João Vitor Raffler Siqueira nasceu em 23 de novembro e teve alta 125 dias depois. Ele teve complicações intestinais e trombose.
Foram quatro meses que a advogada Jacque Raffler, de 37 anos, precisou fazer o trajeto de Novo Hamburgo até o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, todos os dias, para visitar o filho recém-nascido.
João Vitor Raffler Siqueira nasceu prematuro, no dia 23 de novembro, e precisou ficar no hospital até o dia 27 de março, quando finalmente recebeu alta. Jacque estava com 32 semanas quando João nasceu, ele pesava 1,9kg.
“Nunca imaginei que fosse ficar tanto tempo. Pior sensação é tu sair de lá e ele ficar. Entra de barriga cheia e sai de braço vazio”, diz Jacque.
A mãe teve alta dois dias após o parto.
“Eu vim para casa. Eu ia todos os dias. Todos, todos, todos os dias. Essa é a pior parte, porque a gente vem embora sem o bebê. Eu fui nos 125 dias, todos os dias para o hospital e eu passava com ele, direto”.
João Vitor ficou 62 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, cinco na UTI pediátrica e o restante no quarto. Ele precisou fazer uma reabilitação intestinal e desenvolveu uma intolerância à lactose, não se adaptando ao leite da mãe. No último mês antes de ir para casa, o menino desenvolveu uma trombose e precisou voltar para a UTI.
“Ele ficou 62 dias internado com a nutrição pela veia, e desaprendeu a mamar. Então, com a fonoaudióloga, a gente começou a fazer ele aprender a mamar com 1ml, 2ml, até chegar a 90ml para podermos ter alta”, conta a mãe.
Na UTI Neonatal do Hospital de Clínicas não há restrições para os pais visitarem os filhos, eles podem passar o dia inteiro com os bebês. Uma das práticas adotadas é o método canguru, no qual há o contato pele a pele entre o recém-nascido e a mãe, para estimular a proteção.
“Tu chega e elas fazem questão que ele saia da encubadora e que tu aproxime ele, coloque ele perto do teu peito, que fica batendo coração com coração, para eles desenvolverem. Ou então no colo. Mas eu comecei a pegar o meu filho sem fios só em março. Nunca tinha conseguido pegar meu filho no colo sem estar preocupada com os fios que estavam ligados a ele”, relata a mãe.
A advogada conta que no hospital, as mães com os filhos internados criam uma rede de fortalecimento e dão suporte umas às outras.
“Vi tanta coisa naquela UTI Neonatal, é muito sofrimento que algumas crianças passam, crianças que nascem com problemas. Não é fácil. São mulheres muito guerreiras que têm os filhos lá. E uma ajuda a outra. Tu troca muita experiência e muita força, vai admirando”.
No dia que João Vitor teve alta, Jacque não conteve a emoção, já que havia criado uma rotina em ir até o hospital, além de ter criado vínculos com os profissionais e funcionários.
“O dia que eu fui embora, eu passei pela roleta e comecei a chorar desesperadamente. Parecia que aquilo já fazia parte de mim. Todo mundo já me conhecia, sabiam quem era o João, mas nunca tinham visto ele. E quando eu saí com ele, as pessoas me desejaram tudo de bom, e aquilo me deu um sentimento. Parecia que eu ia sentir falta inclusive daquilo.”
João Vitor Raffler Siqueira nasceu prematuro e ficou 4 meses internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Foto: Arquivo Pessoal
A advogada não havia planejado ter o filho e descobriu a gravidez com cinco meses de gestação. Dois meses depois, ela já estava no hospital para ganhar o bebê.
“Tu aprende a ser mãe meio que na marra. Tu cria uma força. É uma coisa que só depois que o filho nasce tu cria uma força muito grande”.
Após passar o Natal e o Ano Novo hospitalizado, agora, em casa, João Vitor tem atenção exclusiva da mãe, que conta que ele está crescendo e ganhando peso.
“Parece que as fichas vão caindo. É incrível, é demais. Eles são muito fortes. São guerreirinhos, tu acha que eles não vão aguentar, mostram o quão forte eles são”, conta a mãe.
Neste final de semana, Jacque terá o primeiro Dia das Mães ao lado do filho.
“Já estava até achando que eu ia passar o Dia das Mães no hospital. Mas vou passar em casa com ele”.
O Chefe do Serviço de Neonatologia do HCPA, Renato Procianoy, afirma que há muitos cuidados com os bebês prematuros.
“Se o bebê nasce antes do tempo, os órgãos não estão suficientemente maduros e não estão totalmente habilitados para sair do útero, e pode começar a ter uma série de problemas decorrentes da imaturidade do recém-nascido. Isso acaba levando a uma série de problemas [no bebê], que tem que ficar frequentemente muito tempo internado no hospital”, explica o médico.
Segundo Renato, no período em que o bebê está internado na UTI é ideal que a mãe fique bastante tempo com ele.
“A gente permite que os pais entrem e fiquem o tempo que quiserem lá dentro da UTI, mesmo na fase que eles estão mais doentes. A entrada não é limitada, não liberamos só no momento que o recém-nascido está estável. Estimula a relação mãe e bebê”, destaca.
Fonte: G1