Enderson Moreira não se arrepende de substituição

Após quatro meses de Grêmio, técnico fala sobre insucessos e derrotas no Gre-Nal
 
Em quatro meses e meio de Grêmio, Enderson Moreira já viveu os extremos. Elogios com as boas atuações e a segunda melhor campanha na fase de grupos da Libertadores e críticas após a decisão do Gauchão e a eliminação na competição sul-americana. Nessa quinta-feira, antes do treinamento no Olímpico, o técnico conversou com o Correio do Povo sobre os insucessos na temporada, as derrotas no Gre-Nal, a decepcionante participação dos brasileiros no torneio continental e a disputa que promete ser ainda mais acirrada do Campeonato Brasileiro. Enderson garante que não se arrepende de ter substituído Edinho, mudança que para o torcedor teria sido decisiva para goleada no clássico que decidiu o Gauchão. Além disso, o treinador coloca o Grêmio como candidato ao título do Brasileirão. 
A substituição de Edinho 
“Não me arrependo absolutamente de nada. Se eu não fizesse isso, depois as pessoas iriam me cobrar. Se a gente tomasse os mesmos gols, todo mundo ia criticar porque não fui ousado. Eu jogo para vencer. Tem gente que joga para não perder. Às vezes, as pessoas que jogam para não perder têm mais valor no futebol do que quem joga para vencer. Tomamos uma decisão que era pertinente. Nós já tínhamos uma desvantagem enorme e precisávamos arriscar. E a saída não foi determinante. Todo mundo que tem um pouquinho de consciência tática sabe. Foram dois lances em sequência e não era porque o time estava vulnerável, exposto em um contra-ataque.”
Peso da goleada no Gre-Nal 
“A proporção é muito das pessoas daqui. Evidente que foi extremamente decepcionante, isso não é comum acontecer em clássicos, até porque geralmente as equipes jogam com medo de se expor. Eu considero que foram partidas de boa qualidade. O primeiro, na Arena, foi de altíssimo nível. Pouca gente valoriza isso. Quem não ganhou não vale, quem ganhou é o melhor, mas o jogo em si, e eu acompanhei alguns Gre-Nais que antecederam este, foi de altíssimo nível. Buscamos a vitória, mas o adversário estava em um momento mais feliz. Quando foram melhores, conseguiram transformar a superioridade em gols e nós não.”
A ameaça de demissão
“Eu não me preocupo com isso. Não é uma coisa em que penso: ‘Se não ganhar hoje, eu posso sair’. Trabalho sempre para buscar vitória e conquistar títulos. Quando eles não vêm, tem que ter tranquilidade para buscar o caminho. Não posso ficar aqui preocupado se um dia eu vou sair do Grêmio. Tenho que estar preocupado em fazer o meu melhor possível.”
Brasileirão
“Não vou falar que traz tranquilidade. Uma equipe como o Grêmio tem que estar sempre buscando vitórias. No momento em que elas não acontecem, é normal nos times grandes que tenha esse tipo de pressão por resultados. Eu sempre desenvolvi o meu trabalho com muita tranquilidade, nunca fiquei preocupado com esse tipo de coisa. Não sou de ficar sofrendo de maneira antecipada.”
Candidato ao título do Brasileirão
“A equipe do Grêmio é uma das equipes, juntamente com outras oito, nove, dez, que tem condições de conquistar o campeonato. É importante, e a nossa direção está trabalhando muito nisso, buscar novas alternativas. Acredito que a disputa vai estar muito mais acirrada do que no ano passado. Não creio na repetição do que aconteceu com o Cruzeiro, quando foi determinante também eles terem saído da Copa do Brasil de forma prematura.”
Jejum de títulos
“Isso cria uma ansiedade maior no torcedor. A cada ano que passa, o limite da paciência talvez tenha chegado a um ponto em que ele não consegue aceitar situações que são normais de quem participa de campeonatos de bom nível, dos quais apenas um vai se sagrar campeão. Eu entendo, mas ao mesmo tempo a gente não tem que carregar isso.”
Brasil na Libertadores 
“Acho que são circunstâncias, coincidências. Falar que a gente não poderia ter passado pelo San Lorenzo é equivocado. O Atlético-MG sofreu um gol nos acréscimos e impedido. O Cruzeiro teve boas oportunidades na quarta-feira. São circunstâncias. Assim como, no ano passado, o Atlético-MG poderia ter saído antes da semifinal, com um pênalti no último minuto. Quando as coisas acontecem a favor, ninguém se lembra do sufoco que foi. Quando é contra, parece que está tudo errado. Discordo completamente de que o futebol brasileiro esteja em crise técnica e tática. Em uma Copa, às vezes você faz um jogo ruim e perde essa possibilidade. Acho que os brasileiros, em muitos momentos, foram superiores aos adversários.”
As rodadas antes da Copa 
“Não vejo que quem largar bem vá ter uma grande vantagem. Vai ter uma vantagem sim, é muito melhor você voltar na liderança, entre os quatro primeiros, com uma perspectiva melhor, do que lá atrás, mas o campeonato não vai se definir agora. Algumas equipes antes estavam focadas apenas no Estadual e agora no Brasileiro, e outras estavam envolvidas com a disputa da Libertadores. Então, alguns clubes têm uma certa vantagem nesse início, mas, no retorno, todo mundo terá as mesmas competições, sem vantagem para ninguém.”
Barcos
“Cobravam dele a questão dos gols. Ele faz 17 gols em praticamente quatro meses de trabalho. Ano passado foram 14 e as cobranças continuam. O jogador que tem qualidade, que é uma referência da equipe, a todo instante passa por isso. Quando as coisas acontecem favoravelmente, ele é exaltado. Quando não acontecem, ele pode ser mais cobrado, mas a responsabilidade é de toda a equipe, principalmente da comissão técnica.”
 
Fonte: Correio do Povo