Respirador mecânico é adaptado para atender até quatro pacientes ao mesmo tempo em Canoas

Equipamento foi desenvolvido por um médico e dois fisioterapeutas. Inspirado em estudo da Universidade de Michigan, a medida foi pensada prevendo internações causadas pelo coronavírus.

Preocupados com o avanço da Covid-19 no Rio Grande do Sul, o médico Emmanuel Rath Bonazina e os fisioterapeutas Marcio Ramos Laguna e Andre Hoerbe Bacchin se uniram para criar uma solução que ampliasse a capacidade de atendimento em Unidades de Terapia Intensiva (UTI): uma adaptação nos respiradores capaz de atender até quatro pacientes com um único aparelho.

De acordo com boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde na segunda-feira (23), são 96 o número de casos confirmados de coronavírus no Rio Grande do Sul. Já o Brasil registra quase 2 mil infectados e 34 mortes.

De olho em como outros países estão lidando com a pandemia, os profissionais perceberam que a falta de respiradores é um dos problemas na hora de enfrentar o coronavírus. Envolvidos com a questão, os profissionais do Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, encontraram em um estudo da Universidade de Michigan, dos Estados Unidos, a solução.

O estudo, publicado em 2006, foi desenvolvido tendo como experiência acontecimentos como a tragédia de 11 de setembro e quando parte da Costa do Golfo dos Estados Unidos foi destruída por furacões. Portanto, em momentos onde houve uma alta no número de necessidade hospitalares.

Publicado por Greg Neyman e Charlene Babcock Irvin, o estudo fala sobre a adaptação do respirador mecânico que passaria a suportar pelo menos dois pacientes, podendo chegar a quatro em casos de extrema necessidade, e não só um como é de costume.

“Porque não tentar? Brasileiro sempre dá um jeitinho”, brinca Emmanuel.

O respirador mecânico é usado quando a pessoa perde a capacidade de respirar sozinha, ou seja, quando o cérebro não manda mais esse comando para o corpo. Então, o aparelho funciona como um pulmão artificial, respirando e fazendo as trocas gasosas pelo paciente.

Um dos sintomas da Covid-19 é a dificuldade respiratória.

“A gente fez isso com intuito de ajudar, como tem essa falta de respiradores, a gente já está imaginando nosso inverno aqui no Rio Grande do Sul. Sempre aumenta muito a demanda, e mais toda essa situação do coronavírus, a gente teve que começar a correr atrás e ver o que dava pra fazer”, explica.

Em situações extremas, a adaptação feita Emmanuel, Marcio e Andre poderia quadruplicar a capacidade de atendimento dos respiradores.

“O que a gente fez? Nas válvulas que envolvem a inspiração, a gente puxou as mangueiras que são conhecidas como traqueias e colocamos um Y na ponta dessas saídas – na inspiração e na expiração. E nesse Y, a gente puxou mais duas mangueiras para que a gente possa fazer mais um Y, e poder, assim, ventilar dois pacientes, para que eles possam respirar simultaneamente”, explica Emmanuel.

A adaptação, até o momento, não foi colocada em utilização pela equipe

Médicos de hospital de Canoas fazem alteração em respiradores para atender mais pacientes

Médicos de hospital de Canoas fazem alteração em respiradores para atender mais pacientes

O médico ainda esclarece que se trata de uma medida provisória, pois o ideal é que cada paciente tenha o seu próprio respirador.

“É uma medida perto de ser extremista, você tem que achar dois pacientes que tenham a respiração mais ou menos parecida ou parecido padrão respiratório, para que os parâmetros do respirador fiquem regulados como se fossem pra um só. Então, a respiração tem que ser muito parecidas ou igual”, esclarece.

Usar a adaptação em quatro pacientes é ainda mais radical, seria como a situação que passa a Itália, de acordo com Emmanuel.

“Creio que não chegaremos nesse ponto”, estima.

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

Fonte: G1