IGP-RS mostra que nova droga sintética matou adolescente no ano passado, em Igrejinha

Timóteo Lucas Hoffmann, de 16 anos, tomou a droga acreditando se tratar de LSD. Para delegado, não é possível ter certeza se substância fez mais vítimas.

Exames do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP-RS) identificaram que uma nova droga sintética causou a morte de um adolescente em Igrejinha, na Serra gaúcha, no ano passado. Timóteo Lucas Hoffmann, de 16 anos, foi encontrado morto em um terreno baldio no dia 8 de setembro de 2018, e até recentemente, o que estava por trás do óbito não era conhecido.

Segundo o pai do jovem, Jair da Silva Hoffmann, ele havia saído para dormir na casa da avó, mas foi a uma festa. Conforme amigos que estavam com ele, Timóteo consumiu LSD.

Porém, os laudos iniciais da perícia não encontraram vestígios de nenhuma droga no corpo do jovem, nem de LSD, como relatado pelos amigos.

Testes para venenos e remédios também deram resultado negativo. Um segundo teste de LSD foi feito, em dezembro do ano passado, e novamente não demonstrou a presença da droga no organismo do rapaz.

Corpo do adolescente foi encontrado em um terreno baldio. Ele tinha saído para ir na casa da avó, mas foi em uma festa — Foto: Reprodução

Corpo do adolescente foi encontrado em um terreno baldio. Ele tinha saído para ir na casa da avó, mas foi em uma festa — Foto: Reprodução

O caso intrigou a equipe do IGP. A suspeita era de que se tratava de uma droga sintética – substâncias com estrutura e efeitos farmacológicos semelhantes às drogas controladas, mas que possuem variações para serem classificadas como ilegais ou detectadas em análises laboratoriais.

“Não existe um equipamento que vai me dar direto que é tal substância que nem o CSI [seriado de TV sobre investigações criminais]. Se nós não temos o padrão de referência, que pode ser adquirido comercialmente, nós temos que produzir esse padrão para poder fazer um laudo conclusivo da substância que ele consumiu.”, explica o químico Marcos José Souza Carpes, perito criminal do IGP.

Depois de muitas análises e métodos próprios de identificação de substâncias criados pelos peritos aqui no estado, o IGP identificou o que Timóteo ingeriu: a 25E-NBOH, uma droga nova que pode matar no primeiro uso e que é vendida como se fosse LSD. A confirmação foi em junho, e divulgada recentemente.

“O problema dessas drogas sintéticas novas é que não se sabe ainda quais os efeitos no organismo das vítimas, dos usuários, mas o que se sabe é que a dose letal é muito baixa. Então o risco da pessoa que está utilizando é muito grande porque a fabricação desses selos é feito de forma artesanal, clandestina. É uma substância muito tóxica. O nosso corpo não tem como transformar, metabolizar, num composto menos agressivo”, conclui a farmacêutica Maria Cristina Frank, perita criminal do IGP, que identificou a droga no corpo de Timóteo.

IGP usou métodos próprios para conseguir identificar a substância no organismo do jovem  — Foto: Fábio Almeida/RBS TV

IGP usou métodos próprios para conseguir identificar a substância no organismo do jovem — Foto: Fábio Almeida/RBS TV

Confusão com LSD

Usuários podem estar consumindo essa droga sem saber, achando que é LSD ou outras drogas de efeitos conhecidos, entende o delegado Heliomar Franco, que acompanhou as investigações do caso de Timóteo.

“Nós não sabemos dizer quantas pessoas podem ter morrido por ter consumido essa substância e não ter sido localizada na sua corrente sanguínea, que agora com esse exame mais moderno do nosso departamento de criminalística consegue então detectar. Vendiam por aí, como LSD, mas se fosse preso, ainda não era droga proibida. Então, não eram processados. Mas tinha gente morrendo por ai”, conclui o delegado.

Três amigos do Timóteo respondem em liberdade por omissão de socorro. Duas pessoas investigadas por terem fornecido a substância acabaram presas por tráfico de outras drogas encontradas durante as buscas.

Na época da morte do adolescente, o 25E-NBOH não era considerado droga ilícita. Só passou a ser proibida oficialmente três meses depois, em dezembro, quando foi incluída na portaria 344/98 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – Anvisa, que define as drogas que causam riscos que passam a ser criminalizadas.

Além da 25E-NBOH, outras três novas substâncias ilícitas foram proibidas pela Anvisa, as substâncias 25B-NBOH, 25C-NBOH, e 25H-NBOH. Essas drogas apresentam estruturas moleculares e efeitos parecidos com as outras drogas sintéticas conhecidas, como o próprio LSD.

No Brasil há outros registros e suspeitas de casos de morte pelo 25E-NBOH. Um também no ano passado, em Brasília, em que uma jovem de 19 anos, morreu por suspeita de ter usado 25E-NBOH em uma festa rave.

E outro em Serjipe, em 2017, quando um homem de 32 anos, morreu ao utilizar a droga em uma festa rave, em Aracaju.

Traficantes vendem 25E-NBOH para driblar a lei e por ser mais barata.

A reportagem da RBS TV conversou com traficantes que vendem drogas sintéticas pela internet. Sem saber que falava com um repórter, por uma rede social, um deles oferece todos os tipos de drogas.

Quando perguntado se vendia 25E-NBOH, ele diz que tem a droga e enviou uma tabela de presos e tipos de ilustrações que vinham nos selos. Conforme o traficante, a droga é parecida com o LSD, porém tem um gosto mais amargo.

“O valor é bem diferente. Vale a pena provar. Uma cartela de LSD custa R$ 400,00, do 25E-NBOH, R$ 150,00”, afirmou, à reportagem.

“Muita gente que vende NBOH (25E-NBOH) como doce (apelido do LSD)”.

Fonte: G1