No Rio Grande do Sul pico ocorreu em 2012 com 641 ocorrências
Seguindo o ritmo do resto do mundo, onde os casos de coqueluche aumentaram desde 2011, o Brasil vem registrando um crescimento no número de incidência da doença nos últimos anos. A principal causa dessa reemergência pode estar relacionada à maior convivência de crianças em “ambientes aglomerados, principalmente creches, devido à maior qualidade de vida da população em geral”, acredita o coordenador da área técnica de Pneumologia da Secretaria Municipal da Saúde, o pneumologista João Antônio Bonfadini Lima. No Rio Grande do Sul, o maior pico dos últimos cinco anos foi em 2012, com 641 ocorrências frente a 176 casos em 2011.
De acordo com o governo federal, o aumento nos casos da doença no Brasil acontece aproximadamente a cada cinco anos. Isso porque todo ano estima-se que 5% das crianças não são devidamente protegidas com a vacina pentavalente – aos 2, 4 e 6 meses de idade – e os dois reforços com a vacina DTP – o primeiro entre 12 e 18 meses e o segundo e último entre 4 e 6 anos. Como resultado, sazonalmente, acaba ocorrendo um acúmulo no número de crianças desprotegidas.
A coqueluche é uma doença que se caracteriza por tosse seca prolongada, podendo haver febre, vômitos, cianose, asfixia e inclusive levar a complicações e até a óbito, principalmente em casos de bebês com menos de 1 ano. A doença, que pode durar até 12 semanas, pode deixar sequelas pulmonares e neurológicas.
O grupo mais vulnerável às doenças são as crianças de até 4 anos. Isso porque até essa idade, em média, além de o esquema de vacinação ainda não estar completo, o sistema imunológico não amadureceu. De acordo com Lima, a doença oferece maior risco para os lactentes, já que eles são muito pequenos, não possuem anticorpos suficientes e estão mais propensos a ter apneia (interrupções involuntárias da respiração).
A prevenção contra coqueluche pela vacina – ou pela própria doença – não é permanente, podendo durar quase uma década. Por isso, um meio de evitar a transmissão da doença é a vacinação de adultos e adolescentes que convivem com crianças, como pais, irmãos, tios, avós, professores e cuidadores, além de profissionais da saúde.
Casos no RS
• 2010: 108
• 2011: 172
• 2012: 641
• 2013: 357
• 2014*: 61
• Total nos últimos cinco anos: 1339
* Foram contabilizadas, neste ano, as ocorrências de janeiro a julho
Adultos deveriam ser imunizados
Segundo o Ministério da Saúde, as vacinas não são oferecidas a adultos em postos de saúde porque menos de 30% destes aderem a campanhas de vacinação. No entanto, é vital que eles se imunizem principalmente porque os sintomas nos adultos são mais brandos e, por isso, muitas vezes nem são diagnosticados como coqueluche.
Além disso, é especialmente importante que mulheres grávidas se vacinem. “Como a gestante geralmente já não está mais imunizada, o bebê fica completamente desprotegido até os 2 meses, quando é dada a primeira dose da pentavalente”, explica a pediatra Marcia Martins Marquesan. A vacinação de gestantes ainda é objeto de estudos devido a possíveis efeitos adversos, mas países já indicam.
O pneumologista João Antônio Bonfadini Lima recomenda que se mantenham os ambientes de creches sempre bem arejados e se evitem aglomerações de pessoas durante episódios endêmicos ou epidêmicos, como supermercados, shoppings e até festas. Os cuidados devem ser tomados sobretudo com bebês com menos de 6 meses.
Apesar dos números alarmantes e graças à maior cobertura vacinal e acesso às vacinas, segundo Lima, houve um recuo no primeiro semestre deste ano no Brasil: até 14 de junho, foram registrados 2.544 casos ante 3.369 ocorrências no mesmo período do ano passado. No Estado, até julho houve 61 notificações, frente a 295 ocorrências no mesmo período de 2013. Já no mundo, Lima aponta que o maior número de registros pode dever-se ao aprimoramento da vigilância epidemiológica.
Doses
• Vacina pentavalente: previne contra coqueluche, difteria, tétano, hepatite B e outras doenças infecciosas graves causadas pela bactéria Haemophilus influenzae tipo B, como meningite e pneumonia. Deve ser aplicada aos 2, aos 4 e aos 6 meses. Está disponível nos postos de saúde.
• Vacina DTP: é o reforço contra coqueluche, difteria e tétano. As crianças devem recebê-lo duas vezes: entre 6 e 18 meses e entre os 4 e os 6 anos. Os dois reforços são disponibilizados nos postos de saúde. Depois disso, deve-se reforçar a DTP a cada dez anos.
Saiba mais
• A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, causada pela bactéria Bortadella pertussis, que compromete principalmente o sistema respiratório (traqueia e brônquios) e se caracteriza pela tosse seca prolongada. A doença é de fácil transmissão, por meio de secreções eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. Seu período de incubação é de cinco a dez dias. Após o contato com a bactéria, os sintomas podem aparecer entre seis e 21 dias.
• A doença evolui em três fases: catarral, que dura de uma a duas semanas e na qual se manifestam sintomas leves, como febre fraca, mal-estar, coriza e tosse seca; paroxística, de duas a seis semanas, quando a tosse seca fica mais intensa — impedindo a inspiração e podendo gerar protusão da língua, congestão facial e até cianose e asfixia — e é finalizada por uma inspiração forçada, súbita e prolongada, seguida de vômitos (esses episódios aumentam em frequência e intensidade nas duas primeiras semanas, depois diminuem paulatinamente); e a fase de convalescença, também de duas a seis semanas, em alguns casos até três meses, na qual a tosse intensa vira tosse comum, mas pode haver o retorno transitório das manifestações da doença.
• Devem procurar um médico pessoas que apresentem quadro de tosse seca por 14 dias ou mais ou que tenham tido contato com alguma pessoa diagnosticada com a doença. Os casos que forem confirmados devem se afastar de atividades em que tenham contato com outras pessoas por pelo menos cinco dias após o início do tratamento, que é feito com antibiótico.
Fonte: Correio do Povo