Gêmeo de sete anos raspa a cabeça para ficar idêntico ao irmão com câncer

“Eu fiz pra ajudar ele. Gosto muito do meu irmão”, disse Gabriel, sobre Guilherme

Correndo lado a lado na calçada, próximo à avenida Ipiranga, em Porto Alegre, os irmãos Gabriel e Guilherme da Silva dos Santos, de sete anos, não se diferem em nada. Gêmeos idênticos, eles repetem também a vestimenta, que combina bermuda jeans, meias brancas e sapatos marrom escuro. Até mesmo a camiseta estampa o Youtuber favorito da dupla, em ambos. Sobre suas cabeças, uma característica passou a ser compartilhada após um pedido de Gabriel.

— Ele quis raspar o cabelo pra ficar igual ao mano — conta a mãe, Letícia Rodrigues da Silva, 24 anos, sobre a atitude do filho, tomada após a primeira sessão de quimioterapia de Guilherme.

Tiago Boff / Agencia RBS
Letícia Rodrigues da Silva (c) diz que os dois fazem tudo juntosTiago Boff / Agencia RBS

Em fevereiro de 2018, o menino foi diagnosticado com um tumor maligno no rim esquerdo, órgão retirado em dezembro do mesmo ano. As idas ao hospital são acompanhadas pelo irmão que escolheu ter a cabeleira raspada.

— Eu fiz pra ajudar ele. Gosto muito do meu irmão — diz Gabriel, de forma acelerada, mostrando querer se desvencilhar do microfone do entrevistador para seguir a brincadeira na rua.

Em 2020, os dois terão de repetir o primeiro ano do Ensino Fundamental. Guilherme não conseguiu seguir o estudo devido aos efeitos do tratamento. Gabriel demonstrou não ter condições psicológicas de ir à escola sozinho, segundo a mãe.

A comovente iniciativa do garoto não surpreendeu a família.

— Eles fazem tudo junto. Jogam videogame, bola, brincam… e isso é desde bebê — explica a mãe.

Com o início do tratamento, que demanda sessões de quimioterapia e visitas constantes ao Instituto do Câncer Infantil (na Rua São Manoel, bairro Santa Cecília), na Capital, ela teve de deixar o emprego de faxineira. A ajuda para os gastos do mês vem da avó dos garotos e do ex-companheiro, pai das crianças. Na casa, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, vive ainda a filha mais nova, de apenas seis meses de vida.

A caminho da festa de natal do instituto, que acolhe as crianças para o tratamento, os dois irmãos revelaram o pedido feito ao Papai Noel. O primeiro, já realizado, deu a cada um uma fantasia do personagem Super Foca. O outro desejo, mais uma vez, foi idêntico: um videogame.

A mãe tem um pedido maior, que sem dúvida seria o mesmo de um número incontável de famílias que lutam contra a doença:

— Eu queria a cura dele e de todas as crianças que têm câncer no mundo. É o que toda mãe quer.

Festa de Natal do ICI

Os gêmeos Gabriel e Guilherme estiveram entre as cerca de 800 pessoas que participaram da tradicional Festa de Natal do Instituto do Câncer Infantil (ICI), que ocorreu na Associação dos Servidores do Hospital de Clínicas. Entre os convidados, estiveram pacientes, ex-pacientes, voluntários e parceiros.

A chegada do Papai Noel foi um dos momentos mais aguardados. O bom velhinho veio em uma moto carregada de presentes. O evento natalino também ofereceu brincadeiras, maquiagem e tatuagem infantil, cabine de fotos e personagens.