Uso de cheque no Brasil cai a cada ano

Evolução dos meios eletrônicos de pagamento tem mudado comportamento de clientes

uso de cheque
Empresários em lados opostospensação de cheques no Brasil. O fenômeno tem uma explicação elementar: a evolução dos meios eletrônicos de pagamento. Levantamento realizado pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) registra forte queda no uso do cheque. Em 2003, segundo a pesquisa, foram compensados 2,2 bilhões de documentos no país. No ano passado, o número de compensações, conforme a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, foi de 838 milhões de cheques. 

Dificilmente haverá reversão desse quadro. As novas tecnologias, segundo análise da Febraban, expandem a digitalização dos pagamentos por meio da ampliação das formas de pagamentos eletrônico. Dos 40,2 bilhões de transações financeiras efetivadas no ano passado em 2009, por exemplo, foram 23,6 bilhões, um total de 41% ocorreram pela Internet e 6% pelo celular, com o uso do aplicativo do banco. A tendência é de crescimento gradativo das operações eletrônicas em detrimento do cheque. 

Na avaliação do diretor adjunto de Operações da Febraban, Walter de Faria, o cliente bancário brasileiro tem mudado seu padrão de consumo ligado a produtos, e os serviços financeiros têm acompanhado a evolução tecnológica dos meios de pagamento. Em 1995, a compensação de cheques foi extraordinária: mais de 3,5 bilhões de cheques no país. Mas aquele era um tempo de investimentos pequenos do setor financeiro em Tecnologia da Informação (TI). Naquele ano, a Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) lançou a Internet no Brasil, com acesso discado (linha telefônica). Não havia redes sociais e o país encerrou 1995 com estimados 120 mil internautas.

O poder do cheque como meio principal de pagamento começou a declinar, de forma mais enfática, a partir de 2001, aponta a pesquisa. Na metade dos anos 1990 o expressivo uso do cheque levou a indústria de TI a produzir máquinas eletrônicas de preenchimento, recorda o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Gustavo Schiffino: “Era comum então lojas fazerem vendas de 10 a 12 prestações com cheques pré-datados”. 


Cartões sufocam a sobrevivência 

Maior banco gaúcho em número de clientes (3,8 milhões de correntistas) e sétimo no Brasil em agências (523), o Banrisul também registra queda acentuada do uso de cheques. Em 2007, foram compensados 229,438 milhões de cheques do banco, informa o gerente da Unidade de Negócios, Helio dos Santos Júnior. Em 2013, a compensação foi de 57,861 milhões de documentos  uma diminuição de 74,78%.

No sentido inverso, aumentou o valor médio do cheque emitido devido ao valor mínimo para compensação em 24 horas ter passado para R$ 300. Mas, no Banrisul, o tíquete médio do cheque é bem mais elevado: R$ 1,1 mil, afirma o analista de Negócios Carlos Ortiz. Conforme Helio dos Santos, o incremento das operações de débito em conta e o maior uso dos cartões de crédito e débito sufocam, a cada dia, a sobrevivência do cheque. Mesmo assim o Brasil cita o gerente é o segundo país onde mais se utiliza o cheque, atrás somente dos Estados Unidos. 

Há 20 anos, o cheque era fundamental para o segmento da gastronomia. Hoje, são raros os estabelecimentos que ainda o aceitam, observa o presidente do Sindicato da Gastronomia de Porto Alegre (SindPoA), Henry Chmelnitsky. “Em países da Europa e nos EUA, o cheque é respeitado e usado, mas no Brasil, infelizmente, é fator de risco, construído pela sociedade”, argumenta. 

Um segmento no qual o cheque ainda transita bem é o de móveis, assinala o presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV), Vilson Noer. Nas grandes cidades, o cartão é preferencial, entretanto no Interior o cheque ainda preserva uma grande utilização. “Sua participação se posiciona entre 10% e 15% dos meios de pagamento e os cartões, 55%”, informa Noer.

Empresários em lados opostos


Há uma década, o cheque foi banido do hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, nos recebimentos e pagamentos. Conforme adiantou o diretor superintendente da Rede Plaza de Hotéis, Carlos Henrique Schmidt, “nossos clientes não são usuários de cheques”. Mas sinalizou que há uma exceção a essa regra, em que o cheque é tolerado: a área de festas e casamentos. Fora isso, a aceitação pode ocorrer apenas em situações excepcionais e, sempre, de pessoas conhecidas ou cadastradas. Praticamente 100% das operações financeiras da Rede, formada por sete hotéis entre o Rio Grande do Sul (2), Santa Catarina (4) e Bahia, são executadas via cartão, explica Schmidt.

Mas nem todos os empreendimentos excluem o cheque. Há um caso que está no extremo oposto da Rede Plaza. O empresário Gilmar Candido (Restaurante Candido’s) não aceita cartão sob nenhuma hipótese. Tem sido assim nos 26 anos de existência do seu estabelecimento. Suas fontes de pagamento e recebimento são cheque e dinheiro. “Há 18 anos não entro em banco nem em shopping e não tenho telefone celular”, gaba-se Candido. 

Os cheques recebidos em seu restaurante são usados como moeda na compra de peixes, vinhos, bebidas e demais insumos necessários para o funcionamento da casa. 

Nos postos de gasolina, por sua vez, o cheque saiu de circulação a partir de 2010, observa o presidente do Sindicato do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Sulpetro/RS), Adão Oliveira. “Praticamente quase nenhum posto trabalha com cheque. Para o setor, acabou o risco de calote com o fim do cheque.”

Dicas


 Emita sempre cheques nominais cruzados

• Ao preencher cheques, elimine espaços vazios, evite rasuras

• Controle seus depósitos e retiradas no canhoto, inclusive as realizadas com cartão

• Evite circular com talões de cheques nas bolsas ou pastas. Leve apenas a quantidade de folhas que pretende utilizar no dia a dia 

• Quando receber um novo talão, confira os dados referentes ao nome, número da conta corrente e CPF e a quantidade de folhas do talonário

• Tome o máximo de cautela na guarda dos talões. Destaque a folha de requisição e mantenha-a em separado

• Nunca deixe requisições com cheques assinados no talão

• Destrua os talões de contas inativas

• Separe os cheques de qualquer documento pessoal

• Não utilize caneta com tinta hidrográfica ou com tinta que possa ser facilmente apagada

• Evite caneta oferecida por estranhos
 
Fonte: Correio do Povo