Polícia investiga matança de ovelhas por cães no RS

Ao mesmo tempo, veneno proibido tem sido usado para combater cães que atacam as ovelhas. Especialistas alertam para os riscos.

Criadores de ovelhas enfrentam o prejuízo causado pela matança de animais por cães que atacam propriedades. Mas a Polícia Civil ainda investiga outro crime: o uso de veneno proibido para exterminar esses cachorros.

Em São Vicente do Sul, na Região Central do estado, o administrador Cleomar de Oliveira Pinto perdeu 40 ovelhas em três ataques realizados neste ano. O dono da fazenda de 180 hectares em que ele trabalha já pensa em desistir da produção.

“Não dá muito lucro. É uma coisa ou outra: ou é cachorro ou é abigeato. É complicado”, diz.

No Sul do estado, a situação se repete. Em uma fazenda de Pedras Altas, um produtor conseguiu evitar que ovelhas fossem exterminadas. Ficaram, porém, com muitos ferimentos.

A Associação de Proteção Ambiental de Teutônia mapeou os ataques na região. Só no ano passado, mais de 400 ovelhas teriam sido mortas por cães em Pedras Altas.

A hipótese do presidente da entidade, Vladimir da Silva, é que os cachorros se tornaram predadores depois de se perderem durante caçadas. “Essas matilhas de cães que atacam essas ovelhas acabam matando 14, 20 ovelhas de uma vez só”, supõe.

A criadora Cristina Soares Ribeiro se mudou de Pedras Altas para poder continuar a criação de ovelhas em Santa Vitória do Palmar, devido aos prejuízos.

“Muitos morreram, outros se perderam na propriedade, outros eu tenho sem orelha, todo mordido. E aí o que eu vou dizer pro meu comprador de carneiro, que vou entregar pra ele um carneiro sem orelha?”, questiona.

A Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e de Abigeato montou uma operação para combater os ataques. Um homem foi indiciado, suspeito de ser o dono de alguns desses cães.

“São animais que criados, muitas vezes, em situações muito complicadas”, diz André Mendes.

Polícia investiga ataque de cães a ovelhas no RS — Foto: Reprodução/RBS TV

Polícia investiga ataque de cães a ovelhas no RS — Foto: Reprodução/RBS TV

No entanto, alguns criadores reagiram espalhando veneno pelas propriedades, com o objetivo de exterminar os cães. “As pessoas, às vezes, se perdem um pouco, no afã de tentar resolver o problema. É um outro crime que a pessoa tá cometendo”, afirma.

Em Bagé, na Região da Campanha, a lojista Cláudia Brignol Hahn acredita que perdeu três cachorros adotados por ela devido a essa situação.

“Meus cachorros saíram na porteira, voltaram passando mal e morreram em minutos. Eu acho que deveria ser proibido ser vendido esse tipo de veneno”, critica.

A presidente do Núcleo Bageense de Proteção aos Animais, Patricia Coradini, explica os riscos que usar o veneno contra os cachorros traz.

“O animal agoniza, é um sofrimento muito grande. Além disso, corre risco também a função da saúde humana, porque, quando tu joga veneno no pátio dos outros, na calçada, tu corre o risco que crianças podem pegar”, ressalta.

Veneno vendido em agropecuárias uruguaias

 

O veneno usado para matar cães é vendido em agropecuárias uruguaias, na fronteira com o Rio Grande do Sul. Com uma câmera escondida, a RBS TV flagrou o comércio ilegal em uma loja de Rivera, ao lado de Santana do Livramento.

O proprietário reconheceu que o produto é proibido. “Aqui é proibido, lá na Argentina acho que é liberado”, reconhece o homem.

O veneno é utilizado por injeção em pedaços de carne espalhados pela propriedade. Segundo o diretor do Sindicato dos Médicos Veterinários, João Batista Pereira Junior, o veneno pode matar qualquer animal.

“A dosagem dele para animais, para saber o que seria tóxico, letal pro animal, é desconhecida. Então a gente não sabe se 1ml mataria um passarinho ou um elefante. Isso é bastante perigoso”, afirma.

Fonte: G1