em que passou com a mãe pela Santinha e pediu para que ela parasse, alguns meses antes da grande final, ele se ajoelhou e rogou para que todos os integrantes da Invernada Mirim do CTG Farroupilha tivesse a sua proteção em todos os lugares que teriam que passar. Seriam viagens, metas a serem cumpridas, que pudessem arrecadar alimentos para agraciar uma quantidade considerável de famílias com a Cavalgada do Bem. Que não houvesse incidentes, a maioria são crianças e todos queriam colaborar, fazer parte de cada etapa.

O pedido, não foi pra ele, foi para o grupo, foi por todos. A maior Graça alcançada, para Estêvão, foi essa, ter passado por cada ciclo e ter a consciência que todos fizeram o melhor e, se não conquistaram o primeiro lugar, saíram muito mais fortalecidos, aprenderam na prática com a entrega das cestas básicas resultado do trabalho de todos, o quanto é difícil se deparar com pessoas que, em alguns casos, disseram que não tinham o que comer. Isso o machucou muito, mas deixou um grande ensinamento.

Estêvão ainda acrescentou que, além de deixar a placa feita em madeira, toda construção pelas mãos dele, desde o corte, o lixamento e pintura, ele e o grupo que o acompanhava, limparam e recolheram os lixos que ali encontraram. O integrante da Invernada Mirim já foi duas vezes campeão no Fest Mirim. Neste ano, mais uma de suas ações demonstrou o quanto os seus princípios vêm ao encontro a tudo que já foi relatado. Um dos integrantes da Invernada, na entrada do tablado, na apresentação do Fest Mirim, percebeu que havia perdido o seu “tercinho”, algo que sempre lhe deu muita segurança. Sem pensar duas vezes, Estêvão ofereceu o seu para Antônio Figueiredo. O gesto, já o deixou muito mais confiante e grato por saber que ali, há muito mais que um grupo, é a Família Farroupilha, a alma que emana todos esses princípios e faz de todos um exemplo à parte. Cada um do seu jeito, mas que desde cedo cultiva a tradição e os bons princípios.

Na sequência, ao ser questionado se ele frequentava alguma religião, como era a sua fé, Estêvão disse que tem o hábito da oração toda noite, não são pedidos, são agradecimentos. Ele comentou que frequenta a Igreja Católica Nossa senhora Conquistadora, assim como, traz de berço os bons exemplos e tem na família seu grande esteio e inspiração.

A mãe, Terezinha, comentou que todos ficaram emocionados com a atitude do filho. ” Foi muito importante saber que ele não pediu por ele e, sim pelos amigos, pelo grupo, por todos. Em uma das entregas que eles fizeram das cestas básicas, arrecadadas na Cavalgada do Bem, ele chegou em casa muito triste com a realidade que presenciou. Algumas pessoas disseram que não tinham nada para comer. Em vez de desanimar, ele se fortalecia ainda mais para ajudar o maior número possível. Esteve presente em todas as cavalgadas, 7,8 e 14. Participou ativamente com os demais integrantes em todas as atividades. Eles são muito guerreiros, mostram sempre união e um comprometimento que nos enche de orgulho- completou.

Estêvão é filho de Maria Terezinha Silva Lambert dos Santos e Rogério dos Santos. Ele passou para o oitavo ano na escola Luiz de Freitas. também tem o irmão de 23 anos, Pedro Lambert dos Santos.

O CTG deve ser uma continuação do lar e um lugar onde as famílias se encontrem em convivência sadia, sem desvios de conduta, para serem polos referenciais de valores morais, éticos e familiares. Ser criança tradicionalista é cultuar a tradição gaúcha através dos costumes das antigas gerações. Estas contribuirão para dar continuidade ao nosso movimento, fazendo as tradições passarem de pai para filho. Ser criança tradicionalista é olhar e não ver o perigo, é acreditar que o difícil com simples gestos e atitudes se concretiza.

E  mais inusitado é que este gesto do Estêvão poderia passar despercebido se o radialista Giovane Moraes não estivesse no no local, na manhã do dia 31, como faz todos os anos com a família. Ao se deparar com a placa, pesquisou até saber quem havia deixado, pois Estêvão não quis nem ao menos colocar o seu nome. Pois a conquista não foi só dele, nada sozinho, foi com a união, essa foi a resposta que ele deu para a mãe.

Perguntado se gostaria de deixar uma mensagem, Estêvão disse que seria importante se as pessoas pudessem seguir o mesmo raciocínio, não apenas querer ganhar, mas agradecer.

Flaviane Antolini Favero