Insônia, discussões, dúvidas, repercussão política: como Inter suportou um vexame no Brasileirão

Partida contra o Fluminense, no Beira-Rio, passou a ser de altíssimo risco

inter
Entre o sonho de título do Brasileirão e a sobrevivência do Inter no G-4 havia a cidade de Chapecó no meio do caminho. E uma goleada por 5 a 0 que, de tão constrangedora, virou piada para os rivais, causou acaloradas discussões de vestiário, provocou insônia na comissão técnica, voltou a levantar dúvidas sobre o poder de mobilização do treinador e poderá mudar até mesmo o rumo da eleição colorada.
A derrota invadiu a madrugada e, no hotel que acolheu o Inter em Chapecó, Abel Braga ainda tentava encontrar uma explicação para o vexame histórico.
Nesta sexta-feira, o treino na Arena Condá seria com portões fechados. Mas, quando o ônibus do Inter se aproximou do estádio, cerca de 200 torcedores esperavam os jogadores para incentivá-los, tirar fotos e pedir autógrafos. Os portões então foram abertos, e a torcida acompanhou o trabalho. Apesar da inesperada solidariedade, o treino foi quase em silêncio, com os atletas constrangidos pela goleada sofrida. À noite, a delegação embarcou de volta a Porto Alegre. D’Alessandro, sacado do jogo no intervalo, e o presidente Giovanni Luigi voltaram pela manhã, antes dos demais.
A partida deste domingo, no Beira-Rio, contra o Fluminense, passou a ser de altíssimo risco. A direção pede paciência à torcida e, para ganhar as arquibancadas, é possível que Abel preserve Rafael Moura, colocando o centroavante e dublê de goleiro no banco de reservas. O Inter tenta sair da sua autocrise.
Intervalo nervoso
As cobranças entre os jogadores foram duras no intervalo da partida contra a Chapecoense. O placar de 2 a 0, a falta de reação e a apatia da equipe impressionaram jogadores mais rodados, como Alex, D’Alessandro, Paulão, Dida e Juan. Houve discussões acaloradas, e Abel decidiu que D’Alessandro — um dos mais exaltados — daria lugar a Valdívia. 
O primeiro tempo na Arena Condá foi uma das piores partidas do camisa 10 no Inter. Ao final do jogo, soube-se que o filho de D’Alessandro, Santino, havia se ferido na escola — quebrou o nariz e cortou a cabeça, em uma queda. O argentino, por conta disto, retornou a Porto Alegre antes da delegação.
Choque de campeões
 
Foto: Inter/Divulgação

Abel Braga e D’Alessandro estão entre os maiores vencedores da história do Inter. A busca de ambos por vitórias para tentar devolver o Inter à ponta do Brasileirão estaria provocando um certo frisson no vestiário. No Beira-Rio, D’Alessandro é famoso por cobrar profissionalismo de todos e tentar extrair o máximo do time.
Por vezes, porém, o argentino avança o sinal, e o técnico precisa mostrar autoridade com ele. Foi o caso da intertemporada no Costão do Santinho, quando Abel assumiu como gerente e tirou D’Alessandro e Willians do amistoso contra o Joinville, devido à briga entre os dois em um treino ou como na substituição em Chapecó, após um bate-boca com outros jogadores no intervalo. Além disto, D’Alessandro está fortalecido junto à torcida, e de contrato renovado até o final de 2017 (foto acima). Já Abel Braga sofreu um severo desgaste após os 5 a 0.
 
Pesadelos na madrugada
Os cinco gols sofridos na Arena Condá mexeram com a cabeça dos jogadores, comissão técnica e direção presentes em Chapecó. Boa parte da delegação dormiu bem depois da 1h30min desta sexta-feira, remoendo a histórica marca de 5 a 0. Alguns integrantes do alto comando do Inter precisaram do auxílio de remédios para conseguir baixar a adrenalina e relaxar. Abel Braga e o vice de futebol Marcelo Medeiros conversaram até altas horas. Atônitos, não conseguiram encontrar explicações para um dos maiores fiascos da história do clube no Brasileirão. Parecia que a Chapecoense seguia fazendo gols.
Abel com futuro incerto
 
Foto: Marcio Cunha/Especial

Há três anos, o Inter repete insucessos no segundo semestre. Em 2012, Dorival Júnior caiu, Fernandão assumiu e também foi demitido enquanto tentava alavancar a campanha no returno do Brasileirão. Em 2013, Dunga foi demitido após quatro derrotas em série no Brasileiro. Clemer pegou o time e só ficou no cargo porque o campeonato estava no final. Agora, o Inter coleciona insucessos e Abel Braga passa a ser contestado pelos torcedores.
A direção, porém, não pretende demiti-lo. A permanência de Abel para 2015, porém, passou a ser uma incógnita. Menos de 60 dias atrás, o treinador era nome certo entre situação e oposição para permanecer. A partir destes tropeços, a sua renovação dependerá do desempenho da equipe até o final do campeonato.
A conquista do Gauchão e as vitórias em Gre-Nais tem sustentado a imagem de Abel até aqui. Mas as constrangedoras eliminações na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana mais a atual queda de desempenho no Brasileirão passaram a arranhar a sua imagem.
Sobrevivência no G-4

Foto: Bruno Alencastro
As derrotas em sequência para o Cruzeiro (foto acima) e Chapecoense obrigam o Inter a derrotar o Fluminense, amanhã, no Beira-Rio, sob pena de o time deixar o G-4 do Brasileirão. Os adversários diretos são Grêmio e Corinthians. Se ambos vencerem seus jogos contra Palmeiras e Atlético-MG, respectivamente, tiram o Inter da zona de classificação para a Libertadores — se o time de Abel Braga não vencer. Os três pontos são mais que necessários, uma vez que São Paulo ainda pode vencer a Copa Sul-Americana (torneio em que o Inter foi eliminado na primeira rodada pelo Bahia) e derrubar uma das vagas na principal competição continental na próxima temporada.
Desfalques para domingo
 
Foto: Marcio Cunha/Especial
Veio de Abel Braga a confirmação de que Nilmar não será titular contra o Fluminense. Alegando que ainda falta ritmo ao camisa 7, deve colocá-lo para atuar alguns minutos, no segundo tempo. A expulsão de Dida (foto acima) ampliou os problemas do treinador para o clássico com ares de decisão contra o time de Cristóvão Borges. Alisson e Agenor disputam a vaga de goleiro, uma vez que Muriel recupera-se de lesão. Wellington, Wellington Silva e Claudio Winck, todos lesionados, seguem fora — bem como Sasha, que voltará somente no ano que vem. Aránguiz defende a seleção chilena em amistosos contra Peru o (realizado na noite desta sexta-fera) e Bolívia (na próxima terça-feira).
Juan, que saiu lesionado na Arena Condá, passará por avaliação. Rafael Moura poderá ser preservado. Assim, o Inter deve ir a campo com Agenor (Alisson); Gilberto, Paulão, Juan (Ernando) e Fabrício; Willians, Ygor (Bertotto), Alex, D’Alessandro, Alan Patrick; Wellington Paulista. O Fluminense, que também tenta sair de uma crise, terá as suas principais estrelas contra o Inter. Sobis e Walter são reservas na equipe atual.
Impacto na eleição
O golpe em Santa Catarina foi tão forte que Marcelo Medeiros passou a rever a sua candidatura à presidência. Nome indicado pela situação à sucessão de Giovanni Luigi, ele já estava em campanha. No site oficial do clube, Medeiros passou a ser um dos principais personagens nas fotos. Em uma matéria sobre a presença do Inter em Chapecó, na véspera dos 5 a 0, Medeiros aparece em 14 das 20 fotos oficiais. Também estava na capa do site assinando a renovação de contrato com D’Alessandro.
Tamanha exposição gerou comentários entre conselheiros, de que o vice de futebol estaria mais preocupado com a sua candidatura do que com o departamento que dirige. A goleada de Chapecó pode ter desestabilizado a candidatura Medeiros e a sua busca por novas adesões. Mesmo que Medeiros desista da candidatura, uma coalização com a antiga gestão está praticamente descartada. Há o temor que os grupos se fragmentem ainda mais, caso haja uma reaproximação forçada.
Já a oposição deverá confirmar nos próximos dias uma chapa com o ex-presidente Vitorio Piffero na cabeça. A oficialização, porém, ocorrerá somente no fim do mês, perto do dia 31, a data limite para as inscrições à eleição do clube. A oposição argumenta que não entrará em campanha agora para não ser acusada de atrapalhar os trilhos do time no Brasileirão. É provável que o Convergência Colorada apoie a chapa de Piffero.
Fonte: Diário Gaúcho