Casos de feminicídios no RS aumentam 71% de janeiro a abril em relação ao mesmo período do ano anterior

Estado gaúcho registrou 36 casos nos primeiros quatro meses de 2020, ante 21 em 2019

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-RS), número de feminicídios no estado registrou alta de 71% nos primeiros quatro meses de 2020, em relação ao mesmo período do ano anterior, saltando de 21 para 36 mortes. Os últimos registros apontam ainda que houve um aumento de 19% no número de tentativas de homicídios contra as mulheres, subindo de 31 para 37.

Os dados da secretaria apontam ainda que a cada uma hora cinco mulheres sofrem alguma violência. Somente em 2 meses de pandemia, as ocorrências registradas revelam 78 mulheres ameaçadas, 50 agredidas fisicamente e três estupradas por dia no Rio Grande do Sul.

 

Feminicídio é o assassinato de uma mulher, cometido devido ao ódio que o criminoso tem da identidade de gênero da vítima, e este desprezo pela mulher é algo presenciado todos os dias por Soelen Dipp, estudante de direito, que presidente entidade da juventude política em Passo Fundo. A ativista tem contato com centenas de mulheres na cidade e, segundo ela, os dados oficiais já mostram um cenário devastador, mas a realidade costuma ser ainda mais cruel para as mulheres.

 

“O feminicídio é o ponto mais alto da injustiça vivida, mas existem outras formas de violentar uma mulher, que não é registrada pelos órgãos competentes do estado. É uma olhada e assobios na rua, uma aproximação maldosa e até toques no corpo da mulher no transporte público, uma ameaça do namorado ou marido”, explica Dipp.

 

Último relatório produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) aponta que o Rio Grande do Sul acompanha uma escalada de violência em todo o Brasil. os casos de feminicídios cresceram cerca de 25%, entre março e abril, em 12 estados do país, comparativamente ao ano passado. Os casos saltaram de 117 para 143 e apenas três estados registraram queda: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. O aumento mais significativo foi no Acre, onde a violência contra mulher cresceu 300%.

 

O estudo revela ainda que as polícias militares de vários Estados ainda registram casos como “desinteligência”, quando a órgão entende que não é problema de sua competência, ou “briga de marido e mulher”. Para Soelen Dipp, este descaso é vivido pela maioria esmagadora das mulheres que sofrem violência.

 

“Há uma subnotificação muito grande no país e esta falta de informação esconde uma realidade ainda mais cruel. Além do medo da reação do marido ou namorado, a mulher não apresenta um Boletim de Ocorrência justamente por entender que ninguém vai ouvi-la dentro de uma delegacia. É comum uma mulher se apresentar ao delegado e ser questionada e até mesmo ridicularizada por estar apresentando uma queixa contra o marido e esta omissão do estado permite que a violência continue aumentando”, finaliza Dipp.

 

Sobre Soelen Dipp

Soelen Dipp é estudante de Direito e presidente da Juventude Socialista de Passo Fundo. Sua trajetória é de engajamento político e de defesa dos direitos sociais e levanta bandeiras que a maioria dos políticos não tem coragem de levantar, como o combate às desigualdades sociais e aos privilégios.