Para este agente comunitário altruísmo é sacerdócio

Só o trabalho constante transforma. Em meio a tanta intolerância que se caracteriza pela irracionalidade dos comportamentos nos últimos anos, ainda há quem se preocupe com o seu semelhante, dedicando-se a uma vida de altruísmo. A rotina quase sempre tumultuada entre tantas obrigações e atividades do dia a dia, não são desculpas para que a empatia seja colocada de lado. Um exemplo é o agente comunitário Ênio Santos, de 63 anos, que sempre encontra um tempo para se dedicar ao próximo e, assim, contribuir para uma sociedade mais igualitária e justa.

Ele está sempre envolvido com ações solidárias e se dedica de forma muito intensa com a companhia da esposa Maria Oliveira de 53 anos.

Em uma entrevista no PAT, Ênio citou que desde 2000 o trabalho é feito de forma mais efetiva. Ele já realizou mutirões para limpeza às margens do Rio Ibirapuitã, construiu bancos em paradas de ônibus, organizou e idealizou a Praça Oito de Março no bairro Vila Nova, também está engajado na abertura da rua que vai fazer a ligação do Centro com o bairro, além da retirada da Passarela. Recentemente, também, apresentou o projeto de um multipalco para a Praça, da Vila Nova.

Esses são apenas alguns dos inúmeros trabalhos realizados de forma incansável pelo morador do bairro Vila Nova. Ao ser questionado sobre o motivo de ter essa dedicação, o agente comunitário não exitou em dizer que durante os anos em que está nesta função, há mais de duas décadas, já se deparou com muitas situações cruéis. De famílias em total vulnerabilidade. “Quando comecei a exercer minha função como agente comunitário há 24 anos, muitas vezes chorei ao me deparar com a miséria que algumas famílias vivem. E, no decorrer dos anos, mesmo com pouco eu contribui para o bem comum, e isso já era uma satisfação pois cada um tem uma realidade diferente e quanto mais houver interesse em ajudar o próximo, o resultado será sempre compensador para quem o faz” – completou.

Ênio é descente de índio, disse que o interesse em contribuir com os outros vem de berço. A bisavó Sofia de Brum sempre realizou ações em prol da comunidade e a avó Alzira de Brum era espírita e igualmente dedicada a prestar serviços comunitários e ajudar o próximo.

“Nunca pensei em receber algo em troca, tanto que auxilio famílias e tenho uma paixão por animais. Na minha casa, hoje, são 10 cachorros e treze gatos, todos foram adotados pois foram abandonados ou estavam doentes pela rua.  Em 2002 enviei para Câmara de Vereadores um Projeto de Lei relativo à proteção dos animais. Está engavetado, mas a minha preocupação, não. Também, acredito que o meio ambiente é algo que requer muito mais atenção. O assoreamento do Rio Ibirapuitã, o descarte irregular. Quando fizemos algumas limpezas, foi possível presenciar o descaso através do descarte de geladeiras, camas, fogões, colchões, móveis, estofados entre outros” -observou.

Dentre as preocupações, o agente comunitário considera que a desunião de muitas famílias é um dos principais problemas.

Ele ainda ressalta que o apoio e a parceria da esposa sempre foi muito importante em todas as batalhas. ” Sempre enalteci o respeito, tanto que eduquei uma das filhas da Maria. Pois em alguns residências, vi absurdos, até mesmo mães dizendo que as filhas entre oito e dez anos deveriam tentar conseguir um homem para que pudessem ter o que desejavam. Isso era chocante-” lembrou.

Ao ser questionado sobre política, pretensões e se era partidário. Ênio explicou que já fez parte do PDT, mas que todas as suas causas sempre foram apartidárias e que resolveu sair do partido pois vê que uma sigla, muitas vezes, pode prejudicar ou dificultar ainda mais a possibilidade de realizar um bom trabalho em favor da comunidade.

“Acho que a política não deve ser vista como dinheiro e sim como um sacerdócio pela comunidade, isto é muito difícil” – completou.

Para finalizar o agente comunitário evidenciou a importância da mulheres e falou que a escolha do nome da Praça foi em homenagem a este ser guerreiro que precisa ser cada vez mais valorizado. Ele destacou que está sempre falando sobre a violência contra as mulheres, o crescente número de feminicídio e a necessidade de ter mais proteção às vítimas. Para Ênio as mulheres são a essência de Deus.

Flaviane Antolini Favero