Alegrete e o RS perderam o tradicionalista, compositor, artista e apresentador Antônio Augusto Fagundes de tradicional família de artistas que nasceu no Inhanduí, aqui em Alegrete
Ele morreu nesta quarta-feira, em Porto Alegre, aos 80 anos. O autor da célebre letra do Canto Alegretense que virou hino do RS . Nico Fagundes era respeitado tanto pelo trabalho como poeta, quanto de estudioso da alma e das tradições gaúchas.
Ele nasceu em Alegrete em 4 de novembro de 1934 – município que homenagearia com a composição, um dos hinos da música regionalista .
Ele estava internado há mais de um mês no Hospital Ernesto Doneles em Porto Alegre com uma infecção respiratória. Ele também se notabilizou por apresentar o programa “Galpão Crioulo”, da RBS TV, por cerca de 30 anos, até 2012, quando a atração passou ao comando de seu sobrinho, Neto Fagundes.
Nico chegou a Porto Alegre aos 20 anos e rapidamente se enturmou com os fundadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Inicialmente, atuou como poeta e divulgador da obra de, entre outros, Aparício Silva Rillo e Jayme Caetano Braun.
Depois de formar-se advogado – Teixeirinha, Gildo de Freitas e outras personalidades ligadas à cultura regional foram seus clientes –, Nico se especializou em História do Rio Grande do Sul e fez Mestrado em Antropologia Social. Dedicou-se a pesquisar a formação, a identidade e os costumes típicos do Sul, levando-os a conhecimento do público por meio de livros, canções e, sobretudo, graças a sua atuação nos meios de comunicação.
Biografia
Nico Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1934, em Inhanduí, interior de Alegrete. Nico iniciou a carreira jornalística aos 16 anos, como cronista e repórter do jornal Gazeta de Alegrete. No mesmo período, começou a atuar na rádio local, apresentando programa humorístico e gauchesco. Foi secretário dos Cadernos do Extremo Sul, editando diversos poetas.
Em 1954, mudou-se para Porto Alegre, onde ingressou no 35 CTG, a convite do poeta Lauro Rodrigues. No mesmo ano, tornou-se redator do Jornal A Hora, no qual atuou durante muitos anos escrevendo a página Regionalismo e Tradição.
Em 1955, passou a fazer parte do Instituto de Tradições e Folclore da Divisão de Cultura do Estado. Durante oito anos, estudou folclorismo, especializando-se em Cultura Afro-gaúcha. Eleito Patrão do 35 CTG, tornou-se professor de danças folclóricas e literatura gauchesca no Instituto de Tradições e Folclore. Viajou para a Europa como sapateador do grupo Os Gaudérios, morando em Paris por quatro meses.
Iniciou pesquisas de indumentária gaúcha, tornando-se a maior autoridade sobre o assunto no Rio Grande do Sul. Contratado como ator pela TV Piratini, foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, mais tarde batizado de Os Gaúchos, do qual foi diretor durante 15 anos.
Em 1960, fundou, no Instituto de Tradições e Folclore, a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que funcionou durante seis anos. Atuou como titular nas cadeiras de danças folclóricas e indumentária gaúcha. Foi diretor da escola durante seis anos.
Formado em Direito, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social, todos os seus cursos foram realizados na Universidade Federal do RGS (UFRGS). Por todas essas suas qualificações, Antonio Augusto Fagundes é respeitado como autoridade em Folclore gaúcho, História do Rio Grande do Sul, Antropologia, Religiões afro-gaúchas, Indumentária gauchesca, Cozinha gauchesca e danças folclóricas.
Entretanto, a face menos conhecida deste intelectual é também sua face mais antiga, a de poeta. Ganhou prêmios e distinções importantes, como a Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro, a Comenda Osvaldo Vergara, da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual é também advogado jubilado, e a Comenda do Mérito Oswaldo Aranha. Recebeu inúmeros prêmios em poesia, canções gauchescas, declamações, danças folclóricas e teses. É autor de mais de 100 músicas, entre as quais, “O Canto Alegretense”.
Escreveu o roteiro do filme “Para Pedro”. Atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme “Ana Terra”. Escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme “Negrinho do Pastoreio”, com Grande Otelo. Atuou ainda como ator no filme “O Grande Rodeio”, o qual também produziu e dirigiu.
Em 1976, ingressou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore. Em 1990, fundou e assumiu o comando do grupo Cavaleiros da Paz, com o qual empreendeu cavalgadas por diversos países da América do Sul. Quatro anos depois, assumiu a presidência do IGTF.
Na RBS TV, Nico apresentou o Galpão Crioulo por três décadas, de 1982 a 2012. Sua despedida da televisão foi marcada por uma edição comemorativa do programa, gravada com grandes nomes da música regionalista em Venâncio Aires. No ar, Nico foi substituído pelo sobrinho Neto Fagundes e pela cantora Shana Müller.
Em 2000, teve um acidente vascular cerebral (AVC), e chegou a se afastar do Galpão Crioulo, mas se recuperou. Em 2001, juntou-se aos sobrinhos Neto e Ernesto e ao irmão Bagre Fagundes para formar o grupo Os Fagundes.
Confira o Canto Alegretense: