A fé que superou provações e deu uma segunda chance na vida de Cátia Mariz Silveira

Cada batida do coração de Cátia Marlene Mariz Silveira daqui para frente é uma linda história sendo contada. Relembramos seguidamente nosso primeiro dia de vida, mas nos recusamos pensar sobre como será o último. A maioria das pessoas sabe o exato momento em que nasceu. Dia, hora e local. Há os que se interessam e vão mais a fundo, descobrindo, inclusive, como os astros estavam alinhados naquele exato instante. É nesse dia que planos, sonhos e expectativas começam a ser traçados. Ano após ano, essa data se transforma em um dos acontecimentos mais celebrados de nossas vidas, nosso aniversário. Cátia passou por uma cirurgia cardíaca e descreveu sobre a falta de cuidado na infância, perdas, Fé e tudo que aconteceu, inclusive a experiência de ter um médico espírita em sua vida. Isso a fez ter um olhar muito mais belo a cada amanhecer.

“O que mais mexeu comigo foi ler que uma das consequências da minha doença, era morte súbita. Ouvi do médico que eu poderia morrer a qualquer momento, até mesmo dormindo, isso me deixou emocionalmente muito abalada, mas jamais perdi minha Fé – destaca Cátia Marlene Mariz Silveira. A carioca que reside há mais de 27 anos em Alegrete, concedeu uma entrevista ao PAT depois de passar por uma cirurgia cardíaca em Belo Horizonte, um dos centros de maior referência no País.

A história de Cátia é mais uma grande lição de vida e de Fé. Aos 48 anos, ela descobriu que estava com um problema grave no coração, porém, o mais incrível é que nasceu com a doença e a perspectiva de vida para quem não faz a cirurgia quando bebê é de no máximo quatro anos.” O meu médico, cirurgião cardíaco disse que nunca atendeu uma paciente com o meu problema e a minha idade, por esse motivo eu já sou um milagre.” – descreveu.

O problema de saúde

Há um ano, Cátia estava trabalhando, ela é agenciadora de imóveis, quando sentiu um mal estar muito forte. Foi o tempo de dizer para colega que não estava bem e chegar no HGUA. Naquele dia, sua vida teria uma mudança significativa. De imediato, chamaram DR Boemo(cardiologista), que já disse que ela teria que fazer alguns exames, mas que pelo que tinha avaliado ela teria uma abertura no átrio, o que implicaria em uma cirurgia.

Cátia ressalta que nunca teve sintomas, apenas estava sentindo mais cansaço nos últimos dias e, a pressão arterial teve alteração(subiu). Mas ela imaginava que era em razão do stress, ou algo assim, pois sempre foi atleta e teve uma rotina bem agitada.

Ouvir que estava com problema cardíaco já foi um susto. “Meu pai era coronel do Exército, sempre tivemos condições financeiras pra ir ao médico, pra tudo. O que aconteceu é que minha mãe faleceu quando eu tinha quatro meses, depois vieram cinco madrastas, entretanto, elas não tinham muito interesse em se preocupar com os filhos e sim com o que poderia desfrutar do dinheiro do meu pai. Com isso, só íamos no médico em casos extremos o que era bem raro. A explicação do médico foi de que eu nasci, com o chamado sopro no coração e quando não é tratado, feito a cirurgia, ele se torna um buraco e a perspectiva de vida é no máximo até os quatro anos. Pois o sangue bom acaba misturando com o ruim, isso vai para o pulmão e se ocorre o rompimento, o sangue vai para cabeça e gera o AVC, morte súbita” – explicou.

O diagnóstico

Depois do mal estar, e dos exames, veio a confirmação e a indicação de uma cirurgia urgente para colocar uma prótese. Como tem Fusex, Cátia fez todo o encaminhamento e iria fazer a cirurgia em Porto Alegre. Mas no dia em que chegou para fazer o procedimento soube que tinha sido autorizada uma prótese errada. Ela novamente fez toda documentação e foi para Belo Horizonte. “Essa indicação, hoje eu sei que foi por Deus. Não só por ser um hospital de uma referência nacional, mas pelo que aconteceu comigo e o meu cirurgião. A sintonia e o que ele fez por mim, é a razão de estar falando com você agora” – comentou.

A espera

Desde o diagnóstico de que estava com um “buraco” no átrio até a cirurgia se passaram mais de 11 meses. Para Cátia, esse foi o período mais complicado, pois saber que poderia ter morte súbita a deixou fragilizada. “ Eu, por muitas vezes chorei muito, com receio, mas sempre tive amigos verdadeiros, pois não precisamos ter muitos, somente àqueles que te dão o amparo necessário no momento delicado e, isso eu tive. Muitas vinham dormir aqui em casa, outras cozinhar, tive amigas que me faziam sair para passear, tudo para que eu não me deprimisse mais ainda” – lembrou.

A cirurgia

No dia 4 de janeiro deste ano, Catia realizou a cirurgia em Belo Horizonte. Um dos filhos a acompanhou. Ela conta que foram seis horas. Nesse período perdeu muito sangue, fez transfusões e saiu do bloco para a UTI, onde ficou por uma semana. Depois de 12 dias, ela estava no quarto quando o cirurgião entrou e disse que em menos de duas horas ela iria novamente para o bloco cirúrgico fazer mais uma cirurgia, desta vez, para colocar um marca passo.

Cátia ressalta que neste momento desabou, começou a chorar e disse para o médico que ela tinha almoçado, como iria fazer anestesia geral, que não queria colocar um marca passo, ela estava ali para que eles tivessem resolvido o problema no coração e eles não o fizeram. Então, ouviu algo que a marcou muito: o cirurgião, Dr Dielson Sampaio, a olhou e disse que ele estava incumbido de realizar aquele procedimento. “ O médico olhou em meus olhos e perguntou se eu tinha Fé, se já  tinha ouvido falar em Bezerra de Menezes, Chico Xavier entre outros que ele citou. Quando respondi que sim, foi que entendi, além de ser um excelente cirurgião também era espírita.

Se eu não fizer essa cirurgia, talvez, na próxima vez você não esteja aqui, falou. Eu tive três paradas cardíacas, que eles acompanharam e meu coração não estava pulsando, ele tremia, por esse motivo o marca passo, além dos eletrochoques necessários pois houve uma rejeição inicial. Entretanto, eu não senti nada durante a cirurgia, nada senti de desconforto” – falou.

Outro fato que intrigou os médicos foi que ao abrir o peito de Cátia, eles perceberam que ela tem duas veias a mais no coração, o que para eles é algo raro e motivo para estudos.

A recuperação

O período total foi de mais de um mês em Belo Horizonte. Nesta período também ocorreu uma enchente e que foi uma das maiores, destruiu casas, matou muitas pessoas. Isso tudo também era uma apreensão para Cátia, pois o filho estava com ela e toda vez que ele saia, a preocupação era inevitável.

Cátia por diversas vezes se emocionou ao mencionar todo carinho e atenção do filho e das pessoas próximas que realmente foram importantes. A dor, é muito forte, ela recorda que muitas vezes ficou acordada pois não queria pedir mais medicação, além da morfina que já havia tomado. A razão, segundo ela, era para não demonstrar que ainda estava com dor para conseguir dar alta. “ Meu filho é Uber em Florianópolis, ele abandonou tudo pra ficar comigo, mas eu sabia que também estava sendo penoso aquele período todo. Queria vir pra minha casa. Então eu orava muito, até a dor amenizar “ – completou.

O retorno

Quando nos recebeu, fazia uma semana que tinha retornado, Cátia estava acompanhada de Hany a cachorrinha da raça Shih tzu e sua grande parceira. Ela ainda sentia muita dor, mas tinha deixado de tomar morfina, estava apenas com ibuprofeno. Além de todos os demais medicamentos que vão acompanhá-la sempre a partir de agora.

Durante a entrevista, a Cátia disse que depois dessa experiência, tudo na vida tem um significado diferente. Ela ressalta que é inevitável não colocar em uma peneira e deixar apenas aquilo que realmente importa, as pessoas, amizades e tudo que faz parte do dia-a-dia.

” Eu era “maniática” com a casa, passava limpando, tinha pressa para algumas coisas. Hoje, vejo que ter um bom amigo, o amor das pessoas que amamos é o que mais nos engrandece. Até mesmo a comida tem outro sabor, o olhar para a vida muda, pois não sei quanto tempo mais eu tenho aqui.

Tenho que fazer uma avaliação a cada seis meses, vou realizar a troca da bateria do marca passo a cada sete anos, porém, não há um tempo pra nada. Ouvi do meu médico no dia que eu estava chorando, depois da primeira cirurgia, que já tinha mais de 40 anos de lucro e de uma vida totalmente saudável que é inexplicável pra eles, até porque tive meus dois filhos de parto normal, o que poderia ter provocado o rompimento da membrana do coração. Eu sempre levei uma vida normal sem nenhum cuidado e era uma bomba relógio que poderia morrer a qualquer minuto”- desabafou.

Por esse motivo, Cátia disse que vive um dia por vez, perdeu o medo de tudo e agradece a Deus pela segunda chance. Assim como o médico(cirurgião), falou, ela tem duas datas de nascimento, uma delas é dia 4 de janeiro.

Lembranças

“Como eu perdi minha mãe ainda bebê, sei que ela não poderia engravidar devido a uma pancreatite, mas ao saber da gestação, minha mãe se sacrificou por mim. O médico disse que se ela mantivesse a gestação era quase certo que não iria resistir. Por esse motivo, eu sempre li muito, sobre espiritismo tentando compreender a perda dela. Isso também me ajudou muito. Talvez tenha sido esse o motivo da minha sintonia com o meu médico(cirurgião) que falou no Bezerra de Menezes, Chico Xavier. Que ele havia recebido uma “ordem” para me levar ao bloco cirúrgico mesmo em uma situação totalmente atípica e que não se faz um procedimento com anestesia geral. Tudo saiu muito bem, e com as paradas cardíacas que eu tive depois da primeira cirurgia em que coloquei a prótese, talvez não fosse resistir se não colocasse o Marca passo. Isso tudo parece loucura, mas é divino”.

Com isso, a mãe do Hélio Augusto, Gilberto e Adriana, terminou a entrevista descrevendo o quanto é indispensável que os pais tenham atenção com os filhos, que os adultos que tenham casos de pessoas com problemas cardíacos se cuidem façam check-up.”Eu nasci apenas com um sopro que deveria ter sido corrigido naquela época, tenho muita sorte de estar aqui”- concluiu.

 

Quando estava retornando para casa, o filho deitou a cabeça em seu ombro e disse que iria dormir um pouco. “Deu né mãe, agora está tudo bem.” – ele disse à Catia. Nesse momento ela mais uma vez se emociona, recorda que postou em seu perfil a foto do filho no aconchego do seu ombro e descreveu – meu guerreiro se entregou, pois vencemos.

 

Flaviane Antolini Favero