Agredido em baile de Carnaval por ser homossexual, jornalista receberá R$ 15 mil de indenização

Vítima estava com o namorado na Sociedade Ginástica e foi abordado por seguranças

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Bernardo Guedes estava trabalhando quando recebeu a notícia de que venceu o processo que iniciou depois de ter sido agredido em Novo Hamburgo por ser homossexual. O jornalista de 37 anos não controlou a euforia: gritou e chorou.

— A sensação é de alívio, de que posso andar de cabeça erguida de novo. Eu tenho uma filha, e queria mostrar a ela que temos que correr atrás do que é certo — ressaltou.

O caso, que lhe levaria inclusive a fazer sessões de terapia, ocorreu em 17 de fevereiro de 2012, quando ele e o então namorado frequentavam um baile de Carnaval na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo. Na época, Guedes relatou a ZH que, ao chegar à festa, foi abordado por um segurança, que o empurrou e ameaçou expulsá-lo caso seguisse abraçando o namorado em público.

Durante a madrugada, Guedes foi ajudar um colega cinegrafista a conseguir credencial para entrar em uma área reservada. O mesmo funcionário que o havia empurrado anteriormente o avistou e, segundo Guedes, começou a agredi-lo sem explicações. Teria ouvido vários deboches.

— Eles diziam que iam nos ensinar a ser machos — relatou Guedes, na ocasião.

O relato das agressões está detalhado no processo. O texto diz que o jornalista “portava crachá da TV 20 da NET, que lhe permitia ingressar na área vip. Inobstante, sem qualquer explicação, os seguranças começaram a gritar que não era homem para estar ali, chamando-o de ‘bicha’, e, em seguida, um dos seguranças passou a chutar suas pernas e desferir socos no rosto, peito e braços”.

Em sua defesa, a Ginástica contrapôs que “o autor não é jornalista e o crachá mencionado não lhe dava direito de ingresso na área reservada à imprensa, o que causou constrangimento e desgosto ao autor, motivando atitudes descontroladas de sua parte, que obrigaram os seguranças a pedir a retirada do autor do baile para que fosse mantida a ordem”. Também colocou que “o autor, seu companheiro a amiga deles foram apenas conduzidos ao lado de fora do clube sem qualquer contato físico”.

Em sua decisão, a juíza Juliane Pereira Lopes apontou que o exame de lesões confirmou a agressão física, ainda que não tenha demonstrado “ter ocorrido na intensidade relatada na inicial”, e ressaltou que “a agressão verbal igualmente comprovada também é suficiente parta caracterizar o agir ilícito”.

Indenização por danos morais será de R$ 15 mil

Guedes recebeu na semana passada a notícia de que ganhou o caso contra a Sociedade Ginástica em primeira instância, na 3ª Vara Civil de Novo Hamburgo, e deve ser indenizado no valor de R$ 15 mil por danos morais — o valor pedido originalmente era de R$ 75 mil.

— Que este processo sirva de base de lei para defender todos os gays. Não quero ver mais nenhum garoto sendo agredido pela sua sexualidade e por amar alguém do mesmo sexo. Provamos que o caráter e a boa índole não têm nada a ver com a opção sexual do indivíduo. E que ninguém mais no Brasil precise apanhar — afirmou.

A advogada dele, Janete Klein, também comemorou a vitória:

— Fiquei extremamente feliz com o resultado desse processo, uma vez que todo ser humano deve ser respeitado quanto a sua escolha sexual. Este resultado positivo é importante a todo aquele ou aquela brasileira que passou ou passa por uma situação à qual falta o respeito.

A Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo foi intimada na última sexta-feira. Contatado por ZH, o clube informou que usará o prazo legal de 15 dias para decidir se entrará com recurso contra a decisão.

Fonte: Zero Hora