Caso no Litoral Norte é tratado como legítima defesa pela Polícia Civil
Uma semana após matar a facadas o homem que o atropelou e o agrediu com um relho enquanto ia ao trabalho de bicicleta, um morador de Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, afirma que, embora não carregue culpa, tem dificuldades para dormir. O sono é interrompido pelo que ocorreu na manhã de 24 de outubro, por volta das 6h45min. Ele havia pedalado por apenas 140 metros pela Rua Alberto Pasqualine, no Loteamento Solar, onde morava, quando, segundo ele, foi atropelado por uma Belina, conduzida por Ricardo Geraldo de Lima, 40 anos.
Teria caído da bicicleta e, no chão, sido agredido com um relho que o condutor carregava. A versão é confirmada por vizinhos que presenciaram a cena. O homem diz que, em seguida, sacou uma faca que carregava em uma bolsa e reagiu contra o agressor. Lima morreu no local. Nesta quarta-feira (30), após tentativas, sob a condição de não ser identificado, ele aceitou falar com GaúchaZH.
— Às vezes, perco sono e fico pensando. Mas sei que estou certo. Recebo várias mensagens de apoio — diz.
Após o fato, ligou para a Brigada Militar e narrou o que aconteceu. Confirmou a mesma versão à Polícia Civil. Segundo ele, exames médicos, como corpo de delito, comprovam que agressões que teriam sido feitas por Lima deixaram seu corpo marcado. Desde o episódio, deixou a cidade e pediu licença por tempo indeterminado do trabalho.
Ele afirma que nunca tinha visto Lima, embora fosse namorado de sua ex-mulher, de quem havia se separado quatro meses atrás. Lima atuava como operador de máquinas na Secretaria de Obras, Trânsito e Segurança.
À frente da delegacia de Santo Antônio da Patrulha, o delegado Valdernei Tonete afirma que o inquérito irá indicar que o autor agiu em legítima defesa:
— Pelas evidências levantadas até aqui, tudo indica que ele agiu em legítima defesa — afirma.
A seguir, confira a entrevista com o homem.
O que aconteceu naquela manhã?
Fui atacado. Fiz o que fiz e me entreguei. Não tinha o que mentir. Estava indo trabalhar, às 6h45min. Ele (Lima) estava de carro, pediu para eu parar, atingiu minha bicicleta e caí no chão. Aí ele saiu com um relho. Me bateu nos braços e nas costelas. Fiz exames que comprovam isso. Fiquei com marcas no corpo.
Em que momento decidiu reagir?
Na hora que ele estava em cima de mim e vi que não dava tempo de fugir. Ele veio para cima de mim. Estava me acertando, fui obrigado a reagir. Acertei nas costas dele, aí ele caiu. A intenção dele era me matar. A polícia falou que ele tinha um ferro (barra) dentro do carro. Ele estava com uma cara de ruim. Não esperava isso.
Qual a sensação agora?
É algo que a gente não espera. O que passava pela minha cabeça era matar ele para ele não me matar. Ele foi para me matar. Nunca tinha o visto na minha frente.
Vocês se conheciam?
Nunca tinha visto ele.
Mas ele não era namorado da sua ex-mulher?
Sim, mas eu não tinha mais contato com ela. Só morávamos próximos. Nunca tinha visto ele. Estamos separados há quatro meses.
O senhor andava de bicicleta com uma faca?
Sim, uma faca tipo campeira. Carregava ela comigo em uma bolsa onde tinha também capa de chuva. Usava no almoço, para cortar alguma coisa. Nunca tinha usado contra ninguém. Não tenho histórico nenhum de briga.
Após o fato decidiu chamar a polícia?
Na hora liguei para a BM. Os vizinhos mandaram eu fugir e disse para eles: “Não, não sou culpado”. Não estou devendo para ninguém. Nem sei porque isso está acontecendo. Liguei para a Brigada e contei a história direitinho. Eles me levaram para a delegacia, onde contei tudo também.
Como está sua vida depois desse episódio?
Virou um inferno. Tive de sair de casa. Não posso mais pisar em Santo Antônio. Não pretendo mais voltar para a cidade. Nunca fiz nada de errado, nunca me meti em uma briga. Pode perguntar para qualquer vizinho. No fim, todo mundo me apoiou.
Por que decidiu sair da cidade?
Não conheço a gente dele (Lima). Vou ter de andar desconfiado. Quem me conhece nem acredita que fiz isso. Tudo mudou. Tenho de andar me cuidando.
Fonte: Gaúcha/ZH