Onde os crimes 'moram' na Região Central

Dados são do primeiro trimestre dos últimos três anos

 
Os dados divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública sobre a criminalidade no Rio Grande do Sul permitem fazer um Raio X da violência em Santa Maria e nas outras 38 cidades da região de cobertura do Diário. Somadas as populações desses 38 municípios, são mais de 514 mil habitantes, praticamente o dobro de moradores de Santa Maria. Mas a cidade, seguida de Cruz Alta, lidera o ranking de indicadores como assassinatos, furtos de veículos, roubos e roubos de veículos. Apenas quando se trata dos furtos é que a região assume a liderança do ranking (veja o quadro “contexto regional”). Se somados o primeiro trimestre dos três últimos anos, são 3.073 registros em Santa Maria, e 5.294 na região. 

Para o delegado Regional da Polícia Civil de Santa Maria, Marcelo Arigony, o que chama a atenção é o crescimento recorde dos homicídios em Santa Maria e que as demais cidades têm poucas ocorrências, de crimes menores, que não envolvem mais, como já ocorreu em outras épocas, a participação de quadrilhas vindas de fora.

Uma curiosidade é que os furtos são justamente o único tipo de crime que apresentou redução na região. Foram 1.993 casos no primeiro trimestre de 2012, 1.864 no de 2013 e 1.437 no de 2014. Em Santa Maria, essa lógica não se manteve, pois os números cresceram de 952 para 974 entre 2012 e 2013. Já este ano, subiram para 1.147 nos primeiros três meses. 
– Infelizmente, o que as ocorrências nos mostram é que há uma forte relação entre os crimes e o consumo de drogas, especialmente de crack. Isso também faz com que a sensação de insegurança seja até maior do que a que aparece nos registros policiais. Mas há pontos positivos, como termos poucos homicídios e, há muito tempo, não registrarmos casos de roubo com morte – argumenta  Cristiano Fiolic Alvarez, delegado regional de Cruz Alta, cidade que tem 62.821 habitantes, 12,21% da população da região, e assume a primeira posição do ranking na maioria dos crimes. 

A prefeita de São João do Polêsine, Valserina Gassen, tem uma receita para alcançar bons indicadores. Por lá, se somados os furtos registrados no primeiro trimestre dos três últimos anos, chega-se a 11 ocorrências. 
– É fato que o município ser pequeno ajuda. Praticamente, todas as pessoas se conhecem. Temos eventos que fazem a população triplicar, nem por isso a violência aumenta. A parceria entre prefeitura, Brigada Militar e população ajuda bastante. Além disso, a educação é uma questão-chave. Nossas crianças e jovens estão na escola, o que deve refletir lá na frente, quando terão oportunidades melhores para não caírem na tentação da criminalidade – diz a prefeita. 
  
A socióloga, especialista em Segurança Pública e Cidadania e diretora do Instituto Fidedigna, Aline Kerber, lembra que nem sempre o fato de uma cidade ser menor significa que ela está longe dos indicadores de violência. Em 2013, um estudo do Instituto Sangari traçou um mapa da violência no país, mostrando que houve uma interiorização dos crimes.
Para Aline, prefeituras que investem em ações como videomonitoramento, gabinetes de gestão integrada e projetos sociais de prevenção à violência saem na frente na busca pela queda dos índices negativos:
– Muitos crimes estão relacionados às drogas, mas não dá para jogar tudo no colo do tráfico e da polícia. Quando uma cidade é protagonista em segurança, caem indicadores como roubos e furtos. Santa Maria adotou várias ações, mas me parece que não estão suficientemente integradas.

 
 
Fonte: Diário de Santa Maria