Ex- jogador brasileiro de São Vicente do Sul reencontra técnico da Coréia após 19 anos

Ex-lateral do Inter, Silvan Lopes se emociona ao ser reconhecido na porta por antigo parceiro de clube e vira atração na chegada da seleção sul-coreana a Porto Alegre

Torcedores na porta e policiais a postos na noite desta sexta-feira. Estava tudo pronto para a chegada da Coreia do Sul no hotel onde a delegação vai ficar hospedada em Porto Alegre quando um rapaz de 41 anos chegou ao local, sem ser reconhecido, e contou sua história para um dos seguranças do estabelecimento: chama-se Silvan Lopes, ex-lateral-esquerdo do Internacional e antigo companheiro de clube do ex-zagueiro e atual técnico da seleção, Hong Myung Bo. Como prova, carregava consigo revistas e jornais antigos onde aparece ao lado do amigo no país asiático. Queria uma oportunidade para reencontrar o velho conhecido no desembarque, mas foi orientado a ficar junto aos demais torcedores, cerca de 30 sul-coreanos que vivem ou estão de passagem pela cidade gaúcha.
Faltava outra tarefa: conseguir um intérprete para poder falar com o treinador, já que depois de 19 anos as palavras em coreano foram apagadas da memória. No meio do povo, encontrou ajuda de um torcedor sul-coreano que vestia justamente um casado do Internacional. Agora era só esperar o ônibus: “Vamos ver se ele me reconhece. Faz bastante tempo, né?”. O veículo não tardou a chegar, e logo que Myung Bo desceu e foi buscar sua bagagem, ouviu seu nome ser chamado. Levantou a cabeça, olhou para o lado e… Acenou com a mão ao ver quem era. Reconheceu Silvan e o autorizou a entrar no hotel com a esposa e a filha que o acompanhavam.

Silvan Coimbra com o treinador da Coréia Hong Myung Bo (Foto: Arquivo Pessoal)
Da esquerda para direita: Claudia, Silvan, Myung Bo e Renata: reencontro depois de 19 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

Eles conversaram por cerca de dez minutos no saguão. O intérprete acabou não sendo o torcedor, mas um membro da delegação que falava português. Mesmo com a dificuldade do diálogo, eles se entenderam e relembraram histórias de quando jogaram juntos pelo Pohang Steelers, da Coreia do Sul, entre 1994 e 1995. Época em que dividiram o quarto na concentração, foram comandados pelo técnico sul-coreano da última Copa do Mundo e se tornaram amigos fora de campo num período em que nasceu Renata Coimbra, filha do brasileiro com a esposa Claudia Coimbra. E já programaram um novo encontro, com mais calma.
– Foi gratificante. Quando a gente é uma boa pessoa, os outros não esquecem de ti. É sinal que quando jogava fui um cara legal lá, e ele me reconheceu, né? Senão ele não iria nem olhar. Fico feliz pelas amizades que ficam do futebol. Não é um brasileiro, é um cara do outro lado do mundo, depois de 19 anos a gente se viu e ele reconheceu na hora. Ele falou que eu não tinha mudado, ele também não mudou muita coisa. Disse que ficou feliz em ter me visto, visto minha filha que nasceu lá, perguntou se eu morava aqui… O intérprete pegou meu telefone, amanhã ele vai me ligar para vir aqui no hotel – disse, emocionado, enquanto a filha comentava ao fundo com outros torcedores.

Slvan Lopes Coreia do Sul (Foto: Thiago Lima)
Foto em revista sul-coreana mostra Sivan ao lado de Myung Bo pelo Pohang Steeler (Foto: Reprodução)
 – Ele disse que meu pai tinha o melhor chute de perna esquerda – comentou sobre as cobranças de falta do pai.

Renata explicava a torcedores sul-coreanos que logo se interessaram pela história de Silvan. Ele virou atração e roubou os holofotes da chegada dos jogadores, que entraram rapidamente para o hotel. Do lado de fora, o ex-jogador tirou fotos, deu autógrafo e até entrevistas. Jornalistas da Coreia do Sul contaram com outra intérprete para levar a visita surpresa para a imprensa do país.
Morador de Porto Alegre, Silvan jogou nove anos no Inter e foi emprestado ao time sul-coreano. O ex-lateral afirma que o clube na época tentou comprá-lo, mas o Colorado pediu muito alto, e ele retornou ao Brasil em 1996 para jogar o Campeonato Gaúcho. Passou por Juventude, Figueirense, Fortaleza e outras equipes nacionais antes de jogar em Honduras e na China. Quando, em 2003, encerrou a carreira por aos 31 anos por conta de lesões.
– Na época eles queriam comprar meu passe, mas o Inter pediu um milhão na época. Um milhão hoje não é nada no futebol, mas antigamente era muita coisa. O Inter cresceu o olho. Mas futebol é assim, faz parte – explicou, sem aparentar guardar mágoa do Inter.

Slvan Lopes Coreia do Sul (Foto: Thiago Lima)
Sivan virou atração e deu entrevistas até para a imprensa sul-coreana no hotel (Foto: Thiago Lima)

Apesar de ainda não ter ingresso, Silvan contou que tentará in no jogo deste domingo, entre Coreia do Sul e Argélia, no Beira-Rio. Os sul-coreanos precisam vencer para não correr o risco de serem eliminados precocemente da Copa do Mundo. A torcida, ele garante, é maior pelo Brasil, mas em segundo lugar pelos asiáticos e pelo amigo técnico.
– A gente torce para que eles possam ir bem também. E por ele (Myung Bo), agora que está na seleção, que possa fazer um bom trabalho. Treinador depende de resultados. Se conseguir a classificação já vai ser bom para ele.
A Coreia do Sul buscará sua primeira vitória no Mundial contra a Argélia lanterna do Grupo H, às 16h (de Brasília) deste domingo, no Beira-Rio. Com um ponto, a equipe está em segundo lugar ao lado da Rússia e atrás da Bélgica.

Fonte: Rafael Nemitz