Queima de arquivo seria motivo de assassinato em apartamento de Novo Hamburgo

Cinco pessoas foram denunciadas pela Promotoria por envolvimento na morte de João Victor Friedrich, 31 anos, que desapareceu em 6 de março.

A trama por trás do desaparecimento e morte de João Victor Friedrich de Oliveira, 31 anos, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, envolve uma queima de arquivo. É o que aponta a investigação da Polícia Civil, que serviu de base para a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP) contra cinco pessoas. Além dos três homens e duas mulheres denunciados no processo,  uma adolescente também responde pelo crime em procedimento separado.

 

Dono de uma empresa de consórcios, João Victor sumiu do apartamento onde viviam os pais da namorada dele, a adolescente de 16 anos, no início de março. Dentro do imóvel foram encontrados R$ 2,1 milhões e série de armas. Para a investigação, ele foi assassinado no local e depois teve o corpo ocultado em uma chácara, no interior de São Sebastião do Caí. A identificação do cadáver foi confirmada a partir de dois exames de DNA, realizados pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP).

Na noite do sumiço, João Victor e a menor teriam brigado em uma festa do município. Depois disso, retornaram para o apartamento da família dela. Durante a madrugada, no entanto, foi ele quem recebeu o sogro e um comparsa no acesso ao prédio. Logo após, já dentro do imóvel, acabou sendo morto com tiros pelas costas.

A apuração da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do município apontou os sogros da vítima e o comparsa, que também ingressou no prédio armado, como os autores do homicídio, além da namorada. A adolescente responde pelo crime em procedimento separado que já havia sido remetido à Justiça. Ela chegou a ser internada em uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo, mas atualmente está em liberdade.

Segundo o Ministério Público, o crime foi planejado como forma de garantir que  garantir que os denunciados ficassem com o dinheiro que acabou sendo apreendido e como “queima de arquivo”. Para isso, eles teriam se aproveitado do momento da briga entre a vítima e a namorada para cometer o homicídio. Ainda conforme a denúncia, quando foi atingido pelos tiros, João Victor estava desarmado. Os disparos, no entanto, alertaram os vizinhos, que chamaram a Brigada Militar. Quando a polícia chegou ao local, a adolescente e a mãe estavam no prédio.

O corpo de João Victor já havia sido retirado do imóvel pelo sogro e um comparsa. A movimentação foi descoberta pelas imagens registradas pelas câmeras de segurança. Eles usaram o elevador para transportar o cadáver até a garagem. O corpo foi mantido dentro do elevador enquanto a sogra cobria uma das câmeras de segurança. Ela também foi a responsável por limpar as manchas de sangue deixadas no chão do estacionamento.

Soldado Carlos Zoch / Brigada Militar/Divulgação
Dinheiro e armas apreendidos em apartamentoSoldado Carlos Zoch / Brigada Militar/Divulgação

Depois disso, o sogro e o comparsa seguiram com a ocultação. A Mercedes usada para transportar o corpo da vítima, dentro do porta-malas, tinha as placas clonadas. O veículo foi abandonado no município de Portão, onde foi encontrado queimado. O corpo de João Victor foi depositado em uma chácara de São Sebastião de Caí, onde seria localizado dias depois.

Outra mulher foi presa na semana passada por suspeita de ter auxiliado o sogro da vítima durante o crime, inclusive descartando em um matagal em Novo Hamburgo parte dos materiais — um edredom e um cobertor — que tinham sido usados para enrolar o corpo.  Atualmente ela está em prisão domiciliar. O terceiro homem, segundo a apuração, foi preso com o pai da adolescente em um estacionamento dias após o crime e teria auxiliado na ocultação de provas.

— A denúncia do Ministério Público segue a linha da conclusão do inquérito e confirma aquilo que apuramos ao longo desse período de investigação. Temos cinco pessoas presas (uma em domiciliar) o que também endossa as conclusões da polícia — afirmou o delegado Márcio Niederauer, da DHPP de Novo Hamburgo.

Estelionato

Sobre a origem do dinheiro encontrado dentro do apartamento, a apuração apontou que os envolvidos tinham relação com série de casos de estelionato. Os pais da adolescente possuem antecedentes por envolvimento em golpes.

Em depoimento, o pai da adolescente afirmou que ela teria atirado contra o namorado após ser agredida por ele e ele só escondeu o corpo. Os demais negaram participação no crime ou permaneceram em silêncio.

A denúncia

Os sogros e o comparsa, que ingressou armado no prédio, respondem por homicídio qualificado pelos motivos torpe, mediante dissimulação, por recurso que dificultou a defesa da vítima e para assegurar a ocultação, impunidade e vantagem de outros crimes. Os cinco foram denunciados por participação em organização criminosa armada com o objetivo de cometer crimes com o fim de obter vantagem financeira e que culminaram no homicídio.

Conforme a denúncia, os cinco se comunicavam por meio de vários chips de celular e utilizavam identidades falsas para não serem descobertos pela polícia. Ao longo da apuração, foram apreendidos mais de R$ 2,1 milhões (em reais e dólares), armas, munições, veículos usados para possível fuga, drogas, 118 celulares e chips, coldres, porta algemas e vestimentas da Polícia Rodoviária Federal. Também foram encontradas 30 placas de veículos (algumas com identificação da Câmara dos Deputados e do Senado), lacres de placas e documentos falsos.

A denúncia também descreve o crime de falsificação de documento público, pois o sogro de João Victor possuía três carteiras da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) falsificadas, com sua fotografia e nomes de outras pessoas. Eles também foram denunciados pelo crime de favorecimento pessoal, quando dois dos denunciados tentaram auxiliá-lo na fuga – eles foram presos em flagrante quando praticavam outros crimes —, além de corrupção de menor (pelo envolvimento da adolescente na morte do próprio namorado).

Os envolvidos

  • Pais da adolescente: teriam planejado e participado do assassinato do genro, além da ocultação do cadáver, entre outros crimes.O homem chegou a fugir da Delegacia de Homicídios, mas foi recapturado em Santa Catarina. Estão presos.
  • Comparsa: teria participado do assassinato e da ocultação do cadáver. Está preso.
  • Homem: preso junto do pai da adolescente, que se preparava para fugir. Teria auxiliado o pai da adolescente a se desfazer de provas do crime. Está preso.
  • Mulher: teria auxiliado no crime, transportando o pai da adolescente, e ajudando a se desfazer de provas. Presa na semana passada, está em prisão domiciliar por problemas de saúde.
  • Adolescente: responde em procedimento separado por participação na morte do namorado. Foi internada, mas está em liberdade.

Contrapontos

  • A adolescente afirmou inicialmente aos policiais que atirou no namorado durante uma briga.
  • O pai, após ser preso, alegou que o crime foi cometido pela filha e que ele somente escondeu o corpo.
  • A mãe decidiu permanecer em silêncio, assim como o comparsa preso.
  • A mulher presa na semana passada negou que soubesse do crime.
  • O outro preso não chegou a ser ouvido pela polícia.

Por que não publicamos os nomes dos denunciados?

GaúchaZH não identifica os denunciados por envolvimento no desaparecimento e morte de João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, em Novo Hamburgo, para preservar a identidade da adolescente de 16 anos. A preservação do nome de adolescentes infratores é determinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Entenda o caso

Fonte: Gaúcha/ZH