Parados, motoristas de van escolar viram a própria renda cair a zero em Alegrete

Em virtude da paralisação total do funcionamento das escolas devido à pandemia do Coronavírus, a prestação do serviço de transporte escolar se deparou com o cenário de impossibilidade de continuar atuando.

Garantir o pagamento das parcelas da casa própria, do carro usado para trabalho ou até mesmo, nos casos mais drásticos, das compras de supermercado para os filhos, não tem sido tarefa fácil para muitos motoristas de transporte escolar.

A reportagem entrou em contato com dois profissionais dessa área em Alegrete, dos quatros que operam o serviço de vans escolares.

Parados desde o mês de março, quando as aulas acabaram suspensas em decorrência da pandemia do coronavírus, muitos profissionais viram a renda cair a zero. Alguns conseguiram negociar com os pais dos estudantes o pagamento de parte da mensalidade combinada no começo do ano, outros, não. Como não há previsão para retorno das atividades escolares, muitos já traçam as contas na ponta do lápis e escolhem quais delas conseguirão pagar no próximo mês.

Cristian Ferreira, trabalha no ramo há seis anos. Proprietário da CF Transportes, diz que por sorte está com as contas equilibradas. Trabalhou pela última vez no dia 20 de março.

Com duas vans paradas, calcula um prejuízo de pelo menos 10 mil mensais. “Ainda bem que os veículos estão quitados sem dívidas. Eu iria fazer uma obra em casa, por sorte acabei não começando e o dinheiro que economizei é que está me mantendo sem trabalhar até este mês”, explica o profissional.

Sobrevivendo na bandeira vermelha do distanciamento controlado do RS, Cristian já cogita para agosto, ter que se desfazer de uma das van para não quebrar com seu negócio.

“Esse distanciamento social está sendo importante para que nossa cidade se mantenha com um número baixo de contaminação. Meu medo é que na volta da abertura das escolas a epidemia se prolifere mais forte”, comenta.

O motorista conta que tem conversado com os pais e mães dos seus passageiros, e dependendo da gravidade da doença não pensam em mandar seus filhos tão cedo para as escolas. Ele torce que volte tudo ao normal, porém é pessimista quanto ao retorno ainda este ano.

“Não sei o que pensam meus companheiros de profissão, mas por mim esse ano poderia se encerrar e voltar tudo em fevereiro de 2021. Imagina, 15 alunos dentro de um ambiente fechado. Se um tiver infectado provavelmente todos serão inclusive eu que tenho meus avós com 88 anos. Muitos vão quebrar, mas o transporte escolar é muito importante para nossa cidade se desenvolver. Então temos que nos cuidar um do outro”, assegura Cristian.

Outro profissional de transporte escolar contatado pelo Portal Alegrete Tudo é Paulo Cunha. Sócio-proprietário de uma empresa de transporte escolar no município, ele presta serviço para as escolas particulares de Alegrete deste 1996.

Com 26 alunos, o trabalho era diário com 15 de manhã e 11 alunos no período da tarde, até março a rotina era feita no trajeto que envolvia o Colégio Raimundo Carvalho, Colégio Divino Coração e a Escola Adventista.

A rota principal é a Vila militar e Cidade Alta e uma região da Zona Norte. “Paramos de trabalhar com as crianças no dia 16 de março”, confirma Cunha.

Com mais de noventa dias parados, ele conta que recebeu um mês de alguns pais mas depois parou. “Estamos sem renda da empresa do transporte escolar. “Estamos nos assegurando com outra rendas”, revela o trabalhador. Sem parcelas da van, ele ainda está tranquilo, espera que em agosto volte às aulas presenciais. Fomos os primeiro a parar de trabalhar e seremos os últimos a voltar” resigna-se.

Teremos que redobrar a segurança. Nos adequar às novas regras , como uso de máscaras para todos os passageiros, álcool em gel , limpeza dos calçados dos passageiros e bastante ventilação com vidros e janelas abertas”, prevê o retorno.

Paulo Cunha está confiante. Diz que o momento é difícil mas é de confiarmos em Deus ,que vai melhorar e não podemos nós apressarmos. “Dias melhores virão, e todos vamos voltar a trabalhar novamente”, confia.

Júlio Cesar Santos