Estudo mostra que estradas pioraram, já que na edição anterior 5,3% delas haviam ficado com o mesmo conceito
As estradas gaúchas, que já não eram boas, ficaram ainda piores. É o que mostra a Pesquisa CNT de Rodovias 2014, divulgada ontem pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). Dos 8.295 quilômetros avaliados pelos pesquisadores no Rio Grande do Sul, apenas 302 foram identificados como ótimos (3,6%). Na edição anterior da pesquisa, 5,3% das estradas receberam o mesmo conceito.
A malha rodoviária do Estado vem perdendo qualidade progressivamente. Em 2010, 66% das estradas eram consideradas ótimas ou boas. O índice caiu para 62% em 2011, depois 58,7% em 2012 e 48,9% em 2013. Neste ano, somente 32,4% da extensão avaliada recebeu conceito ótimo ou bom. É o pior desempenho na Região Sul: em Santa Catarina, 40,3% das estradas estão nessa condição. No Paraná, são 49,3%.
Os níveis atuais são semelhantes aos do período de 2007 a 2009. Há quatro anos, o Estado deu um salto de qualidade no ranking, passando de 38,5% para 66% de rodovias em boas condições, o que coincide com um aumento no volume de recursos investidos, tanto na esfera estadual quanto federal.
Na avaliação do secretário estadual de Infraestrutura e Logística, João Victor Domingues, o governo do Estado está revertendo a situação das estradas com investimentos em contratos de conservação permanente desde 2013. Um dos principais é a implantação do contrato de restauro e manutenção, com recursos de R$ 500 milhões do Banco Mundial, já em andamento na Serra, incluindo a ERS-324, uma das piores na avaliação da CNT.
Nesta quarta-feira mesmo, o secretário esteve em Pontão e Passo Fundo em reuniões com prefeitos e empresários da região para falar sobre o tema.
— Estamos recuperando a ERS-324 de ponta a ponta, e a Empresa Gaúcha de Rodovias vai duplicar trechos da estrada — afirma Domingues.
Enquanto o Rio Grande do Sul vem em queda no ranking, a média nacional teve ligeira melhora. Dos quase 99 mil quilômetros avaliados no país, 37,2% estão em estado ótimo ou bom — eram 36,2% no ano passado.
Porém, aumentou de 250 para 289 o número de pontos críticos, como quedas de barreira, pontes caídas, erosões na pista e buracos grandes. No Estado, foram identificados 35 pontos críticos, sendo 30 buracos grandes.
O relatório da CNT mostra ainda que a situação das rodovias sob gestão pública está pior em relação às concessionadas: 74,1% das rodovias concedidas tiveram classificação ótima ou boa, já nos trechos sob gestão pública, esse percentual é de 29,3%.
No caso do Rio Grande do Sul, o conceito máximo foi atribuído ao trecho pedagiado da BR-290 (freeway), entre a Capital e o Litoral Norte. Outro trajeto considerado ótimo foi a BR-116, entre Porto Alegre e Novo Hamburgo. As piores no ranking são rodovias estaduais.
Carga pesada e falta de controle deterioram pista
No Rio Grande do Sul, a ERS-324, que passa por municípios da zona da produção, como Marau e Passo Fundo, historicamente é uma das piores na avaliação da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Repetiu o mau desempenho nesta edição, com conceito ruim nos critérios de pavimentação e sinalização e péssimo no quesito geometria.
— Não é a toa que norte e noroeste do Estado têm as piores estradas. Nessas regiões, há grande tráfego de caminhões para escoamento de safras, mas falta manutenção. São rodovias abandonadas pelo poder público — explica Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura.
O especialista percorreu, só neste ano, mais de 17 mil quilômetros em todo o Estado e relata outro mal que atinge o asfalto gaúcho: veículos com excesso de peso.
— Praticamente não há fiscalização — reforça.
Na mesma situação, estão a ERS-020, entre a Região Metropolitana e os Campos de Cima da Serra, e a RST-377, no noroeste do Estado. Outra em situação crítica é a ERS-640, entre São Vicente do Sul e Rosário do Sul. A população de Cacequi, município situado entre as duas cidades, também sofre com a péssima condição da estrada.
— O Estado chegou a fazer reparos no ano passado, mas não foram suficientes. Foi mais uma operação tapa-buraco do que melhoria de verdade — diz Flávio Machado, prefeito de Cacequi.
Sai prejudicado desde o produtor que precisa gastar mais para escoar a produção até o paciente que precisa se deslocar até Santa Maria para buscar tratamento médico. Acidentes fatais também ocorrem com frequência.
— Mais de 60% dos produtos brasileiros escoam pelo modal rodoviário. No entanto, há histórico de baixos investimentos — afirma o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.
Fonte: Zero Hora