O fim da “bolacha do Nero”, depois de quase meio século em Alegrete

A Padaria do Nero, tradição desde 1972, com a melhor bolacha de Alegrete, encerrou suas atividades de panificadora e mini-mercado no último dia 31 de março.

O Portal Alegrete Tudo visitou a padaria no dia da última fornada daquela que é apontada como melhor bolacha da 3ª Capital Farroupilha.

Estabelecida há quase meio século no mesmo endereço, na Andradas 217, O panifício Goulart, ou Padaria do Nero, como é conhecida na cidade, iniciou suas atividades em 1972, quando o Senhor Nero comprou o estabelecimento do Sr. José Soares.

Desde então as famosas bolachas do Nero, ganharam horizontes e a preferência dos alegretenses e forasteiros. Era comum os alegretenses e visitantes encomendar a bolacha do Nero. A cada viagem, um item sagrado na bagagem, era a bolacha torrada.

A padaria que funcionou num ambiente simples, sempre primou pelo bom atendimento e com o passar do tempo implantou um mini-mercado atendendo as necessidades da fiel clientela alegretense. A caderneta funcionou até o último dia. É nela que eram anotadas as compras dos seletos clientes que possuíam esse modelo de crédito.

 

Um diferencial da padaria era possuir colaboradores com mais de 30 anos de casa, como no caso de Nelson Castro, Valdecir Nascimento e Joarez Gustavo, o trio que completou 3 décadas na empresa.

Nero Vaz Goulart tocou o empreendimento até o ano de 2014, completando 42 anos de serviços prestados a comunidade. Fazia questão de mandar entregar o rancho dos clientes em suas casas, não importava o valor.

Lotava as kombis de pães e bolachas que abasteciam os quartéis, bares e armazéns que revendiam seu produto. Nero faleceu em 26 de dezembro de 2014.

Daí em diante o filho mais jovem, Romário Vaz Goulart, tocou a empresa familiar, dividindo seu tempo entre os negócios na cidade, nas fazendas do Rincão do 28 e no Rincão da Palma. Manteve-se à frente do estabelecimento durante os  últimos 6 anos. Romário,  infelizmente, foi vítima da covid-19, e faleceu no dia 13 de março, um dia antes do seu 39° aniversário.

Os irmãos Jhon Goulart, que reside em Brasília e Márcio Vaz Goulart atualmente em Canoas, vieram a Alegrete e decidiram pelo fechamento da padaria.

Com o final das atividades, a filial da Cidade Alta também encerra suas atividades. A filial conhecida como Recanto do Nero, era gerenciada pelo primo e cunhado, Glauber Diniz Goulart.

Morando longe de Alegrete, os irmãos acharam inviável seguir com os negócios, já que mantêm atividades profissionais fora do município.

As máquinas e os fornos da padaria do Nero pararam de funcionar na quarta-feira (31), às 19 hs. Ali chegaram a fabricar 1200 quilos de pães por dia, trabalho árduo dos padeiros, dia e noite. No auge da produção, 20 padeiros se revezavam em turnos para fabricação de pães e bolachas.

Jhon relembra que nos Anos 80, chegaram a trabalhar na padaria 58 colaboradores, atualmente esse número foi reduzido a 13. Já Márcio Vaz, recorda que eram 800 quilos, só de bolacha nos anos 90. A produção era diária, destaca um dos proprietários do tradicional ponto na Andradas.

Com a pandemia o movimento caiu, mesmo assim a tradição da bolacha se manteve, os clientes, embora em menor escala, continuaram degustando a bolacha e consumindo os demais produtos. Atualmente 13 funcionários prestavam serviço na padaria.

Em tom de agradecimento, os irmãos Jhon e Márcio agradecem os atuais e ex-colaboradores, a comunidade alegretense pelo carinho e apreço durante todos esses longos anos.

Emocionada, a dupla não escondia a satisfação do dever cumprido. Foram fiéis aos princípios do pai. Atendimento e camaradagem pautaram o trabalho até às 19h de quarta-feira, quando as portas foram fechadas.

No final da reportagem foi necessário degustar uma bolacha torrada, reunir toda turma para a última foto, não sem antes, descobrir o verdadeiro segredo da bolacha do Nero:
“A massa deve ser seca, com banha e um bom padeiro” destacou uma das funcionárias da padaria, Calinca Abreu.

Júlio Cesar Santos