Alegretense Taiberson será titular pela primeira vez no time principal do Inter

O atacante alegretense de 21 anos começará a partida contra o Avenida, nesta quarta, às 19h30min.

Se Taiberson se tornará o novo xodó da torcida do Inter só o tempo dirá. O fato é que os dois gols marcados nos últimos dois jogos — contra Brasil-Pel eVeranópolis — deram a chance que o garoto queria no time de Diego Aguirre. Hoje, diante do Avenida, às 19h30min, no Beira-Rio, será titular da equipe ao lado de Sasha. Pode ser a partida da afirmação. 

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Enquanto Sônia, aos 45 anos, estiver na escola para recuperar o tempo perdido fora dos estudos, o filho caçula, Taiberson, iniciará como titular do Inter pela primeira vez na temporada. Mesmo que estivesse na casa no bairro Promorar, a falta de um canal por assinatura impediria a mãe de assistir às arrancadas e conclusões a gol do filho com a camisa colorada. Restará a ela ouvir os lances pelo rádio do celular sentada na cadeira de madeira da sala de aula.

— Tive os filhos muito cedo, com 15 anos. Então, deixei de estudar. Mas agora voltei. Estava precisando para ler na Igreja, ler a bíblia — explica a mãe da mais nova afirmação do Inter de Diego Aguirre.

Acontece que Sônia precisa ler mais que a Bíblia. Desde que marcou gols contra o Brasil-Pel e Veranópolis, Taiberson tem aparecido em jornais, revistas, sites de notícias na internet. O moleque que deixou o Alegrete aos 12 anos para tentar a sorte no futebol, primeiro no Juventude e depois no Inter, é a celebridade de Alegrete. Na rua, Sônia já recebe até cumprimentos e congratulações pela ascensão do filho. Procura manter os pés no chão, não se deslumbrar com a fama que pode aumentar à medida que os gols do atacante forem aparecendo.

— Eu criei eles de uma forma bastante difícil. Olho no jornal e vejo que ele está no caminho bom, no caminho certo. Taiberson foi o mais complicado dos quatro, sempre foi o mais doentinho. Mudava o tempo, adoecia. Mas eu sabia que ele seguiria os passos do irmão (Douglas Tuché, lateral-direito que atua no São Paulo-RG). Desde que saiu da fralda, quando começou a caminhar, já chutava bola. Era a brincadeira dele era futebol e bolita. É coisa de Deus — lembra Sônia, que ainda mantém os irmãos de Taiberson, Lucas e Dienifer, debaixo da saia.

Nesta segunda passagem pelo Inter, Taiberson Ruan Menezes Nunes tem muita história para contar. Quando deixou o clube, em 2012, acabou no Atlético-PR após um período em que repensou sua carreira. Colorado desde criança, ficou chateado sem a chance no clube do coração e ficou com a família por oito meses, em Alegrete.

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Acabou no Atlético-PR e cresceu. Sagrou-se artilheiro da Copa São Paulo (2013) e chegou à Seleção, convocado por Ney Franco. Voltou ao Inter em 2014, com um contrato de seis meses e precisando produzir. Conseguiu chamar atenção de Clemer. De AbelMarcou gol contra o Palmeiras. Resultado: aumentou seu vínculo no Beira-Rio até dezembro de 2017.

O guri não consegue mais ir a Alegrete. Os treinos, concentrações, viagens pelo Gauchão e Libertadores impedem que Taiberson deixe a Capital. Para a cidade natal, viaja apenas no final do ano, para as festas. Os dias de folga em Porto Alegre são aproveitados com a mulher Ana Paula e o filho Davi, de dois anos.

Ainda pode ir a shoppings e parques sem ser parado pelos torcedores a todo momento. Alguns, mais atentos ao dia a dia do futebol, quando percebem que se trata da revelação do Inter, param para pedir autógrafos, tirar foto, parabenizar pelas atuações do atacante. Já foi comparado, inclusive, com Marcelinho Carioca.

— Alguns ficam com receio de falar, até porque eu sou comum: carequinha, moreno, baixinho. Mas alguns me conhecem, eu fico feliz pelo reconhecimento. Eu sempre brinco: me chama, sim, de Marcelinho Carioca, Denilson… eu sempre tive eles como referência, pelo futebol deles.

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É interessante como você, mesmo sendo baixo (tem 1m71cm), consegue usar o corpo para vencer os zagueiros adversários.
Taiberson — Uma das minhas vantagens é a velocidade e a força. Eu procuro sempre trabalhar isso, melhorar. Faço trabalho de força, velocidade. Para que eu possa sobressair, possa me favorecer. Estou na minha melhor forma física.

Você sente que tua carreira vai deslanchar?

Taiberson — O ano passado estava recém subindo, comissão técnica estava me conhecendo, a torcida também. Neste ano tive a oportunidade e fui bem. É um começo de ano bom, estou tentando aproveitar as oportunidades, deixar boa impressão ao treinador. Isso tudo está sendo muito bom.

A repercussão dos teus dois gols foi grande. Você acompanha redes sociais, jornais, programas de TV?
Taiberson — Não acompanho muito. Me sinto mais à vontade sem ver, fico trabalhando, apenas. Mesmo sendo reportagens boas, que falam bem. Eu prefiro trabalhar no meu dia a dia, fazer o meu melhor para que eu possa estar bem nos jogos, nos treinos, para que isso continue acontecendo. Claro, eu leio jornal e sei que às vezes sai uma matéria bacana, alguma notinha que é boa para mim, me motiva, claro. Mas eu procuro ficar tranquilo, sem focar no que sai sobre mim.

Tem medo de que isso te tire o foco?
Taiberson — Em alguns casos, pode tirar o foco, sim. Me mantenho concentrado para me esforçar mais, trabalhar mais.

Acha que você pode ser um novo Taison, o cara da velocidade que o Inter tanto queria?
Taiberson — A gente vem de pré-temporada, está começando o ano ainda, tive minhas oportunidades, mas tem muito para acontecer. Eu posso aumentar minha velocidade, minha força física, estou com 21 anos. Trabalho para ter oportunidades, seja no Gauchão, na Libertadores, no Brasileiro, quando começar. Quero ajudar. Seja onde for. Seria um sonho jogar uma Libertadores, se essa oportunidade aparecer. Por enquanto, vou com foco no Gauchão. Ajudar da melhor forma possível para a oportunidade aparecer. Um passo de cada vez.

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Você já é parado na rua?
Taiberson — (A sequência de gols) Repercutiu bastante. Sempre vou ao shopping, parques com meu filho. Quem acompanha futebol, me reconhece. Às vezes alguns ficam com receio de vim falar comigo, minha aparência é um pouco comum: moreninho, careca, baixinho. Eles (os torcedores) ficam meio assim. Eu fico feliz pelo reconhecimento. Estou trabalhando.

Já brincaram que você se parece com o Marcelinho Carioca (ex-jogador do Corinthians).
Taiberson — Eu sempre digo quando me falam que eu pareço com alguém, com esse pessoal mais feio, brinco para me chamarem de Marcelinho Carioca, de Denílson… são jogadores que sempre admirei, pelo futebol.

Tua passagem pelo Atlético-PR foi decisiva para chegar até aqui hoje?
Taiberson — Eu evoluí muito no Atlético-PR. Em tudo, questões particulares e técnicas. De como suportar algumas coisas na vida. Subi para o profissional com 17 anos, bem jovem, tinha caras experientes lá, o Paulo Baier, o Alan Bahia, o Neto, goleiro, Marcelo Cirino e Manoel. Sou muito grato por eles. Quando saí do Inter era jovem, tinha 15 para 16 anos. Nos quatro anos de Atlético-PR fui convocado para a Seleção, artilheiro da Copa São Paulo. Foram quatro anos bons para mim.

Um jogador jovem quando chega em um vestiário com caras como D’Alessandro, Juan, Alex… jogadores cascudos, experientes, precisa mostrar para ganhar o respeito deles.
Taiberson — Gols e boas atuações auxiliam, claro. Os companheiros te olham de outra maneira. Mas eles sempre me falam que o fora do campo é o essencial. Para não subir pra cabeça. Conversam comigo e pedem para eu seguir trabalhando, com humildade, tranquilo, para que não seja passageiro. Sempre procuram me ajudar para que essa fase que estou passando não seja passageira, mas sim definitiva.

Fonte: Zero Hora