Médico alegretense relata, de Londres, como a Pandemia está afetando os britânicos

A série de entrevistas especiais com alegretenses que estão residindo em outros países e estados e estão convivendo em meio à pandemia do coronavírus, traz hoje o médico Guillierme Chervenski Figueira. O alegretense falou com a reportagem, por telefone, e descreveu como está a situação relacionada à Covid-19, em Londres, onde reside atualmente.

No início do diálogo bem humorado ele descreveu: bueno, como diria o gaúcho, iniciarei contando os fatos mais recente e depois o início da minha caminhada. 

Guillierme, neste momento está em Londres realizando um mestrado em Antropologia Médica com bolsa de estudos completa do governo britânico (Chevening Scholarship).

A universidade é a University College London (UCL) onde o curso de antropologia é muito conceituado. Basicamente significa estudar como a cultura de diferentes populações e comunidades influenciam o modo como as pessoas adoecem ou não. “Para exemplificar seria como pensar no hábito de tomar chimarrão e na importância que isso tem para nosso povo como meio de manter relações, uma pausa para o dia de trabalho, um lazer. Mas, também, refletir sobre de que forma esse hábito influencia nosso corpo e mente”- explicou. 


Outro exemplo importante, citou o médico, foi durante o surto de Ebola que aconteceu no oeste africano em que foram antropólogos médicos. Ao chegar nas comunidades eles entenderam o modo como as pessoas vivem, descobriram a importância para eles de tocar os corpos dos seu familiares quando faleciam. Mas isso aumentava muito a transmissão da doença e teve que ocorrer um trabalho bem exaustivo para explicar aos moradores o risco que estavam correndo. A ideia principal é entender os processos, a partir da voz direta das pessoas que estão vivendo os problemas. Os temas são bem variados e diversos. 

 

“No nosso contexto atual podemos pensar em como cada comunidade está lidando com o isolamento social e assim evitar um colapso no sistema de saúde e, consequentemente, no econômico também. Podemos pensar isso a nível internacional, comparando países, mas também dentro do próprio Brasil. Outra questão: quem tem possibilidade de fazer isolamento e o que acontece com aqueles que não possuem condições sócio econômicas para enfrentar o problema de saúde e que virou uma crise social também”- destacou.

 

Nesse momento, o alegretense está em isolamento, em casa, e trabalhando nos projetos do mestrado. “Não estou trabalhando na linha de frente aqui, pois preciso de revalidação do diploma que é um processo que demora para acontecer. Já me voluntariei e caso eles desconsiderem a burocracia deverei ser chamado para trabalhar diretamente na linha de frente. No entanto é muito frustrante não poder ajudar nesse momento tão importante e, assim como eu, tenho alguns outros amigos que estão pela europa em situação semelhante, de não poderem auxiliar como profissionais da área da saúde” – disse o médico.

Guillierme acrescentou que, por outro lado, isso serve para perceber que as pesquisas também são muito importantes em situações como essa, pois todo conhecimento utilizado para combater a pandemia vem de produção científica, e os países que estão lidando melhor com a Covid são justamente os que conseguem seguir as recomendações dos pesquisadores e os que investem em pesquisa.   

 

“A situação nesse momento aqui continua bem preocupante. O governo no início demorou a tomar medidas  mais drásticas com medo de recessão econômica e os casos dispararam. Embora o sistema de saúde seja relativamente bem estruturado, ainda assim muitos hospitais foram montados, e uma força enorme está sendo feita para apoiar os trabalhadores na linha de frente. Não apenas médicos e enfermeiros, mas também técnicos de enfermagem, motoristas de ambulâncias, profissionais da limpeza, recepcionistas, assim como trabalhadores do setor de transporte e de alimentação. Na semana, dia 14 de maio, iniciou-se um processo de flexibilização do lockdown, mas ainda com muitas incertezas e sem um plano claro de retorno ao que seria algo normal”- esclareceu o alegretense. 

 

A história de Guillierme Chervenski Figueira

 

Ele inicia dizendo que ninguém conquista nada sozinho e, é muito grato aqueles que o ajudaram e ajudam a construir seu caminho.

O médico residiu até os 14 anos em Alegrete, quando saiu para finalizar o ensino médico em Santa Maria, onde hoje o pai (Cesar Augusto Figueira – Teda), ainda reside, assim como, a mãe (Betania Chervenski) e seus irmãos (Gabrielle, Lorenzo e Jéssica). Gabrielle, orgulhosa pela trajetória do médico, foi a responsável pelo primeiro contato com a reportagem. 

Em Alegrete estudou no IEEOA, Demétrio Ribeiro e CDC, residiu na Vila Nova e na Vila Prado. Até sair da cidade participou do grupo de invernada do DTG do Clube Juventude, do qual tem muito carinho e orgulho de ter feito parte.

“Já em Santa Maria, no final do curso de medicina retornei a Alegrete para um estágio nas ESFs por 2 meses, o que foi muito gratificante, aprendi muito com o Dr Carlinhos, Dra Carmem Schnor Haygert, entre outros também importantes. O que tornou esse estágio ainda mais especial foi justamente o fato de ter parentes em cada bairro onde atuamos e de como isso também me ajudou a ficar mais próximo da minha família já que havia anos que tinha saído da cidade. Passei pelos postos ESF Promorar, ESF Vila Prado, ESF Dr Romario, ESF Saint Paustos, Centro Social Urbano”- lembrou.

 

Ainda durante a faculdade de medicina, Guillierme, residiu um ano na Escócia onde estudou fisiologia e teve o primeiro contato com a antropologia médica na Universidade de Glasgow com bolsa de estudos do Ciência sem Fronteiras do governo brasileiro. Após finalizar o curso de medicina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), trabalhou durante dois anos e meio em São Francisco do Sul (Santa Catarina), antes de receber a bolsa de estudos. 

“Meus avós, tios, tias, primos, tia e tios-avós ainda moram em Alegrete, assim como, muitos amigos. Retorno quando posso e mantenho um carinho muito grande por essa cidade onde realizei meus primeiros sonhos” – finalizou. 

 

Flaviane Antolini Favero