Quase metade das cidades do RS registraram pelo menos um caso de estupro em 2019

Cerca de 44% dos municípios gaúchos tiveram ao menos um registro deste crime. Índice, no entanto, está em queda, já que em 2018 mais da metade das cidades gaúchas (50,7%) tiveram um registro ao menos.

O estupro é um dos crimes contra a mulher cujos índices estão em queda, conforme apontam os indicadores criminais apresentados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), na última semana.

Se, em 2018, foram verificados 1.712 casos em 252 cidades (50,7% dos municípios gaúchos), em 2019 este número caiu para 1.259 casos em 220 cidades. Em 12 meses, 453 mulheres foram poupadas da violência sexual, de acordo com o levantamento.

Ainda assim, 44,2% dos municípios gaúchos tiveram pelo menos um caso de estupro.

A maioria aconteceu em municípios populosos da Região Metropolitana de Porto Alegre, como Canoas (65), Alvorada (54) e Viamão (58), e na Capital, que teve 191 casos.

Em maio do ano passado, dois homens se tornaram réus após abusarem de uma mulher desacordada na Zona Norte de Porto Alegre e divulgarem o estupro pelas redes sociais.

Em Novo Hamburgo, dois casos ocorridos em um intervalo de 48 horas acenderam a preocupação na cidade, que teve 35 estupros em 2019. E em São Leopoldo, foram registrados 28 casos, entre eles, o de uma professora que denunciou o abuso em frente a uma escola.

No entanto, cidades pequenas do interior, como Tio Hugo, Caseiros, Itapuca, Faxinalzinho e Herveiras, com cerca de 3 mil habitantes, também apresentaram casos de violência sexual.

“A violência contra a mulher como um todo tem essa característica. Não tem local específico, como o homicídio ou o tráfico, que são mais ligados à questão econômica. E o estupro é uma das formas mais repugnantes de violência contra a mulher. É generalizado, é algo cultural”, diz a chefe da Polícia Civil do estado, Nadine Anflor.

A advogada Lisiana Carraro, doutora em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Feevale, concorda.

“A cultura é machista”, resume.

Por outro lado, ela considera este número muito alto, apesar da tendência de redução. Segundo Lisiana, a impunidade para este tipo de crime ajuda a criar uma sensação de insegurança por parte das mulheres e, ao mesmo tempo, facilitar a reincidência por parte dos agressores.

“Pode acontecer de as pessoas acharem que não vão ser punidas por não haver espaço nas penitenciárias. Ou que logo [vão] ser soltas em razão de não poderem ser mantidas nas delegacias”, afirma.

Aperfeiçoar acolhimento é desafio

A Polícia Civil possui 22 delegacias especializadas no atendimento à mulher para receber este tipo de denúncia. Além disso, existem sete ‘Salas das Margaridas’ em funcionamento para realizar o acolhimento de mulheres que sofreram algum tipo de abuso.

Para a chefe da polícia gaúcha, a identificação imediata do perfil do agressor é considerada essencial para proteger a vítima e as demais mulheres.

“O autor não comete um único delito. O maior trabalho é buscar a autoria e poder divulgar. É em série. E é marido, namorado, em casa também. O que nos preocupa é que, quando acontece na rua, se divulgue para que outras sejam poupadas.”

Outra medida implantada, segundo Nadine, é capacitar os policiais que atuam nas 44 delegacias do estado com plantões 24 horas para que atendam essas mulheres fora do balcão comum. O lema é “respeito e proteção”, pois, segundo a delegada, “parece que a história é sempre a mesma, mas cada mulher tem toda uma vida”.

Fonte: G1